Alunos que convivem com parentes do grupo de risco encaram dificuldades de aprendizagem sem poder voltar às aulas presenciais - Revista Esquinas

Alunos que convivem com parentes do grupo de risco encaram dificuldades de aprendizagem sem poder voltar às aulas presenciais

Por Isabela Tumolo e Isabela Rosenbaum, alunas do projeto Redação Aberta #1* : maio 28, 2021

Estudos mostram que ensino presencial coloca em risco a saúde de profissionais da educação, estudantes e seus familiares

Mesmo com a retomada das aulas presenciais de diversas escolas em setembro de 2020, muitos alunos não voltaram às escolas até hoje. Por possuírem comorbidades ou viverem com pessoas do grupo de risco, esses estudantes se veem engessados em relação à melhora de seu ensino durante a pandemia.

“Faz falta ir à escola”.

Esse é o caso da aluna de 17 anos Clara Lopes, que acredita que seu aproveitamento escolar não é o mesmo: “Comparado com o ano passado, meu estudo decaiu. Eu consigo entender a matéria, mas não é aquele ensino que você consegue absorver direitinho.” A vestibulanda contou que um dos motivos para não ter voltado às aulas é a convivência com pessoas do grupo de risco. Por seus pais serem separados, a estudante visitava o pai quinzenalmente antes da pandemia. Hoje em dia, além do cuidado redobrado e intervalos mais longos entre as visitas, a hipótese de frequentar aulas presenciais é inexistente, não só pelo medo de se contaminar, como também de contaminar seu pai, que é do grupo de risco.

Uma pesquisa feita pela Escola de Saúde Pública Johns Hopkins, nos Estados Unidos, mostra que os familiares de estudantes que estão frequentando a escola presencialmente durante a pandemia da covid-19, tem 30% a 47% mais chance de pegar a doença do que parentes de alunos que permanecem em casa.

Aulas presenciais ou EAD?

O caso de Clara não é isolado. Georgina Tumolo vive com a mãe idosa e a filha estudante, que está com dificuldades no aprendizado. Por mais que se dedique, a produtividade e o resultado não são os mesmos. Além disso, a mãe alega que um dos principais motivos pelos quais a aluna não voltou presencialmente é a presença da senhora de 89 anos em casa. Além da insatisfação denunciada por estudantes e seus pais, profissionais da área da educação reconhecem que o ensino a distância na pandemia não está sendo aplicado da forma mais adequada.

georgina aulas presenciais

Georgina Tumolo percebe a dificuldade de sua filha vestibulanda com as aulas a distância.

Segundo Rodrigo Ratier, professor da Faculdade Cásper Líbero e Doutor em educação, ao contrário do que muitos pensam, o método aplicado na maioria das escolas não é o EAD. O ensino a distância é constituído por vídeos, exercícios e diálogos, mas as aulas nesse período se assemelham muito às pré-pandêmicas. Com a alta demanda e muita exposição de conteúdo, os alunos se sentem menos dispostos e motivados para estudar online.

Medidas de proteção para aulas presenciais

O retorno às aulas presenciais é um agravante para o aumento do número de casos da covid-19 em regiões em que a vacinação ainda não está avançada. Para preservar a segurança tanto dos estudantes quanto de seus familiares em casa, é preciso aplicar medidas preventivas em conjunto. São elas: uso correto de máscara, distanciamento social, não compartilhar materiais pessoais entre os alunos, turmas reduzidas em 30%, e, é claro, triagem diária dos sintomas de todos os presentes na escola.

Mesmo com diversas pesquisas provando o perigo de se ir presencialmente à escola, muitos pais e responsáveis legais obrigam os jovens a voltarem às escolas e profissionais também precisam se expor. “Minha filha é professora e é obrigada pelos diretores a ir trabalhar presencialmente todos os dias. Isso me preocupa muito, mas pelo menos nós já estamos vacinadas. Alguns pais insistiram para a escola abrir novamente para deixarem os filhos lá enquanto vão trabalhar ou descansar”, alega uma idosa já aposentada de 75 anos que prefere não se identificar.

De acordo com a mesma pesquisa da Johns Hopkins, foi comprovado que professores e profissionais da educação que precisam trabalhar presencialmente têm chance 80% maior de serem contaminados pela covid-19 do que se permanecessem em casa em home office. “Não são só os professores em risco. Têm as atendentes, merendeiras, todo esse pessoal que ainda não foi vacinado. Uma professora tem uma sala de aula, já a merendeira tem a escola inteira”, diz Márcia Speranza, bióloga e professora da Universidade Federal do ABC.

Segundo a especialista, o ideal neste momento em que o Brasil tem cerca de 16,2 milhões de casos de covid-19 seria fechar as escolas e permanecer com o ensino a distância até que uma boa parte da população estivesse devidamente vacinada. “A gente está numa situação muito difícil. E aí o que a gente faz então? Eu acho que temos que cobrar muito do governo”, denuncia Márcia.

*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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