Brasil Jurássico - Revista Esquinas

Brasil Jurássico

Por Lucas Ghedini : abril 25, 2018

Saiba um pouco mais sobre a Paleontologia e o cenário dessa ciência no Brasil

Muitas vezes vista como “estudo dos dinossauros”, a Paleontologia desperta grande interesse da sociedade, por ser um assunto curioso e que se debruça sobre algo distante da realidade todos. Contudo as informações vinculadas na mídia, muitas vezes, são permeadas pela obscuridade e não retratam boa parte da realidade da deste campo de estudo.

À dir., Prof. Antonio Celso de Arruda Campos (in memoriam) em campo de escavação que foi retirado o fêmur e as vértebras caudais (à esq.) do dinossauro herbívoro Aeolosaurus maximus, que viveu em Monte Alto há aproximadamente 80 milhões de anos.
Sandra Aparecida Simionato Tavares

A Paleontologia teve suas origens traçadas graças à união da Biologia com a Geologia, e tem como base o estudo de ossos e exoesqueletos de animais e plantas, fossilizados em rochas de diferentes períodos geológicos do desenvolvimento terrestre.

Muitos assimilam o estudo dos paleontólogos exclusivamente àqueles conteúdos vinculados na mídia, que, em grande parte das vezes não expressa a ampla variedade de descobertas na área. Devido à indústria cinematográfica, fósseis encontrados em sítios paleontológicos americanos e europeus acabam recebendo muito mais destaque.

“Muitos vêm até aqui para ver o Tiranossauro rex, mas este dinossauro carnívoro não pertence ao território brasileiro”, afirma Sandra Aparecida Simionato Tavares, doutora em Geociências e diretora do Museu de Paleontologia Professor Celso de Arruda Campos, situado em Monte Alto, cidade do interior de São Paulo. Ela reconhece o fato de o Tiranossauro ser o dinossauro mais famoso e querido por todos, devido a seu grande destaque nas mídias. Mas sente o dever de mostrar as pessoas a diversidade que o Brasil teve no passado e dar o devido destaque ao trabalho dos paleontólogos nacionais. De acordo com Tavares, mesmo com empecilhos, como a supervalorização do trabalho estrangeiro, a Paleontologia tem apresentado crescimento no Brasil e vem se tornando mais conhecida com o tempo.

A reprodução da cabeça de um Tiranossauro Rex, feita por Cirineu Colontonio Sandin, especialista em reconstruções paleontológicas, tenta mostrar como seria a aparência externa do réptil milenar.
Lucas Ghedini

A diretora do Museu do interior paulista afirma que há uma diversidade muito grande de fósseis, não só de dinossauros, mas de outros tipos de ser vivo também, como moluscos, por exemplo. Os fósseis são encontrados em rochas dentro de Bacias Sedimentares, no município de Monte Alto isso ocorre na Bacia Bauru.

Deve-se ressaltar que o trabalho dos paleontólogos brasileiros vem sendo cada vez mais reconhecido no cenário mundial. “Estamos cada vez mais fechando parcerias com universidades de outros países. Nós, aqui de Monte Alto, temos parceria com universidades brasileiras, como a UNICAMP e a UFRJ, estamos desenvolvendo um grande projeto com a Universidade de Bristol, no Reino Unido”, conta Tavares.

Para o doutor em ciências e gerenciador do Atlas Virtual da Pré-História, site composto por voluntários dispostos a disseminar o conhecimento sobre história natural, Cahue Sbrana, o valor do trabalho do paleontólogo no Brasil só foi fortalecido nas últimas cinco décadas, sendo ultrapassados até mesmo por países vizinhos como a Argentina. “ As mesmas criaturas que caminhavam em suas terras, caminhavam sobre as nossas, gerando o mesmo potencial de descobertas que hoje eles possuem. Andam a passos largos na nossa frente”, afirma o professor.

Da dir. para a esq.: Crânio fóssil de Montealtosuchus arrudacamposi, crocodilo terrestre que viveu junto com os dinossauros em Monte Alto; impressão 3D e reconstrução em vida do crânio fossilizado de Montealtosuchus. Impressões 3D produzidas pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, Campinas, SP; Paleoarte: reconstrução em vida. 3D de Deverson da Silva (Pepi) e pintura de Ulisses Zangerolami.
Sandra Aparecida Simionato Tavares

A paleontologia é de extrema importância para o desenvolvimento científico, para compreender a evolução da vida na terra, bem como entender a formação terrestre, graças ao estudo dos fósseis. Seu crescimento é inevitável e sua abrangência já bate às portas do Brasil, comprovado tanto pelo florescer de inúmeros centros de pesquisa especializados como o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA) da Universidade Federal de Santa Maria, o Laboratório de Paleontologia da USP de Ribeirão preto, assim como o grande acervo de material em solo brasileiro.

Fonte de inspiração para cientistas e até mesmo artistas, a Paleontologia continua a se desenvolver em território nacional, resgatando do solo a história há muito tempo perdida. “Somente quem conhece o passado, pode entender o presente e se preparar para o futuro”, ilustra Sbrana.