Professora e estudantes relatam as dificuldades de relacionamento e aprendizado geradas pelo isolamento social
Com a pandemia de covid-19, as escolas fecharam e tiveram de se adaptar ao ensino à distância. Para além das consequências geradas no aprendizado, intensificado em escolas públicas devido à falta de recursos, o desenvolvimento pessoal e as relações interpessoais também foram impactadas. O retorno à rotina presencial colocou isso em evidência. O contato diário com colegas de classe, professores e demais pessoas revela uma nova realidade em sala de aula.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ayrton Senna com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em 2022, 70% dos estudantes revelaram ter algum nível de ansiedade e depressão, além da defasagem nas disciplinas escolares. As séries escolares que mais sofreram nesse tempo foram justamente a passagem de ciclo escolar, ou seja, de quem saiu do Ensino Fundamental I para o ll e de quem chegou ao ensino médio neste período. Isso porque muito conteúdo foi perdido e, além da adaptação a um novo método de ensino, teve a adaptação para aulas online que exigia comprometimento dos alunos.
Isabella Pereira, 16 anos, é estudante do ensino médio e notou que “depois de passar quase dois anos tendo aula e jogando, vendo séries e dormindo, passei a ter mais dificuldade para colocar minha atenção nas aulas”, diz. Sobre o retorno das relações com o convívio social, ela afirma que ainda tem dificuldades: “Me tornei mais tímida e ansiosa, com maior dificuldade para falar com pessoas que não conheço”.
Há vários casos como o da estudante no país. Exemplo disso é Mayra Clara, 18 anos, que sentiu as mesmas consequências: “Tenho problemas de concentração e retenção de conteúdo”. Mayra também sentiu o impacto da pandemia e do isolamento social no que diz respeito ao seu relacionamento interpessoal. A universitária afirmou que enfrenta diversos problemas psicológicos, como ansiedade e, com isso, não consegue lidar bem com as pessoas em seu cotidiano.
As dificuldades enfrentadas por Isabella e Mayra são observadas diariamente por Solange Ramos, 38 anos, professora da educação infantil da Prefeitura de São Paulo, mas em um público mais jovem. “Os alunos estão mais dispersos, impacientes, ansiosos e mais sensíveis”, diz Ramos, que aponta a dificuldade na fala, na coordenação motora e no retorno as práticas de socialização das crianças após o período de isolamento.
Dentre as medidas tomadas para tentar solucionar essas questões, Ramos, que trabalha com educação há 18 anos, menciona o Projeto Político Pedagógico (PPP). Ele é realizado no início do ano e tem como função refletir e organizar projetos que ajudem no desenvolvimento da criança de acordo com a necessidade da escola e dos alunos em cada ano. Segundo ela, o projeto gera resultados de forma gradativa.