Após migrarem todas as atividades para o ambiente digital, cursinhos vivem ansiedades e expectativas quanto às datas dos exames deste ano
Os cursinhos pré-vestibular estão tomando medidas para conseguir manter seu funcionamento durante a pandemia do novo coronavírus. Como no caso da maioria das escolas de Ensino Médio, as aulas também migraram para o ambiente online, numa corrida contra o tempo. Funções administrativas e pedagógicas foram alteradas. No caso de algumas instituições, uma operação de guerra entrou em cena.
No Anglo Vestibulares, um dos mais tradicionais de São Paulo, a opção foi trabalhar com aulas gravadas. “Preparamos 477 videoaulas em cerca de 7 dias. As gravações iam das 7h da manhã até a 1h da madrugada”, afirma Daniel Perry, diretor do cursinho.
Nas contas de Daniel, cerca de 4 mil alunos e 110 professores tiveram de mudar seu dia a dia. “A maior dificuldade é a ausência da troca que só a aula presencial proporciona. As pessoas não estão acostumadas com essa falta de proximidade”, afirma. Aluna do cursinho Poliedro, Bianca Mey, 18 anos, concorda com Daniel — e cita outros complicadores. “As aulas online exigem mais compromisso do aluno”, opina a jovem, recém-chegada a São Paulo — ela veio de Tatuí para se preparar para o vestibular de relações internacionais. “Eu, por exemplo, tenho dificuldade de concentração, acabo muitas vezes arranjando outra coisa para fazer”, completa.
Para os alunos, a mudança de rotina é um dos maiores desafios. Daniel aconselha manter os turnos normais de aulas. Bianca segue essa postura. “Como no Poliedro as aulas são transmitidas ao vivo, meu horário de estudo continua igual”, afirma. “No caso das aulas gravadas, é possível voltar para ouvir de novo a explicação, uma vantagem em relação às presenciais”, adiciona Daniel. O diretor do Anglo cita ainda outras providências, como organizar o espaço de estudo, praticar exercício físico e estudar remotamente em grupo. “Quanto ao coronavírus, a dica é evitar o excesso de informações e ter cuidado com as redes sociais, procurando fontes confiáveis”, diz.
Também é possível recorrer às outras atividades de apoio pedagógico — plantões de dúvida, apoio psicológico e simulados. No cursinhos, tudo foi transferido para o ambiente digital. “No Anglo, a transição desses serviços começou a ser preparada duas semanas antes da paralisação das aulas, no dia 18 de março”, conta Daniel. Bianca diz que no Poliedro a situação dos simulados ainda não está resolvida. “O plantão de dúvidas continua funcionando. Mas a comunicação é via e-mail, então acredito que não seja tão eficiente”, argumenta.
Mas o grande ponto de interrogação na cabeça de professores e alunos é o destino do vestibular deste ano. Por enquanto, as datas do Enem e dos vestibulares de acesso às universidades estaduais paulistas — Fuvest (USP), Vunesp (Unesp) e Unicamp — seguem inalteradas. Bianca acha que isso pode ser um problema. “Com toda a adaptação que estamos passando, o prazo de se estudar toda a matéria é muito curto se continuar sem alteração de data”. Daniel concorda. “Reconheço que não é simples modificar a data. Mas, diante da situação, talvez seja a opção mais interessante”, finaliza.