Durante o mês de julho, ESQUINAS publica reportagens especiais sobre o impacto da covid-19 no comércio e serviços. Este é o 6º texto da série
Com os braços apoiados no balcão do caixa, usando uma máscara branca, Henrique de Souza, 51 anos, está sempre pronto para atender algum cliente, mas passa a maior parte do tempo apenas esperando. Dono de uma loja pequena de doces e salgadinhos na Rua Dentista Barreto, quase na esquina da movimentada Avenida Conselheiro Carrão, na Zona Leste da capital paulista, Henrique relata que agora tem medo de ter que fechar as portas definitivamente.
O comércio já tem mais de vinte anos no bairro. É um pequeno galpão onde foram instaladas prateleiras e freezers para a venda de doces, balas, salgadinhos, biscoitos e sorvetes. Henrique mora no andar de cima da loja e acorda cedo para abri-la e conseguir dinheiro para pagar as contas que começaram a atrasar por causa da pandemia.
Ele conta que a situação do estabelecimento já não era muito boa antes mesmo do surgimento do novo coronavírus. Faz três anos que a algumas quadras foi aberta uma grande loja de franquia de doces que oferece preços mais baixos pelos mesmos produtos. Segundo ele, desde esse momento “as vendas caíram muito, mas agora é pior porque os clientes vão pouco para as ruas e, quando vão, dificilmente vem aqui”.
Seu comércio contava com clientes fixos, muitos deles moradores das redondezas e trabalhadores que iam almoçar no restaurante a frente e queriam um docinho para finalizar a refeição. “Os clientes do restaurante não estão mais aí, por isso não estão mais aqui também, mas quem mora por perto ainda vem”, diz o vendedor, mostrando que a simpatia ainda faz seus fregueses voltarem.
Nestes tempos difíceis, Henrique teve de diminuir a compra de produtos para o estoque a fim de reduzir também o prejuízo. Ele expõe que está estressado pensando no futuro, na possibilidade de fechar a loja e perder sua única fonte de renda. “São anos com esse negócio, passei por muita coisa e queria acreditar que posso passar por isso também”, diz.
Porém, observando o fechamento de alguns comércios a sua volta e as notícias sobre a pandemia ele fica ainda mais inseguro. Os números de casos de covid-19, que aumentam a cada dia no estado de São Paulo, lembram que é perigoso estar trabalhando agora. E, por isso, o álcool em gel e algumas máscaras ficam sempre no balcão da loja, que não tem funcionários, o que representa um certo alívio para o proprietário.
É difícil saber quando as coisas vão melhorar, mas mesmo quando a pandemia passar, a loja ainda terá que enfrentar dificuldades. Henrique não gosta de se imaginar sem seu negócio, mas seus suspiros demonstram um medo que é comum a muitos comerciantes brasileiros neste momento.