Em entrevista exclusiva ao CAVH, o professor da ECA-USP comenta as principais mudanças na administração do sistema de educação atual
Na conversa promovida pelo Centro Acadêmico Vladmir Herzog (CAVH), Rodrigo Ratier, ex-professor da Faculdade Cásper Líbero e colunista especialista em educação no UOL, comenta sobre o sistema educacional brasileiro e as perspectivas para o futuro do setor.
As inúmeras mudanças no comando do Ministério da Educação (MEC) somadas aos cortes de verbas destinadas à pasta, principalmente no ensino superior, ao longo dos anos configuraram um cenário de instabilidade e incerteza para os profissionais que atuam na educação. De acordo com Ratier, esse processo de sucateamento nos últimos três anos, infelizmente, não é uma surpresa: “Esse sempre foi um projeto. Não me lembro desse atual governo ter comentado sobre algum projeto de melhoria da educação, porque não é prioridade”.
No final do mês de maio desse ano, o Governo Federal determinou um corte de R$3,2 bilhões que seriam colocados no MEC. De 2015 a 2021, a pasta teve uma redução de aproximadamente 60% das verbas, de acordo com levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino (Andifes). Para o jornalista, o contingenciamento coloca em xeque o futuro da educação no País e, para estancar a ferida, é necessário um plano de reestruturação, o que inclui uma recomposição orçamentária.
A estrutura e desmonte do ENEM
Ainda sobre a troca de cadeiras na educação, o jornalista comenta sobre a saída de Danilo Dupas da presidência do INEP, órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio, poucos meses antes da aplicação do Enem: “Isso já aconteceu no ano passado, mas o mais importante é saber a quantas anda o banco de questões do Enem. Lembrando que o Enem já está em crise, a prova do Weintraub já teve um monte de problemas na liberação de notas, muitas reclamações que deveriam ter levado ao cancelamento da edição. Um outro problema são as taxas, algumas pessoas perderam o direito de isenção porque não foram e as taxas de inscrição aumentaram”.
Na última edição do exame, diversos funcionários do INEP reclamaram de interferências do Governo Federal na elaboração da prova, o que, na visão de especialistas, colocou a educação como instrumento do estado, um problema que pode perdurar por muito tempo. “Não vejo realmente outra forma de ter um órgão que controle e que determine a implantação de políticas públicas, que não seja a troca da administração. Não vejo saída sem tirar o Bolsonaro do poder.”, critica o professor.
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A relação pandemia e educação
Durante a pandemia da covid-19, a educação sofreu em diversos aspectos, desde o ensino fundamental ao superior. Diante da necessidade do isolamento social, a falta de planejamento para a volta segura dos estudantes chamou a atenção.”O MEC queria abrir as escolas a qualquer custo, trabalhando de uma forma negacionista, sem nenhum tipo de orientação sanitária e pedagógica”, comenta Ratier.
Outra questão levantada durante a conversa, foi a discrepância escancarada pela pandemia entre o ensino público e privado: “A princípio, as secretarias disseram que a gente teria um plano de recuperação dessa defasagem, alguém está vendo alguma coisa a respeito disso? A gente precisa lembrar que quem mais sofreu com essa situação foi a população mais vulnerável. Um levantamento feito pela Undime que mostra que a ‘tecnologia’ mais utilizada nas redes municipais para dar aula foi o Whatsapp”.
O colunista ainda destaca que faltam políticas públicas para engajar os alunos que foram mais atingidos pela defasagem do ensino público durante o período. “Esse gap aumentou enormemente, o risco já apareceu nas avaliações em larga escala onde o nível de aprendizagem está dramático e, infelizmente, eu não vejo programas consistentes, que deveriam existir e ser plurianuais, para suprir a necessidade dos mais vulneráveis, que é quem deveria receber esse auxílio. Educação é um direito.”