Sem picadeiro: artistas de circo sentem impacto da paralisação devido à pandemia - Revista Esquinas

Sem picadeiro: artistas de circo sentem impacto da paralisação devido à pandemia

Por Milena França, aluna do projeto Redação Aberta #1* : maio 28, 2021

Rejane Vargas, artista e produtora de eventos, explica as dificuldades financeiras e adaptações do circo em que trabalha, por conta da covid-19

“Tudo foi bem assustador. Estávamos com vários eventos já agendados e programados para 2020 inteiro e tivemos que adiar todos. Foi o amor pelo que fazemos que manteve nossas esperanças”, diz Rejane Vargas, 35 anos, artista circense e produtora de eventos do CircoShow.

Sem a presença do respeitável público, circos espalhados por todo o Brasil sentiram drasticamente os impactos da crise da covid-19. “O setor artístico cultural, principalmente os pequenos empreendimentos, foi um dos segmentos mais penalizados pela pandemia”, diz o economista e professor da Faculdade Cásper Líbero, Adalton Franciozo Diniz. “Um artista de uma grande emissora manteve seu contrato com a empresa após a paralisação. Já aquele indivíduo que tinha seu espetáculo no interior, com o encerramento de suas atividades, simplesmente perdeu a renda. Apenas no final do ano o governo criou o auxílio Aldir Blanc para ajudar esses artistas”.

Sem shows e sem o lucro vindo dos ingressos e alimentos vendidos, a atividade circense foi extremamente prejudicada por ficar sem sua principal ou até mesmo exclusiva fonte de renda. Como alternativa para enfrentar a  paralisação, diversos circos optaram por dar continuidade em seus projetos e promover campanhas de maneira remota, como foi o caso do CircoShow, em São Paulo.

“Pensamos em uma maneira de trabalhar de forma segura e iniciamos nossa atividade online. Começamos a fazer lives, inicialmente gratuitas, sem nenhum retorno. Com a pandemia persistindo, começamos a fazê-las com o objetivo de arrecadar alimentos para serem entregues a artistas circenses autônomos. Conseguimos juntar uma tonelada de alimentos”, conta Rejane, que, além de artista, é formada em Administração de Empresas.

 

rejane circo

Boneca Nany, personagem interpretada por Rejane Vargas
Acervo pessoal

Para complementar a renda, o CircoShow inovou e implantou um novo formato de apresentação: “Focamos em trabalhar a imagem da empresa, através da divulgação, para as pessoas se lembrarem de nós quando voltarmos”. Segundo Rejane, o circo adaptou seu espaço e passou a vender lives para empresas e escolas. “Produzimos nosso show de acordo com o público do cliente, porém não havia muita interação entre nós e os espectadores, apenas através de comentários e likes“, explica.

Drive thru

“Em agosto, começamos a realizar eventos no formato drive thru. Foi muito emocionante, pois mesmo com o público em seus carros, pudemos ver vários rostinhos, ouvimos as risadas, o que não era possível online”, lembra a artista. No entanto, mesmo com as diversas adaptações e mudanças para atrair e interessar os espectadores, ela afirma que o cenário continua muito difícil para os circenses: “A demanda já não é tão grande, diminuiu bastante.”

“Levar alegria e cores é essencial e faz a diferença na vida das pessoas”

Dia nacional do circo

Comemorado nacionalmente em 27 de março, o Dia do Circo, antes realizado por eles com muita festa e diversão, fez falta neste ano de 2021. Com as portas fechadas, os circos ficaram impossibilitados de reunir público para o evento. “Como artista circense, foi bem difícil ficar sem esta data. Tínhamos muitas apresentações. As crianças vinham, interagiam com os artistas, tiravam fotos, havia aquele calor humano”, diz Rejane.

Mesmo com a realização de shows presenciais em locais abertos, ela afirma que ainda é bem diferente: “Todos os artistas usam máscara, a interação é mais de longe, há aquela distância na hora das fotos com o público. É bem frustrante.”

*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.