Especialistas da educação e da saúde falam sobre o retorno das aulas presenciais. Mães relatam suas experiências e opiniões
É março de 2020, o então recente coronavírus começa a assustar. No mesmo mês, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde declara estado de pandemia mundial. O mundo para. Do dia para a noite tudo fecha, inclusive as escolas. Depois de 18 meses, o Brasil registra, aproximadamente, 595 mil mortes. 145.528.074 brasileiros e brasileiras receberam ao menos uma dose da vacina contra o coronavírus segundo dados fornecidos pelas Secretarias Estaduais de Saúde (informações atualizadas em 29/09/2021).
As aulas presenciais nas escolas de todo o país retornaram, mesmo que de forma opcional. Porém, a vacinação no Brasil abrange somente a população com mais de 12 anos, fator que gera dúvidas em pais e responsáveis. Para alguns, enviar seus filhos à escola é algo impensável, para outros, uma realidade não tão distante.
“Está sendo muito importante o retorno das aulas, as crianças ficaram muito ansiosas durante a pandemia, a minha filha por exemplo ficou bastante agressiva e ir para a escola, ressocializar com as crianças está sendo muito importante para ela retomar a calma e a serenidade”, relata Beatriz Andreoli, 39 anos, advogada e mãe da Carolina, de 4. Antes de tomarem a decisão, ela e seu marido avaliaram, junto da escola, os protocolos de segurança para se sentirem mais confortáveis.
Priscila Lima Fontes, pedagoga e coordenadora da escola particular de ensino infantil Centro Recreativo Infantil, acompanha o retorno presencial de perto e acredita que a volta às aulas está sendo muito positiva. Apesar disso, ela aponta empecilhos: “A única dificuldade que eu percebo é o uso correto da máscara e o distanciamento social, é muito difícil para as crianças”, relata.
“Só vou mandar minha filha para a escola quando ela estiver vacinada e a pandemia controlada”, diz Andrea Di Vanna, 44 anos, fisioterapeuta e mãe de Vivian, de 3 anos. Vivian possui apenas um rim, sendo do grupo de risco da doença. Como ainda não chegou na idade obrigatória da escola, Andrea não a matriculou em nenhuma instituição, nem de forma remota. Mas, a pequena recebe aulas particulares de artes, música e educação física. “Eu sei que os estudos e o convívio social são essenciais, mas isso a gente recupera mais pra frente, já a vida da minha filha não”, relata a fisioterapeuta.
Rodrigo Ratier, professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e doutor em educação pela Universidade de São Paulo, acredita que o retorno, mesmo de forma precária, tem sido proveitoso para as crianças. “Seria melhor voltar com todo mundo vacinado, inclusive os alunos e alunas. Agora, eu não tenho dúvidas de que esse retorno, ainda sem vacina, é muito proveitoso, sobretudo para os pequenos”, avalia. Para ele, a educação infantil possui disciplinas diferentes, como movimento, autoconhecimento do corpo e, principalmente, o convívio social. “Ainda que elas não possam se abraçar, se tocar, brincar mais livremente, o estabelecimento de regras são aprendizados muito grandes”, atesta Ratier.
Já para Márcia Aparecida Esperança, formada em biologia pela Universidade de São Paulo e que atualmente faz parte do núcleo de monitoramento e testagem de SARS-COV 2 na comunidade Universidade Federal do ABC, o ideal seria que as crianças voltassem para as escolas somente após a vacinação. “É um risco que vai se correr por negligência não das pessoas, não das escolas, mas sim do governo que não está ajudando em nada”, afirma a bióloga. Para ela, as escolas não deveriam ter voltado, mas já que o fizeram, deveriam ter melhores cuidados, como a testagem em massa, por exemplo. Apesar de não achar certa a volta às aulas presenciais, Esperança pondera: “É difícil dizer em certo ou errado, porque tem outras questões envolvendo as crianças, os pais que têm de trabalhar”.