Durante o mês de julho, ESQUINAS publica reportagens especiais sobre o impacto da covid-19 no comércio e serviços. Este texto inaugura a série
“Não sei se eu me seguro por muito tempo”. Em tom de desabafo, essa é a realidade que Geni Plumari está passando. Aos 63 anos, ela é dona de uma empresa que promove eventos corporativos há mais de 20. Ela faz parte de 98% dos empresários do setor que foram atingidos pela crise ocasionada pelo novo coronavírus, de acordo com um levantamento do Sebrae. A mesma pesquisa, de abril, mostrava que 64% deles acreditavam não ter que realizar demissões pelos próximos três meses. Porém, esse tempo já se passou, e a realidade é muito diferente.
A publicitária de formação conta que teve de dispensar metade do quadro de funcionários da Geza Eventos, sua companhia. “Nunca imaginei passar por um momento desse. Abate muito, poxa, tanto tempo, não vou largar 20 anos, os funcionários… coloco bastante na mão de Deus”. Para ela, o impacto “foi imediato”. Logo em março, reuniões foram canceladas por tempo indeterminado. “Eventos é um ramo complicado, porque é a primeira coisa que alguém corta quando precisa”, coloca. E ela tem um desafio a mais. Sua sócia desenvolveu crises de pânico e depressão, e teve que se afastar do trabalho.
Acostumada a atender corporações como Mastercard e Western, acompanhou os escritórios se esvaziarem rapidamente. A Geza realiza coffee breaks (pausas durante eventos para tomar café, comer e socializar) e cafés da manhã para eventos corporativos e treinamentos. Ela possui ainda duas funcionárias de longa data que trabalham diretamente nos escritórios da Mastercard. Com o home office, as duas tiveram de ficar em casa também.
Segundo Plumari, a queda no faturamento foi de 95%. A única coisa que tem ajudado a fechar algumas contas pessoais e segurar a empresa é a venda a domicílio dos seus produtos. “Como minha linha de salgados já é conhecida, tive a ideia de fazer essa entrega individual, com kits e a divulgação pela internet”, explica. Com a ajuda da filha, colocou a Geza no instagram e fez um WhatsApp Comercial. As entregas são marcadas para o próximo dia e a comida congelada. Infelizmente, isso mal contempla 10% da receita pré-pandemia.
Em contrapartida, ela conseguiu negociar a redução de 30% do aluguel e uma série de outras contas fixas, além de atrasar impostos, como o Simples Nacional. Ela alerta, porém, que mesmo assim uma hora essas contas vão chegar. A primeira parcela deve ser paga em agosto. E mesmo com essas medidas e financiamento no banco com três meses a parcela, teme aguentar por apenas mais três meses se as coisas não mudarem.
Ela reconhece uma tentativa de adaptação no mercado. Algumas companhias já estão sondando os preços de entrega de coffee breaks individuais para seus colaboradores em home office. Durante a reunião, eles podem parar e comer todos juntos, mesmo que cada um na sua casa. Entretanto, ela está confiante de que algumas coisas não vão mudar: “Reunião geral vai ter que existir, não vai dar pra ser só online”.
Analisando a movimentação de seus clientes, Plumari crê que as pessoas comecem a voltar para os escritórios com 50% do efetivo no meio de julho e tentar normalizar em agosto. Por mais que as situações sejam as mais adversas possíveis, a empresária olha com confiança e parcimônia para o futuro, encarando o momento como mais um desafio. “Não pode nunca desanimar, acreditar sempre nas possibilidades e, se acontecer, pelo menos poder pensar que tentou de tudo. Vou até o máximo dentro do que conheço e das minhas possibilidades. Se fechar, paciência”.