Estudantes de Etecs falam sobre os obstáculos que tiveram que superar para realizar um curso técnico presencial de maneira remota durante a pandemia da covid-19
As 223 Escolas Técnicas Estaduais de São Paulo (Etecs) oferecem mais de 210 cursos voltados para todos os setores produtivos, públicos e privados. Em 18 de Março de 2020, as aulas foram suspensas devido à pandemia da covid-19. De acordo com informações disponíveis no site do Centro Paula Souza, instituição do Governo do Estado que administra as Etecs, essa suspensão tinha como objetivo evitar aglomerações e reduzir o volume do transporte público, prevenindo a disseminação do novo coronavírus e evitando a sobrecarga do sistema de saúde.
Com a paralisação das aulas presenciais nas Etecs, foi uma questão de tempo até que as aulas remotas fossem adotadas e os estudantes pudessem seguir com seus estudos, porém, realizar um curso presencial de maneira remota durante uma pandemia não é uma tarefa fácil.
De acordo com Rodrigo Pelegrini Ratier, professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (FE-USP), a forma de dar aula mudou: “Fazer uma aula online e uma presencial é totalmente diferente, sendo as disciplinas práticas as mais afetadas em termos de aprendizagem”. Ainda de acordo com o especialista, tudo isso apresenta um grande prejuízo para a educação.
O estudante Tarcisio Nunes Ortega, de 17 anos, cursou edificações na Etec Itaquera II entre 2019 e 2020, realizando a maior parte do último semestre do curso de maneira remota. Segundo ele, não foi fácil se adaptar a toda essa mudança: “no começo eu senti dificuldades tanto para aprender a usar as ferramentas disponibilizadas pelos professores, quanto para conseguir um desempenho semelhante ao que eu tinha quando as aulas eram presenciais”, disse o aluno. Para solucionar esses problemas, Tarcisio começou a assistir tutoriais no YouTube para se adaptar ao estilo das aulas e contou com a ajuda de outros alunos para melhorar seu desempenho, mas mesmo assim, ele acredita que não obteve o mesmo resultado que atingiria presencialmente.
Em relação à saúde, o entrevistado contou que ficava exausto e sentia sua vista cansada após passar horas na frente do computador, e isso o atrapalhava até mesmo fora das aulas, apresentando maior dificuldade para estudar. “Não realizei nenhum exame após ou durante o curso, mas acredito que minha vista ficou mais debilitada do que estava anteriormente”, disse o estudante.
Segundo Márcia Aparecida Sperança, professora na Universidade Federal do ABC e doutora em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro pela Universidade de São Paulo (ICB-USP), a pandemia no Brasil está descontrolada desde o início, o que é um fato muito difícil de lidar, pois, além de ameaçar a saúde física, a saúde mental dos brasileiros também foi afetada. “A pandemia é um impacto na saúde mental de todos os brasileiros, desde os que se isolaram até os que tiveram que se manter ativos devido à essencialidade de seu trabalho”, constatou a doutora.
Para Luma Alves de Almeida, que tem 16 anos e cursa nutrição e dietética na Etecs Getúlio Vargas, localizada na zona sul de São Paulo, a saúde mental e física são coisas muito importantes que ela busca sempre preservar, então, ao perceber que estava muito cansada e com dores no corpo devido às horas que passava sentada na frente do computador, Luma achou caminhos para preservar sua saúde: “ nos finais de semana eu evito o máximo o celular e computador, todo dia eu tiro um tempo pra fazer algo que me acalma, como artesanato, tocar, cantar e pratico atividade física todos os dias”.
Apesar das dificuldades relatadas por Luma, como o fato de se sentir “perdida” na plataforma e na matéria, a estudante conta que existem pontos positivos em toda essa situação: “você tem tempo para ler artigos, pesquisar mais sobre os assuntos abordados na aula e fazer cursos para a sua evolução na carreira.”
Mesmo com cursos diferentes, as histórias de Luma e Tarcisio se cruzam quando o assunto é aulas práticas, pois o currículo de ambos os cursos contam com as mesmas. Luma diz que ficou “triste e um pouco decepcionada” por estar realizando essas aulas de maneira remota e não prática, enquanto Tarcisio relata que se sentiu descontente com essa situação. “Eu cursava uma matéria chamada Tecnologia dos Materiais Aplicada à Construção Civil, cerca de metade das aulas dessa matéria eram pra ter sido realizadas em laboratório… No entanto, com as aulas online apenas estudamos informações teóricas apresentadas em slides”, diz o estudante, que ainda complementa: “eu sinto que não obtive o mesmo conhecimento que as aulas práticas me proporcionariam, pois é difícil de conseguir assimilar virtualmente informações que foram planejadas para serem aprendidas na prática.”
* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.