Seminário que relaciona memes às teorias da Comunicação levanta debate sobre o papel desse recurso na sociedade e na academia
Imagine a cena: um grupo de profissionais da Comunicação sentado numa sala de aula. É um dia importante, dedicado à apresentação de trabalhos e pesquisas. Projetada na lousa, uma imagem composta, majoritariamente, por memes. Parece estranho, mas, sim, memes estão sendo estudados dentro da academia.
Os professores Rafael Grohmann e Luís Mauro Sá Martino, ambos da Faculdade Cásper Líbero, perceberam a necessidade de falar sobre esse assunto seriamente. Assim, a instituição promoveu, no último dia 26, o 10º Seminário de Teorias da Comunicação sobre “Memes, Política e Cultura”. Com a participação de especialistas brasileiros no estudo da lógica memética, a palestra se voltou à pós-graduação da faculdade, mas também foi aberto a estudantes da graduação e pessoas de fora da Cásper Líbero.
A dinâmica foi dividida em duas partes. Na primeira, de manhã, ocorreu a abertura de Grohmann com as professoras Adriana Amaral, da Unisinos, e Claudiane Oliveira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O professor também usou a inauguração do seminário para apresentar o novo site Nomes da Pesquisa em Comunicação. Esse é um acervo de verbetes dos nomes das pesquisas em Comunicação, feito com o apoio da Faculdade Cásper Líbero e da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Em seguida, o professor Viktor Chagas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em memes políticos, falou sobre a presença dos memes antes da chegada da internet. Para a conversa, Chagas teve a ajuda de Amaral e da professora Mônica Nunes, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que trouxeram assuntos da cultura pop ligada a essa expressão imagética.
Após o almoço, deu-se início à segunda sessão de palestras. O grupo de espectadores foi dividido em três salas diferentes da faculdade, de acordo com suas inscrições prévias. Eles assistiram às apresentações de trabalhos e pesquisas que tangenciam ou se inserem no mundo dos memes, feitos por estudantes da Cásper.
Um evento desse porte explicita a necessidade de a academia aprofundar seus estudos sobre diferentes assuntos considerados “não acadêmicos”, como os memes. Grohmann discutiu com quem compareceu ao evento sobre a ideia de viralização desses conteúdos, algo bastante presente na sociedade brasileira há algum tempo. “Desde slogans e jingles políticos até os bordões de telenovelas e programas como ‘A Praça É Nossa’ e ‘Zorra Total’”, explica o pesquisador, essa lógica de replicação acontece no início do século XX, mas ainda é pouco trabalhada em disciplinas de Teoria da Comunicação do País. A UFF, por exemplo, com a ajuda de Chagas, criou o #MUSEUdeMEMES, em 2013, para arquivar e estudar essas manifestações.
Os memes influenciam a vida pública da sociedade de diversas formas. Entre elas, a percepção política da população. Pensando nisso, a edição do segundo semestre de 2018 da Revista Esquinas falará sobre memes, movimentos políticos e posições sociais. Não perca!