No ramo do paisagismo, a pandemia não é flor que se cheire  - Revista Esquinas

No ramo do paisagismo, a pandemia não é flor que se cheire 

Por Vinicius Tadeu Salvato Rodrigues : julho 31, 2020

Foto: Manseok Kim via Pixabay

Responsável por R$ 8,67 bilhões, mercado de flores e paisagismo sente o impacto da pandemia. Dono da empresa Floraliz conta como está sobrevivendo à crise

A história da Floraliz se confunde com a história da jardinagem profissional no Brasil. A regulamentação do setor começou no início da década de 1940 e a empresa de paisagismo abriu as portas em 1945. Desde então, atua no mercado de cultivo de flores, venda de produtos de jardinagens e prestação de serviços como a implementação de vastos jardins em grandes estabelecimentos e empresas.

À frente do negócio está Osvaldo Policarpo Júnior, de 64 anos, que com toda a experiência que tem no ramo assegura estar passando por um dos momentos mais difíceis da história. “Já tivemos fases bastante difíceis e conseguimos superar”, diz o empreendedor do paisagismo. “No atual momento, que vivemos faz pouco tempo mas de maneira bem intensa, ainda não dá para dimensionar se é melhor ou pior do que outras fases de dificuldades que passamos”, completa.

Com os cabelos brancos, óculos na ponta do nariz e uma fala serena, Osvaldo mantém o tom de tranquilidade durante qualquer conversa sobre o assunto. Talvez porque é um conhecedor nato do mercado de paisagismo, e conheceu a paixão pelas flores logo no berço. Seu avô e seu pai, Osvaldo Policarpo — de quem herdou o nome –, fundaram a Chácaraliz em 1945 no fundo do quintal de casa. E, por volta de 1975, Osvaldo Júnior já entrava nos negócios. “Passei a ajudar e cuidar da empresa com meus 19 anos e estou aqui até agora, isso é a minha vida”, afirma com os olhos brilhando.

Atualmente, o paisagista conta que a empresa possui 62 trabalhadores no quadro de funcionários. Justamente por instalar e cuidar de grandes jardins, muitos empregados são funcionários fixos desses locais, garantindo que as instalações fiquem sob o melhor cuidado para encantar a visão e o olfato de quem passa. É o caso do shopping JK Iguatemi, na Zona Sul de São Paulo, que com seus 400 vasos e 3 mil metros quadrados de jardim conta com a presença de cinco funcionários da Floraliz diariamente.

Além disso, a empresa possui uma loja na Avenida Atlântica, que reduziu o número de funcionários mas não chegou a fechar as portas. Como conta Osvaldo, os jardins têm que continuar bonitos para quando as pessoas voltarem a vê-los, fazendo com que nenhum trabalhador tenha tido o contrato suspenso ou encerrado. “Tomando todos os cuidados e seguindo as medidas de proteção e acompanhamento de saúde, não teve ninguém da nossa equipe que ficou encostado em casa de home office”.

Mas a maioria do setor não teve a mesma sorte. O Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) divulgou um estudo que revela que 66% dos produtores de flores e plantas ornamentais devem decretar falência até o fim da pandemia. É estimado que o setor tenha prejuízo de R$ 1,364 bilhão divididos entre os produtores e comerciantes. O mercado de flores no Brasil movimenta R$ 8,67 bilhões em toda cadeia, gera 210.000 empregos diretos e mais de 800.000 indiretos.

“Sem dúvida nenhuma é um cenário muito triste e difícil que já se estabeleceu em menos de 90 dias. Ainda não temos dimensão do estrago, mas teremos dificuldades para retomar o que tínhamos antes”, lamenta Osvaldo.

Segundo o guru das flores, toda a cadeia do setor voltou a funcionar em junho. Seguindo todos os protocolos estabelecidos, ele acredita que o segundo semestre representará um começo da retomada. Osvaldo espera também que represente o retorno dos comércios de rua, restaurantes e parques, já que ele era acostumado a caminhar todos os dias pelo bairro de Moema acompanhado de seu cachorro Bart. “Essa questão do isolamento e restrição me chateou muito, não ter um parque para caminhar me incomodou bastante, senti o impacto”.

O álbum de fotos no celular do paisagista não esconde a sua paixão, ele faz questão de fotografar todo e qualquer conjunto de flores e plantas que acha interessante durante seus passeios, somando um incrível acervo de mais de 20 mil fotos de paisagens, do qual ele se diz orgulhoso de ter enquanto abre um largo sorriso.

Para Osvaldo, as flores jamais vão desabrochar, e, por ele, a Floraliz vai conseguir chegar ao seu centenário com um jardim com algumas flores espinhosas no meio do caminho, mas que não apagará o tom colorido e o perfume natural que prevalecerá.