Mediamorfosis, ocorrido em 4 de setembro, atraiu profissionais do mundo todo para discutir novas mídias
Logo na cerimônia de abertura, Damián Kirzner, diretor argentino e fundador do Mediamorfosis, contou um pouco sobre sua história e propósito. Seu projeto tem percorrido capitais de países latino-americanos, como aconteceu no Unibes Cultural, na zona oeste de São Paulo. O objetivo, segundo Kirzner, é “compreender a evolução dos meios de comunicação e como a tecnologia altera a produção e o consumo de conteúdo”.
O caso The Enemy VR
A primeira palestra do dia foi a de Karim Ben Khelifa, belga que atuou como fotojornalista de guerra por 15 anos. Em parceria com o Massachussetts Institute of Technology (MIT), Khelifa criou um aplicativo que une realidade virtual, realidade aumentada e jornalismo de guerra. Concluído no ano passado e premiado ao redor do mundo, o The Enemy proporciona uma experiência imersiva de diálogo com personagens criados a partir de combatentes reais. Os temas das conversas podem ser a violência ou o medo da zona de guerra, entre outros. “Nós compreendemos o mundo por meio de histórias, mas nos lembramos dele por meio de experiências. O que acontece quando histórias se tornam experiências?”, se pergunta o jornalista.
Na palestra, além de falar sobre sua experiência em guerras e o processo de criação do app, Karim Khelifa falou sobre as mudanças que queria provocar nas pessoas por meio do The Enemy. “Quero mostrar que temos muito em comum com aquelas pessoas e que elas também apresentam muito em comum entre si”, explica. Em certo momento de sua carreira, ele percebeu que o jornalismo tradicional não mudaria as coisas na sua concepção. Foi então que decidiu criar o aplicativo para proporcionar uma experiência mais imersiva ao seu público.
Economia criativa
Em sua palestra, Damián Kirzner, o organizador do Mediamorfosis, falou das mudanças na produção e recepção de conteúdo midiático que ocorrem nos dias de hoje. “Comparo a atualidade com o descobrimento do fogo. Nunca antes experimentamos a possibilidade de nos conectarmos com todos simultaneamente”, comenta.
O caso El País
A jornalista espanhola e fundadora do El País Lab, Patricia Gonsalvez, resgatou a história do jornal. Contou sobre a migração do meio impresso para o digital do veículo e especulou sobre as tendências do jornalismo no futuro. “Quando se tornou proibido fumar nas redações, os jornalistas se perguntavam como conseguiriam trabalhar sem a fumaça. Alguns meses depois, os mesmos se perguntavam como antes conseguiam trabalhar em meio a tanta fumaça. As pessoas podem estranhar as mudanças no início, mas se adaptam a elas e passam a estranhar o que antes eram paradigmas”, reflete a jornalista. O El País Lab é um laboratório experimental do jornal originário da Espanha, que busca criar reportagens em novos formatos de mídia.
Feminismo e Comunicação
Lina Srivastava, ativista e produtora cinematográfica estadunidense, trouxe casos de filmes e aplicativos que ajudou a produzir com o Creative Impact and Experience Lab (CIEL). Segundo Srivastava, a CIEL usa cultura, inovação e tecnologia para catalisar impacto social em direitos humanos e desenvolvimento internacional. Ela conta, em suas produções, a história de grupos minoritários e marginalizados da sociedade, como imigrantes, mulheres e negros.
Tecnologias brasileiras
O jovem brasileiro Ricardo Justus falou da sua empresa de tecnologia de realidade virtual, a Arvore Immersive Experiences, uma das primeiras do segmento no Brasil. Ele apresentou os desafios de tornar um negócio uma tecnologia que ainda dá seus primeiros passos. “Não há uma receita de bolo para fazer isso. É um caminho que ainda não foi percorrido por muitos”, explica. Recentemente Justus inaugurou, juntamente a seus sócios, o Voyager, um centro de entretenimento dedicado à realidade virtual cuja primeira unidade foi aberta no shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Para ele, esse é um importante passo para mostrar às pessoas como a realidade virtual pode ser interessante.
Como não ser o mais velho da festa
Agustin Alonso falou sobre novas plataformas transmídia e usou como exemplo a Playz, sua empresa de produção de conteúdo e streaming de vídeo. Para Alonso, interagir com o público alvo e compreender como pensam as novas gerações é fundamental para “não ser o mais velho da festa”. O negócio de Alonso fez grande sucesso na Espanha por ser inovador e interagir com seu público. Foi produzida uma série experimental, na qual os espectadores decidiam o que aconteceria: após cada episódio, o público sugeria e votava nas redes sociais como o episódio da semana seguinte deveria prosseguir.
Inteligência artificial frankensteiniana
Para encerrar o dia, Rachel Ginsberg, professora da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos, palestrou sobre as novas possibilidades da inteligência artificial (IA). Ela ainda conversou sobre a importância do emergent storytelling, uma nova forma de narrativa pensada para experiências digitais, em que ao usuário é permitida a construção de sua própria história, em vez de seguir uma narrativa pré-estabelecida.
As formas de receber, publicar e compartilhar informações estão em constante metamorfose. A turbulência que o mundo da Comunicação não permite afirmar como esses processos funcionarão daqui cinco, dez ou 20 anos. Entretanto, informar-se sobre as novas possibilidades e tecnologias aplicadas às mídias pode ajudar a chegar a um esclarecimento e uma participação maiores nesse futuro de novas possibilidades.