Mesmo com produção 30% menor do que o esperado, cafeicultor mineiro relata mudanças e melhorias na colheita durante a pandemia - Revista Esquinas

Mesmo com produção 30% menor do que o esperado, cafeicultor mineiro relata mudanças e melhorias na colheita durante a pandemia

Por Francisco Stefanelli, aluno do projeto Redação Aberta #2 : outubro 1, 2021

Pé de café maduro

Pequeno produtor do Sul de Minas fala sobre os altos e baixos da produção cafeeira na região durante a crise da covid-19

O período da pandemia trouxe tristezas e alegrias para os produtores de café no Sul de Minas, maior área produtora de café no Brasil. A falta de mão de obra, os problemas com fornecimento de suprimentos agrícolas, as geadas, a disparada do preço da saca de café e a alta demanda do mercado externo foram fatores que impactam o cenário atual dos cafeicultores no país.

Os impactos na mão de obra

Luiz Henrique Lopes, produtor mineiro, conta um pouco desse percurso e detalha como a pandemia influiu na produção de café em sua pequena propriedade familiar, em que trabalham ele, o irmão e os pais. “A pandemia pegou todos desprevenidos”, diz o produtor.

café

Luiz Henrique espalhando café no terreiro convencional
Acervo pessoal

“Vinham muitos colhedores de fora para trabalhar nas colheitas, e esse ano não veio nenhum. Não tinha ônibus, só vieram poucas vans”. O período de isolamento foi declarado cerca de um mês antes da colheita, época em que mais se necessita de mão de obra. “Nesses dois anos de pandemia, teve pouca mão de obra. Tem gente que até agora está colhendo café, porque tiveram que esperar a colheita de outros produtores para fazer a colheita deles”, conclui.

A família Lopes já possuía contato com dois casais do oeste paranaense que iriam trabalhar na colheita pelo terceiro ano consecutivo. Esses, como de costume, foram alojados em uma casa simples, em outra parte da propriedade, onde foram testados e acompanhados por profissionais da saúde de Juruaia por causa da pandemia. Mesmo pagando um pouco mais caro pela mão de obra da colheita, Luiz Henrique diz que isso se justifica: “A mão de obra deles é muito boa. O nosso café, eles colhem sem derrubar no chão, não precisa fazer nem varrição”.

café

Terreiro convencional
Acervo pessoal

Problemas de abastecimento

A produção, em sua grande parte, é vendida para a Cooxupé. Maior cooperativa cafeeira do mundo, com sede em Guaxupé-MG, ela é responsável por analisar uma amostragem dos grãos comprados e, conforme a qualidade levantada, definir os preços da saca. Nesse processo, quanto maior for a qualidade, maior o preço pago.

Como cooperativa, ela fornece também apoio aos produtores com serviços agronômicos, análises de solo, descontos em aquisição de implementos agrícolas, etc. Esse apoio não impediu as dificuldades com a obtenção de implementos, pois a pandemia ocasionou o fechamento total ou parcial de diversas fábricas.

Melhorias na produtividade de café

Luiz Henrique se formou em 2020 no curso de Engenharia Agronômica pelo Instituto Federal Sul de Minas – campus Muzambinho-MG. No mesmo instituto, Mauro, seu irmão, fez o curso tecnológico em Cafeicultura. Com dois especialistas em café na família, o trato na lavoura não ficou mais fácil que o normal, mas o conhecimento técnico refletiu na elevação da produtividade e qualidade. O dia a dia no campo é feito e coordenado pela família Lopes, que só recebe auxílio durante a época da colheita. Em 2019, conseguiram colher 320 sacas e, em 2021, esse número saltou para 417 sacas. “Creio que perdemos uns 30% em 2021 por causa da geada e da estiagem, pois nossa previsão era de mais de 450 sacas”.

Mesmo com o suporte da Cooxupé, produtores amigos e vizinhos da família preferiram pagar para os irmãos realizarem as análises de solo e recomendações de quantidades de adubação. “Todo mundo elogia a adubação, pois é tudo medido. Meu irmão é tecnólogo e eu sou agrônomo, então sentamos e fazemos os cálculos”, explica o produtor.

Para aumentar a qualidade e o valor agregado da produção, a família começou a investir em maquinários e novas técnicas. “Neste ano, adquirimos uma máquina de beneficiar café, assim diminuímos os gastos [com terceiros] e melhoramos a qualidade, fazendo um beneficiamento mais eficiente”, conta Luiz Henrique.

Com a secagem em terreiro elevado – que consiste na secagem do café sobre uma rede suspensa para que não toque o solo – estão produzindo um café de qualidade superior, vendida a outros clientes em busca de cafés especiais. Em 2020, enquanto conseguiam um preço por saca por volta de R$550,00 no café normal, o café especial chegava a valores próximos a R$1.500,00. “Com a diferença da qualidade identificada nos dois tipos de café, expandimos a área de terreiro suspenso”, diz Luiz Henrique.

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Terreiro suspenso
Acervo pessoal

Expectativas para o futuro da produção de café

A família Lopes está confiante para encarar o que vier pela frente, planejando a futura colheita. “Sabemos que a chuva do ano que vem será escassa, então vamos mudar (a adubação) para aumentar a produtividade”, diz Luiz Henrique. A família não hesita em fazer novos testes, buscando as tendências do mercado de cafés especiais. “E esse ano tivemos uma novidade, tivemos uma experiência de café fermentado”, revela Luiz Henrique, dando uma prévia dos planos futuros da família.

* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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