Redução na circulação de veículos e encolhimento na atividade industrial são apontados como principais motivos para a redução dos poluentes
O isolamento social praticado no mundo inteiro por conta da pandemia do novo coronavírus refletiu no meio ambiente. A emissão de poluentes diminuiu significativamente em metrópoles por todo o globo, inclusive São Paulo. A Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – divulgou uma nota no dia 30 de março, constatando a diminuição dos índices de poluição na Grande São Paulo durante os primeiros 10 dias de quarentena.
A redução da circulação de veículos é apontada como o principal motivo para diminuição na emissão de poluentes. As regiões de tráfego mais intenso foram as que registraram maior queda no nível de monóxido de carbono. “Em São Paulo, os veículos são a maior fonte de emissão. Se eles não estão na rua, temos uma menor concentração de poluentes”, explica Maria Lúcia Guardani, gerente da Divisão da Qualidade do Ar da Cetesb.
Além da emissão de poluentes, as condições meteorológicas influenciam muito na qualidade do ar. A chegada do inverno implica em menos chuvas e ventos, ou seja, menor dispersão de poluentes. Segundo Maria Lúcia, isso é motivo de preocupação, uma vez que a poluição está ligada ao agravamento de comorbidades. “As micropartículas, inaláveis, vão até os alvéolos. Quem tem asma sofre bastante nesse período”, conta.
“Quem mora em lugares mais poluídos tem mais problemas de saúde, como doenças respiratórias e cardiovasculares. Enquanto dias mais poluídos estão associados a crises”, completa Alexandre Kawassaki, pneumologista da CDRA (Clínica de Doenças Respiratórias Avançadas). Pessoas com doenças respiratórias crônicas fazem parte do grupo de risco da covid-19.
Soma-se às circunstâncias climáticas propícias para a concentração de poluentes a baixa adesão à quarentena. Por isso, no mês de abril, a qualidade do ar deixou de ser boa em parte dos dias e foi moderada. A classificação se dá a partir de parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS). De qualquer forma, os dados até o momento são vistos de maneira positiva. “Estamos vendo uma menor incidência de doenças agudas, como bronquite, asma, enfisema e um menor número de infartos também”, disse Alexandre.
Outra das principais formas de emissão de poluentes se dá através da atividade industrial. No entanto, essa fonte de poluição também diminuiu. No mês de abril, o Sensor da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que faz um acompanhamento mensal das ações das indústrias, indicou um recuou de mais de 13 pontos, de acordo com suas métricas próprias. Em março, a pesquisa marcava 47,3 pontos. Os marcadores variam de 0 a 100 e abaixo da metade representam uma queda na atividade.
O presidente do Conselho Superior do Meio Ambiente da FIESP (Cosema), Eduardo San Martin, garante: “A Indústria Paulista cumpre a legislação ambiental em vigor no estado de São Paulo”. Segundo o especialista, os procedimentos mais rigorosos de controle da poluição industrial implantados desde a década de 1990 desencadearam um processo de adequação custoso para as empresas, mas hoje todas operam de acordo com as normas. Ele lembra, ainda, que em meio ao processo de urbanização no século passado as fábricas saíram da capital para o interior do estado – distritos industriais eram mais propícios para a produção e menos prejudiciais para a saúde das pessoas.
Eduardo concorda com Maria Lúcia ao apontar a maciça circulação de veículos como o cerne do problema ambiental na cidade: “A emissão veicular e os efluentes domésticos são o grande drama das regiões metropolitanas hoje. É muito clara a necessidade de investimentos no controle da poluição veicular. Ainda temos combustíveis fósseis, que são nocivos ao meio ambiente. A nossa posição é a de que precisamos buscar alternativas”. O presidente do Cosema aponta os biocombustíveis e o etanol – renovável e produzido em larga escala no Brasil – como opções de combustíveis mais sustentáveis e conclui: “Temos que olhar para aquilo que os países desenvolvidos têm e nós não: uma malha ferroviária grande, para fazer trajetos que aqui são feitos por caminhão”.
A poluição atmosférica é um problema de saúde pública responsável por 15 000 mortes por ano no estado de São Paulo, segundo dados do Cosema em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A necessidade de discutir soluções para a questão se agrava devido à pandemia da covid-19. “Isso é o mais importante”, diz Eduardo. “Se estamos revendo nossos comportamentos, nossa forma de tratar a pessoas, temos que perceber que é o momento de mudar o jeito de tratar o meio ambiente”, finaliza.