Especialista explica como a chegada da pandemia mudou a textura do álcool em gel
O álcool em gel se tornou item obrigatório desde o início da pandemia, já que é um dos poucos métodos comprovadamente eficazes de prevenção contra o coronavírus. O produto chegou a esgotar em muitas cidades, e depois de um ano higienizando as mãos e superfícies com ele, algumas pessoas se especializaram nas suas diversas texturas, conhecendo as marcas mais adequadas e rejeitando outras formulações. Um aspecto em especial é campeão de reclamações: o gel grudento e pegajoso. Mas por que ele é assim?
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A resposta está na lei da oferta e da demanda. Vale puxar pela memória: antes da pandemia, a maioria das marcas de álcool em gel não tinha esse aspecto desagradável de chiclete. Ao contrário, espalhavam melhor na mão. Isso se deve ao uso de um ingrediente-chave: o carbopol. Trata-se do nome comercial de uma substância em forma de pó que, quando dissolvida na água, adquire uma consistência viscosa – é o chamado espessante da mistura. Atualmente, o polímero é muito usado na fabricação de cosméticos e produtos de limpeza – entre eles, o álcool em gel .
Pois bem: com demanda em alta por conta da pandemia, os fabricantes aumentaram o preço da substância. Antes, o quilo dessa substância custava 20 reais, hoje passou a 200, aumentando 10 vezes o preço. Para evitar o desabastecimento em um momento de crise pandêmica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso de outros agentes gelificantes para substituir o carbopol, como a carboximetilcelulose, utilizada na produção de sorvetes. O espessante, usado como substituto do carbopol, custa, em média, 100 reais o quilo.
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Segundo Renato Ferranti, farmacêutico químico formado pela USP, a mudança de matéria-prima é responsável pela alteração na textura e pelo aspecto pegajoso do álcool em gel. “O normal é você ter uma formulação de gel que usa carbopol e usar sempre ele, não pode trocar o espessante”, diz.
A meleca desagradável estaria, portanto, associada à troca de um ingrediente fundamental no preparo. Mas há outras explicações. Muitas vezes, os fabricantes justificam a textura de cola do produto pela adição de hidratantes, como aloe vera. Mas o especialista explica que isso é pouco comum. Na maioria das vezes, o aspecto diferente é causado pela falta do carbopol. “O uso de ingredientes hidratantes não altera a fórmula, logo não muda a textura do álcool”. A prova disso é que existe álcool em gel com hidratante que não gruda.
Além de apresentar uma textura pegajosa e não muito agradável, esse tipo de álcool em gel atrai mais sujeiras por ter a textura mais pegajosa. Apesar disso, Renato garante que, como qualquer outro com grau alcoólico de 70%, ele cumpre a sua função de desnaturar proteínas e estruturas lipídicas da membrana celular e, consequentemente, destruir o vírus. Assim, a higienização com álcool em gel é equivalente ou superior à lavagem das mãos com água e sabão – seja o produto melequento ou não.