Escolas municipais, beneficentes e privadas lutam contra questões financeiras, pedagógicas e alimentares durante quarentena
Patricia Francisco, diretora da creche municipal Centro Educacional Jardim Araruama, em Cotia, interior de São Paulo, disse que o prefeito da cidade tem seguido as ordens do governador João Doria e, portanto, a partir do dia 23 de março a escola esteve totalmente fechada.
A creche atende 140 crianças de periferia de 0 a 5 anos, grande parte delas habita moradias precárias. Dadas as condições atuais, a situação aflige a diretora, que tem de lidar com questões delicadas, desde a comunicação com alguns pais analfabetos até a situação alimentar das crianças. “Não estamos alheios a isso. Primeiro há a responsabilidade com a educação, que é uma coisa que gostamos e acreditamos muito”, afirma Patricia.
A preocupação com a alimentação das crianças se deve ao fato de que muitas delas tinham suas refeições na creche. A diretora diz que o cuidado com a comida, que é balanceada, não ocorre nas casas, “muito por conta das dificuldades enfrentadas pela comunidade”, explica.
Para suprir a necessidade do contato presencial, as professoras preparam materiais para os alunos via internet. A fim de atender aqueles que não têm acesso, há entregas de materiais para cada aluno, juntamente com kits merenda e cestas básicas para ajudar as famílias.
A diretora também se preocupa com o calendário que não está sendo cumprido, principalmente em relação às festas que geram arrecadações e diversão. “Como a festa que ocorre na Semana da Criança, dia esperado por várias delas”.
“Estamos preocupados com a saúde, mas também com a volta da normalidade. Com tudo cancelado, nós vamos conseguir fazer a festa das crianças? É um momento especial para elas. É de sonhos que estamos falando. Parece bobeira, mas não é, para eles é muito importante”, afirma Patricia.
Em Guarulhos a situação não é diferente. A creche beneficente Joana D’Arc, que possui convênio com a prefeitura, encontra as mesmas dificuldades, agravadas pela questão orçamentária, pois a verba da prefeitura não repassa o necessário para a manutenção da mão de obra. Para isso, são realizados eventos beneficentes e o primeiro deles, que ocorreria em maio, teve de ser cancelado.
Essa situação aflige a dirigente Leila Mantovani: “A falta de arrecadação pode gerar problemas futuros”. Por enquanto ainda não houve nenhum corte de salário ou demissão, mas o prolongamento da quarentena preocupa a responsável, que diz fazer de tudo para que isso não ocorra. Apesar da queda de doações, a creche continua recebendo auxílio daqueles que Leila chama de “anjos da guarda”. “Temos a certeza e a esperança de que não vamos parar porque temos esses anjos da guarda ao lado.”
Em meio à atual situação e seguindo as determinações da prefeitura, a programação da creche não está sendo presencial, mas as ações assistenciais não pararam. A instituição realiza plantões e entregas de cestas básicas para as famílias, sempre evitando aglomerações. Junto com as cestas, os responsáveis recebem atividades, como massinha de modelar e giz de cera para entreter os pequenos, já que a creche atende 243 crianças de 0 a 3 anos.
Nessas entregas, eles aproveitam para conscientizar a população sobre medidas de proteção. “Muitos moram em cômodos de dois por três metros com cinco, seis pessoas. Buscamos fazer o possível na orientação”, diz Leila. “Pedimos a Deus que abençoe. Além disso, não tem muito o que fazer”, completa.
A rede privada de educação também não está imune aos efeitos da crise. Ainda em Guarulhos, a escola E.E.I O Pequeno Príncipe e Colégio Mater Amabilis lida com a complicada situação das finanças. De acordo com a mantenedora Eliz Zancanaro, houve grande demanda por redução e isenção das mensalidades por parte dos pais de alunos, de modo que o berçário está isento do pagamento e as crianças de dois a quatro anos estão com redução de 50%. Além disso, a professora de educação socioemocional da escola dá conselhos à comunidade sobre como passar pelo período de quarentena.
Em relação à questão pedagógica, a creche declarou férias para as crianças de 2 a 4 anos no dia 6 de abril, mas continuou com atividades virtuais por meio de jogos. No dia 6 de maio serão iniciadas aulas online com interação com as professoras.
Neste período, o berçário – em que ficam crianças de 0 a 2 anos — manteve sua programação com vídeos e atividades motoras para os bebês. As professoras ficaram apreensivas no início, o que, segundo Izabele Formizano, coordenadora do berçário, é normal por ser algo novo. Izabele está cuidando das ligações de pais na escola e diz receber questionamentos sobre a falta de tempo para fazer as atividades com os filhos. Apesar da situação, a coordenadora diz estarem otimistas com as aulas online.