Coletivo reúne CEO’s, empreendedores e comunicadores para debater a posição do negro no mercado de trabalho
O Coletivo AfriCásper celebrou nesta quarta-feira (12) seus quatro anos de existência, no Teatro Cásper Líbero. Com a temática A ascensão dos negros incomoda?, o grupo trouxe convidados negros consagrados em diversas áreas para contar suas experiências profissionais, além de dar um panorama do atual mercado de trabalho, destacando a questão étnico-racial.
O evento iniciou com a apresentação do coletivo sobre o evento, que foi dedicado à Valéria Lúcia dos Santos, advogada negra algemada e presa durante uma audiência no Rio de Janeiro, na última segunda-feira (10). Após o discurso, o músico e poeta Renato Pessoa, cantou junto de seu pandeiro, sua música autoral Para Para, uma canção de resistência e Vou que falava sobre aprendizado além das academias. O cantor também expôs algumas situações de racismo que sofreu durante sua trajetória, sobre sua aparência física e classe social quando ouviu de uma professora que dizia saber quem iria “varrer chão” e quem iria “administrar”.
A primeira a falar foi Patrícia Santos, criadora da consultoria Empregueafro, que iniciou a carreira com palestras e projetos pontuais, motivadas por uma militância pessoal. Simultaneamente, a profissional trabalhou em uma empresa de R.H. até ser convidada para ser consultora por uma empresa multinacional.
Entre os convidados estavam também Ian Black, CEO da agência de publicidade New Vegas. Ele indicou aos negros que tomassem cuidado com a saúde mental por conta do ativismo. Com o racismo enraizado no Brasil, a luta dos negros por respeito é diária, devido a isso muitas pessoas adoecem. O publicitário também aconselhou que o público tivesse uma precaução na hora de escolher as situações que valem ou não a pena “problematizar”.
Todos expuseram casos de racismo indireto que sofreram durante sua trajetória profissional, alguns antigos e outros recentes. Como o caso de Fernando Cândido, ex T.I e atual empreendedor na hamburgueria Rap Burguer, que foi confundido com um faxineiro na empresa em que trabalhava. A jornalista Paola Deodoro, ex-editora da revista Cosmopolitan e primeira mulher negra a ocupar o cargo de editora de beleza em revistas de grande circulação, também comentou que passou por muitas situações constrangedoras de pessoas que se surpreendiam com o fato dela ser negra.
Cada convidado buscou dar dicas de como profissionais negros podem “sobreviver” no mercado de trabalho brasileiro. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no terceiro trimestre de 2017, negros e pardos somavam 63,7% dos desempregados.
Maitê Lourenço, psicóloga e CEO e fundadora do BlackRocks Startup, que tem como objetivo estimular o empreendedorismo e crescimento econômico da população negra, afirmou que devemos apoiar nossos próprios colegas negros e ajudá-los na ascensão, por exemplo, por meio de indicações. Outra saída é o empreendedorismo, como foi o caso de Fernando Cândido, que criou primeiro empreendimento gastronômico ligado ao rap no Brasil, o Rap Burguer.
O evento que condensou debates, reflexões e conselhos sobre a real situação dos negros no mercado de trabalho foi encerrado com uma salva de palmas.