Nova sala de aula? TikTok vira ferramenta de estudos entre jovens - Revista Esquinas

Nova sala de aula? TikTok vira ferramenta de estudos entre jovens

Por Gabriela Belchior, Malu Lopes, Rhuan Teixeira e Luiza Miranda : junho 27, 2024

Foto: Solen Feyissa/Flickr

Jovens recorrem ao TikTok em busca de conteúdos educativos feitos por professores e alunos em formação

A famosa expressão “dá um google” está entrando em desuso com o crescimento do TikTok, aplicativo que oferece vídeos rápidos, curtos e, agora, conteúdos informativos. A rede cativou a geração Z pela praticidade e se tornou uma tendência no universo digital. Com livre acesso de postagem e cadastro, ela abriga variados assuntos, inclusive educativos, além de possuir diferentes ferramentas, como a aba da “lupa” para pesquisa. Pesquisar no TikTok é fácil, dinâmico e a resposta é dada em vídeo, o que conquista o usuário, principalmente os jovens.

A rede social chinesa atingiu elevados números de downloads e novos usuários durante a pandemia. Do primeiro trimestre de 2020 ao segundo trimestre de 2021, a rede registrou 1,36 bilhão de downloads. Segundo a Sensor Tower, os usuários passaram em média 95 minutos no TikTok no quarto trimestre de 2023 e o número de pessoas ativas no aplicativo foi de 1,12 bilhão, no mesmo período. Mas em que momento o TikTok passou a ser uma ferramenta de pesquisa?

O GOOGLE DA “GEN Z”

Durante 2020, em atmosfera de isolamento social, muitos professores sentiram a necessidade de trazer a sala de aula para a casa dos alunos.

“Na pandemia, o mercado educacional entrou numa crise terrível. Muitos professores foram demitidos e eu também fui demitido. Não tinha como mais ir pra sala de aula. Precisei ir buscar alternativa e uma das coisas que eu pensei foi começar a produzir conteúdo para internet. Comecei a postar com frequência e em quatro meses bati 10 mil seguidores”, conta o professor Luiz Ottoni (@luizottoni1), que hoje tem 183 mil seguidores no TikTok.

Atrair um público alto exige estratégia. O professor Henrique Landim (@profhenriquelandim) viralizou ao postar vídeos de conteúdos de literatura enquanto ministrava suas aulas em escolas particulares de Goiânia, e assim conquistou mais de 50 mil seguidores.

O que tem gerado mais engajamento nas redes sociais de Landim é uma abordagem realista da sala de aula. Os conteúdos são planejados com antecedência e são filmados em aula, com alunos das escolas em que trabalha. A gravação é feita com um microfone e um celular, de onde são retirados os cortes postados no TikTok.

A credibilidade é essencial para que os professores possam conquistar o público. Antes de postarem os vídeos, eles entendem quais os assuntos mais pesquisados, estudam e, assim, publicam os conteúdos. “Tudo é planejado com antecedência e é uma aula de verdade em Goiânia, tem estudantes de cursinho ali”, comenta Landim.

Manter a atenção dos alunos é outro desafio que os educadores enfrentam. O TikTok viralizou como forma de entretenimento, nem sempre os alunos estão dispostos a assistirem a um conteúdo educativo em uma plataforma de vídeos de dança e trends.

Para conseguir engajamento, alguns professores, como Henrique Landim, usam músicas para provocar debates na internet. “Mando uma música dos Racionais Mc e digo que é do Zezé Di Camargo e Luciano”, diz. “Essa comparação não tem nada a ver, mas tira uma provocação de quem assiste.”

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Além dos professores que usam a plataforma para ajudar alunos, existem também jovens que são professores em formação e tentam simplificar a maneira de passar o conteúdo.

Gabriela Mello, de 21 anos, cursa matemática na Universidade de São Paulo desde 2020 e produz vídeos desde 2021. A aluna e criadora de conteúdos educacionais já acumula mais de 1 milhão de seguidores e é conhecida como a ‘menina da matemática’. O apelido dá nome ao seu perfil na rede, @ameninadamatematica. “Sempre imaginei como se estivesse explicando para um amigo, e sempre da forma que eu sabia e podia. Assim o pessoal foi se identificando”, conta.

O conteúdo atraiu cada vez mais jovens e os levou a usar a plataforma como ferramenta de estudo, principalmente devido a curta duração dos vídeos oferecidos.

Ana Victória Vilarinho, de 22 anos, estudante de cursinho para vestibulares, usa a rede social como um complemento dos estudos. “Em momentos em que eu precisava procurar uma forma rápida, o conteúdo do TikTok me ajudava bastante, por serem vídeos sintéticos, pequenos e fácil serem absorvidos.”

Matérias de humanas e natureza são muito procuradas pelos estudantes na plataforma. “Eu uso bastante o TikTok para tirar minhas dúvidas de biologia e história, em ambas matérias eu consigo ver videos de 1 minuto e absorvo várias coisas daquele assunto”, relatou Luiza Botelho, estudante de 20 anos.

As vídeo aulas do TikTok, porém, não substituem as aulas. A rede social vem para acrescentar, mas o estudo em sala de aula e com o professor continuam sendo a base do aprendizado. “No meu dia a dia e vejo um vídeo que tira uma dúvida que estava guardada há muito tempo, mas o conteúdo em si foi dado em sala”, pontua Gabriela Mello.

A tendência estudantil no TikTok ainda está crescendo, mas existem alunos que discordam do uso da rede como ferramenta para aulas. Thomas Yuzo Tahan, estudante de publicidade e propaganda, faz parte da parcela de jovens que não usam a plataforma e diz nunca ter sentido falta. Quando não quer ler e procurar pelo Google, Tahan usa o YouTube para suprir suas demandas. “Para mim, o TikTok não pode ser considerado uma boa opção para buscas, justamente pelo tempo dos vídeos. Determinados conteúdos necessitam de uma elaboração maior, e acredito que é algo difícil de se fazer em no máximo um minuto.”

Andressa Brito, de 20 anos, estudante de cursinho, também concorda que o Tik Tok pode acabar atrapalhando. “Atrapalha meu rendimento nos estudos. Eu entrava na plataforma e me distraía com os inúmeros conteúdos enviados pelo algoritmo.” Além disso, a aluna ainda conta que usar a rede dificulta a sua concentração, porque sempre que entrava em seu perfil, sentia que estava “se desligando” e ficava imersa no aplicativo.

Editado por Ludmila Borba

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