Mercado de carnes sente o baque da pandemia - Revista Esquinas

Mercado de carnes sente o baque da pandemia

Por Laís Guerreiro e Laura Enchioglo : julho 28, 2020

Shutterbug75 via Pixabay

Durante o mês de julho, ESQUINAS publica reportagens sobre o impacto da covid-19 no comércio e serviços; mercado de carnes sentiu o baque da pandemia

O impacto da crise causada pela pandemia está afetando diretamente o mercado mundial. Um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, o Brasil, ocupa a sétima colocação de produtos exportados no ranking nacional. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) relatou que o consumo de carne no país durante a pandemia se tornou predominantemente do cliente doméstico, o que está causando grandes problemas para estabelecimentos como bares e restaurantes.

Luiz Fernando Simões tem 40 anos e reside na cidade litorânea de Peruíbe, estado de São Paulo. Ele também é sócio e proprietário da empresa Barrão Distribuidora de Carnes Litoral Ltda junto com sua mãe Antônia e sua irmã Roberta. O empreendimento está situado na cidade de Pedro de Toledo e, atualmente, conta com uma equipe de 55 funcionários. A distribuidora de Luiz compra mercadoria de São Paulo e outros estados com foco na carne bovina, suína e frango. Após a aquisição dos produtos ele revende para supermercados, churrascarias, açougues e restaurantes. Contudo, esses estabelecimentos se encontram fechados no momento.

Apesar da novidade e da preocupação causadas pela pandemia, o comércio de Luiz teve resultados positivos no início. “Passou nos noticiários que muitas pessoas ficaram com medo de que faltasse produtos no mercado, então nos primeiros 10 a 15 dias nossas vendas quase que dobraram, porque as pessoas compraram para estocar. Deu aquele boom de vendas e automaticamente caiu depois”. Após o crescimento inicial, as semanas seguintes foram de queda, com uma redução de vendas que se estabilizou em 60% do faturamento da terceira semana em diante. Parte da queda, como conta Luiz, está no fechamento de restaurantes e churrascarias durante a pandemia.

Casado e pai de duas crianças, Luiz não teve sua vida pessoal muito afetada. Como conta, a mudança mais drástica foi a interrupção temporária do contato com os amigos e de compromissos de lazer fora da empresa.  Atualmente efetua vendas pela internet e evita ao máximo frequentar outros estabelecimentos comerciais além do seu.

Entre muitos ‘nés?’, Luiz fala sobre a mudança do antes da pandemia para o cenário atual: “A primeira coisa que nós fizemos foi disponibilizar máscaras para todos os funcionários, né? Álcool em gel em todos os caminhões, né, para os funcionários que vão utilizar aquele caminhão.”

Até o momento não precisou fechar seu comércio e disponibilizou máscaras e álcool em gel para seus empregados. Afirma não ter sido afetado no âmbito profissional, uma vez que não precisou alterar a quantidade de trabalhadores ou seus respectivos salários. A única exceção foi os funcionários de acima 60 anos que, por estarem no grupo de risco da doença, foram afastados. “A gente combinou de, futuramente, quando eles tiverem férias vencidas, obviamente, a gente vai cobrir com esses dias que eles estão afastados, então, o que mudou pra eles foi ter que ficar em casa.”

Ainda assim, essa não é a realidade do Brasil. Diferentemente de Luiz, muitas empresas não conseguiram manter seus funcionários em seu quadro ativo. A pandemia de coronavírus fez 1 milhão de pessoas desempregadas apenas no mês de maio.

Mesmo com o crescimento de infectados e mortes no Brasil, Luiz ainda não recebeu reclamações por parte de seus empregados pelo fato de permanecerem trabalhando presencialmente. “Graças a Deus tem dado certo, né? Tenho funcionários rodando a Baixada Santista, o Vale do Ribeira e uma parte de São Paulo e ninguém foi infectado até agora, então está dando certo.”

Apesar da boa adaptação à pandemia, Luiz ainda possui algumas preocupações. A principal delas é o medo do vírus atingir alguém de sua equipe. “Mesmo que a pandemia se estenda estamos trabalhando. Se tiver um caso dentro da empresa aí sim vou ter um problema maior. Vou ter que afastar todos os funcionários que tiveram contato. Daí já vira uma outra situação.”

Ainda sobre as preocupações, Luiz acha difícil prever uma retomada do comércio devido a pandemia estar descontrolada.  “Eu fico meio sem saber o que falar”, ele confessa, um pouco sem graça. Para Luiz, as mais de 45 mil mortes, contabilizadas até a metade de junho, classificam a pandemia como descontrolada no país. Já para governadores, os recordes de mortes não parecem caracterizar tal situação. A capital de São Paulo é a cidade que contabiliza pouco mais de 11% dos casos de covid-19 no Brasil e possui praticamente os mesmos números de casos que o Canadá inteiro. Mesmo assim, o comércio está sendo reaberto gradualmente.

Mas, Luiz continua: “A gente tem a esperança de que a retomada seja rápida, mas se for analisar toda a economia mundial, o impacto que teve nos países da Europa, Estados Unidos… Olha o que o Estados Unidos está vivendo! Ele nunca viveu uma crise tão grande como está vivendo agora. Então, imagina o Brasil, o tempo que vai levar pra se recuperar desse baque, vai ser muito demorado e muito doloroso, eu acredito.”

E por falar em economia, os Estados Unidos enfrentaram um encolhimento de 4,8% no primeiro trimestre, um PIB com a maior queda desde a Grande Recessão. No Brasil, a queda foi de 1,5%, mas, as projeções apontam uma queda de 4,7% no PIB de 2020. Assim como Luiz disse, os números apontam que a recuperação será lenta e dolorosa.

A economia do país e o oscilante dólar, que durante a pandemia, bateu pela primeira os cinco e os seis reais, impactam diretamente no preço da carne e no trabalho de Luiz. “A gente tem um grande problema no setor da carne, da proteína animal, que é a questão da exportação. Para o frigorífico que abate hoje, qual a vantagem que ele tem de vender pra gente se o dólar tá seis reais e ele pode vender pra fora?”, questiona.

Parte da sua queda nas vendas também se dá pelos restaurantes e churrascarias fechados, que eram um dos públicos de atendimento da distribuidora. “A gente que fornece bastante pra eles, a gente sentiu que automaticamente que eles estão fechados, eles não estão comprando da gente”. E por isso, apesar das circunstâncias, Luiz concorda com a reabertura do comércio. “Se ela for consciente, né? Com restrição, tomando todos os cuidados, quantidade de pessoas, distância… Acho que dá pra reabrir o comércio.”

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