“Nós só fomos avisadas depois que já estávamos trabalhando”, relata doméstica sobre patrão com covid - Revista Esquinas

“Nós só fomos avisadas depois que já estávamos trabalhando”, relata doméstica sobre patrão com covid

Por Stella Thomaz, aluno do projeto Redação Aberta #1* : maio 28, 2021

Foto: Pixabay (CC0)

Domésticas relatam os riscos de contágio da covid-19 ao terem que sair para trabalhar no meio da pandemia por falta de auxílio adequado do governo

A diarista Luciléia Teodoro de Souza, de 40 anos, explica que o auxílio emergencial que recebe do governo federal funciona apenas como complemento de sua renda, já que o dinheiro não é suficiente para se manter. Portanto, continuar trabalhando é indispensável, pois o valor que recebe das diárias continua sendo sua principal fonte de sustento. Segundo o economista e professor da Faculdade Cásper Líbero, Adalton Franciozo Diniz, o próprio governo “boicotou” o pagamento do auxílio emergencial, tendo em vista que 8% da verba que foi aprovada para pagamento do auxílio não foi usada.

De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Locomotiva, cerca de 39% dos empregadores relataram que suas funcionárias continuam trabalhando normalmente. Isso evidencia o fato de que trabalhadoras domésticas se encontram nos grupos de maior vulnerabilidade durante a pandemia.

No Rio de Janeiro, a primeira vítima da doença foi uma empregada doméstica que, ao ir trabalhar no Alto Leblon, contraiu o vírus de sua patroa, que tinha acabado de voltar da Europa e ainda aguardava o resultado do exame. A doméstica, de 63 anos, se encaixava no grupo de risco por apresentar comorbidades. Os primeiros sintomas apareceram em um domingo e, com uma piora no quadro, na terça-feira seguinte ela veio a óbito.

Luciléia diz ter passado por uma situação semelhante juntamente com outra diarista. Ela e sua colega foram avisadas que o patrão estava com covid-19 somente depois que já estavam trabalhando: “A gente perguntou para a outra empregada da casa quem estava dentro do quarto, e ela disse que era o patrão e que ele estava com covid”. O homem que apresentava o vírus não estava em isolamento. Luciléia ainda conta que após limpar um dos cômodos, viu ele sair do quarto e pedir para que ela limpasse o local.

“Nós continuamos trabalhando até o horário de almoço, e depois avisamos a agência, que pediu para que fossemos embora”, completa Luciléia. Mesmo tendo contato direto com um infectado, a diarista não recebeu nenhuma orientação da empresa para que ficasse de repouso ou fizesse um teste.

Ao questionar uma agência de terceirização de serviços de limpeza em Presidente Prudente-SP, chamada Maria Brasileira, sobre as orientações de medidas de prevenção ao coronavírus dadas aos funcionários, a mesma alegou que todos os empregados são orientados a utilizar o uniforme da agência durante o expediente e a usar álcool em gel ao entrar e sair da residência, além da utilização da máscara durante todo o período de trabalho.

Para que não ocorra o aumento de casos e óbitos do novo coronavírus, o cumprimento do isolamento social é fundamental.  Mas para que todos possam ficar em casa, é necessário um amparo do governo, como enfatiza Adalton: “Um auxílio emergencial mais amplo talvez fosse uma boa medida, eventualmente para as empresas, se fosse criado mecanismos para que quando houvesse, por exemplo, episódios de contaminação pudessem suspender suas atividades mas continuassem pagando o salário aos seus funcionários, talvez o governo criasse alguma linha de crédito, algum subsídio para essas empresas”.

* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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