Após ser o país mais poluente do mundo, China passa a se preocupar em tomar providências para cuidar do meio ambiente e desenvolver uma economia sustentável
A China é a segunda maior economia do mundo. O Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2018 foi equivalente a 13,2 trilhões de dólares, o que o coloca em posição de relevância global. Durante o evento Catalisando Futuros Urbanos Sustentáveis, que aconteceu esta semana em São Paulo, vários chineses estiveram presentes para discutir questões que também têm importância mundial e estão ligadas à economia local: as pautas ambientais.
Dentre os temas abordados no evento, as palestras de transportes e energia tiveram grande participação chinesa. O País é o maior emissor de gás carbônico do mundo – 24% das emissões globais vêm de lá. A queima de carvão, sua principal fonte de energia elétrica, sendo 85% das emanações provenientes do carvão, é forte responsável pelo gás. Para alcançar um futuro sustentável, a China precisa buscar alternativas a essa situação.
Do outro lado do planeta
Existe uma partícula, a PM2.5, é poluente, microscópica e prejudicial à saúde humana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) determina que a quantidade limite dela, para não ser danosa ao homem, é de 25 microgramas por metro cúbico. O engenheiro de tráfego Cao Xiongjiu, nativo da capital Pequim, tem projetos para o transporte na cidade de Shi Jiazhuang, que já teve níveis de PM2.5 na casa dos 1.000 microgramas por metro cúbico, 40 vezes maior que o recomendado. Xiongjiu conta que no último inverno, quando os níveis de poluição estavam mais altos, o governo teve de arranjar uma saída para reduzir as emissões de carbono. A saída foi deixar o transporte público gratuito para a população durante o período.
“Nos últimos anos, por causa da indústria que cresce rapidamente, nós enfrentamos vários problemas no meio ambiente”, relata o engenheiro. Para melhorar essa situação, um dos projetos de Cao Xiongjiu é construir vias que unam a casa das pessoas a seus trabalhos, para que tenham outras alternativas de transporte, sem terem que depender sempre de um carro individual. “Há dez anos, nós pensávamos em como fazer os carros irem mais rápido. Agora, nos demos conta de que, se você faz os carros irem mais rápido, mais carros e trânsito haverá. Não adianta, nós precisamos fazer com que as pessoas transitem de maneira conveniente”, explica.
A nível municipal, o prefeito da cidade chinesa de Ningbo, Shen Min, relata que há mil quilômetros quadrados de áreas verdes em seu município. Ele busca investir em energias limpas, como a solar, utilizando placas fotovoltaicas. Inclusive, o uso dessa tecnologia é uma tendência na China como um todo: atualmente, o País é o maior fabricante de placas solares do mundo.
O mercado nacional de carbono na China também tem colaborado para diminuir a liberação de gases de efeito estufa. O projeto é um sistema de crédito para uso de carbono que pretende reduzir a quantidade dessa substância na atmosfera. Um limite é estabelecido para a difusão do gás, e as empresas que emitirem menos que isso podem vender “créditos de emissão” para aquelas que emitirem mais.
Problemas e perspectivas
De acordo com Xueman Wang, coordenadora de cidades e mudanças climáticas do Banco Mundial, a poluição do ar não é a única grande preocupação da China. “A contaminação da água, a contaminação do solo, o crescimento rápido da industrialização. Tudo isso também são preocupações”, comenta. Wang auxiliou na criação do mercado de carbono chinês e se mostrou decidida a cuidar do planeta Terra. “Se você destrói o meio ambiente, ele nunca mais volta”, afirma.
A China é o maior produtor de arroz do mundo, mas possui um parque industrial que polui os rios do país, afetando o plantio dos alimentos. A questão da segurança da água é tão importante que, enquanto ocorria o Catalisando Futuros Urbanos Sustentáveis em São Paulo, acontecia a Conferência Internacional Especializada na Segurança da Água em Pequim para discutir novas tecnologias como sensoriamento remoto e inteligência artificial na segurança da água.
Paralelamente às questões de cuidado com a natureza, a economia da potência asiática também sofre transformações. Na primeira metade de 2019, o PIB chinês cresceu 6,3% – o menor crescimento em quase 30 anos. Além disso, o crescimento manufatureiro também foi o menor em 17 anos. O crescimento econômico da China vem desacelerando há alguns anos e o mercado nacional de carbono pode ser mais um impacto negativo nas suas finanças.
Para Xueman Wang, a proteção do meio ambiente é uma demanda atual do povo. Ela conta que os chineses fazem pressão por melhorias ambientais, já que se preocupam com suas vidas e de suas crianças, por causa dos riscos de desenvolver algum câncer por exemplo. “O conceito de que sustentabilidade é bom não somente para o meio ambiente, mas para os negócios continuarem crescendo”, complementa Ming Zhang, gestor de desenvolvimento urbano e de risco de desastres do Banco Mundial. “O comércio verde está crescendo muito”, concorda a coordenadora de cidades do Banco.
Em 2017, com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, assinado dois anos antes por 195 países, uma oportunidade se abriu para que a China assumisse posição de destaque global também na questão ambiental. “Existe uma economia que se recusa a avançar na direção do desenvolvimento sustentável. Então há uma outra economia que está incorporando essas questões”, explica Jorge Abrahão, coordenador geral do Programa Cidades Sustentáveis, que organiza o Catalisando Futuros Urbanos Sustentáveis. “Essa é a luta, é como você estimula uma economia mais sustentável e desestimula uma velha economia.”