Sistema educacional brasileiro está preparado para formar superdotados? - Revista Esquinas

Sistema educacional brasileiro está preparado para formar superdotados?

Por João Dalvi de Gasper : outubro 23, 2024

1% dos 24mil estudantes brasileiros são considerados superdotados ou com altas habilidades. Foto: Reprodução/ Pexels

Casos de alunos superdotados nas escolas estão aumentando e dificuldades enfrentadas por eles se superam a cada período letivo

Cláudia Hakim, neurocientista, pós-graduada em psicologia, palestrante e professora na área da superdotação explica a falta de preparo das escolas para esses alunos e fala sobre as regras educacionais que prevê atendimentos específicos para os superdotados.

A principal dificuldade destacada pela especialista é a falta de preparo dos professores que ocasiona na dificuldade de identificação dos alunos, preparação que deve ser feita por meio de pequenos cursos para capacitação dos profissionais da educação.

Outra dificuldade citada pela neurocientista é a maneira como as escolas não sabem lidar com os alunos que possuem o diagnóstico da superdotação.

A aceleração de série é outro tema abordado pela neurocientista. Esse processo pode ser feito após o estudante realizar um teste que comprove que ele está apto, com o limite de 2 anos para avanço no estado de São Paulo. “O avanço de classe é uma questão que gera muita discussão entre as famílias e a escola porque ele é barrado muitas vezes pela secretaria da educação, pois a instituição às vezes não tem o conhecimento devido”, afirma a especialista.

Para que esses tópicos citados por Hakim sejam melhorados, ela apresentou sugestões de projetos para a reformulação no ambiente escolar e na LDB (Lei De Diretrizes e Bases) (Lei de Diretrizes e bases):

“Seria necessário mais verba para capacitar os professores a saberem como lidar com esses alunos e também mais políticas públicas para esse público, como um plano de ensino individualizado para estimular as habilidades do aluno e por fim a reformulação da lei de diretrizes e bases, que vale mais do que as normas da secretaria de educação, especificando de maneira mais clara os critérios para a mudança de série”.

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A superdotação no ambiente escolar, em alguns casos, acarreta problemas no convívio social para os alunos com o diagnóstico, como foi o caso do Pedro Melim

Pedro, de 17 anos, é do espectro autista e aos 4 anos foi diagnosticado com altas habilidades de superdotação. O menino relata que no ambiente escolar sofreu muito bullying por ser o aluno mais novo da turma e muitas vezes foi ignorado nas aulas de propósito pelos professores, que não impediam que o bullying acontecesse.

A direção da escola não fez nada em relação ao desrespeito que o jovem sofria diariamente na instituição. super dotados 

“Uma vez houve uma confraternização no pátio do colégio e esteva muito barulho, então me trancaram sozinho na coordenação e consequentemente tive uma crise de ansiedade muito forte”, relata Melim.

Esses acontecimentos levaram a família do jovem a mudá-lo de escola 4 vezes. Após esses relatos, Pedro também sugeriu mudanças que podem ser feitas nas escolas em relação à superdotação. “As escolas deveriam promover o enriquecimento curricular para os alunos superdotados e treinamento para os professores para que possam atender a todos os transtornos”.

O jovem, por conta de sua superdotação, participou do programa Pequenos Gênios da Rede Globo apresentado por Luciano Hulk no ano de 2020, e chamou a atenção da audiência ao fazer um discurso sobre o autismo.

Atualmente está cursando faculdade de segurança da informação e possui um canal no YouTube, onde produz conteúdos sobre curiosidades. Além disso já participou de eventos de grande prestígio como TED Talks.

superdotação

Pedro, em sua terceira palestra no TED Talk, através do Projeto Ingenium. Foto: Reprodução @pedromelimpequenosgenios/ Instagram
Foto: @pedromelimpequenosgenios/ Instagram

O despreparo no sistema educacional brasileiro fica nítido em circunstâncias como as de Pedro, em que deixar de impulsionar habilidades cognitivas é mais viável do que aplicação de políticas públicas que melhorem o diagnóstico estudantil, como cita Cláudia Hakim.

Editado por Bruna Blanco

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