Na data que representa até 50% do faturamento do ano, lojistas têm seus estabelecimentos fechados e veem o lucro despencar
“A gente é prejudicado, mas em primeiro lugar vem a vida das pessoas”, afirma Sueli Pereira, confeiteira de 64 anos que está com a sua loja fechada desde o início da quarentena. Sueli vive de fazer doces há 40 anos, e tem uma loja na região da Lapa há 20. Segundo ela, as vendas sobem muito na Páscoa. “É um período bom para a loja, mas esse ano eu não preparei nada diferente, pois já havia a expectativa de decretar quarentena”, diz.
De acordo com a OMS, o isolamento social é fundamental para o combate à pandemia de covid-19. Muitos estados brasileiros já aderiram à quarentena e, nesse cenário, produtores e vendedores de chocolate e ovos de Páscoa, que esperam ansiosos a data que traz o maior lucro do ano, veem suas vendas despencarem.
A confeiteira conta que, preocupada com a sua saúde e a de seus funcionários, optou por liberar as outras três pessoas que trabalhavam em sua loja e pretende colocá-las no grupo de funcionários que terão seus contratos suspensos e receberão salário do governo durante dois meses. Nesse momento, ela está tocando tudo sozinha, e, por não conseguir atender a demanda, não está fazendo entregas via delivery.
Há aqueles que, diferente de Sueli, contam com o apoio de grandes empresas por serem franqueados. Esse é o caso de Ana Paula Reininger, proprietária de duas lojas da rede Cacau Show. Segundo Ana Paula, “a Páscoa representa 50% do faturamento no ano, mas as vendas caíram muito desde o início da quarentena”. Nos dois casos, a queda do faturamento impacta o emprego. Sueli aposta na autorização para suspender contratos de trabalho por dois meses. Já Ana, que não pretende demitir seus funcionários, ainda estuda utilizar o auxilio do governo federal.
Por ser dona de uma franquia, a lojista diz estar recebendo apoio da Cacau Show. “Eles criaram rapidamente um mecanismo de vendas online e um site que permite que os clientes busquem a loja mais próxima a eles pelo CEP”, diz Ana Paula. Além disso, a Cacau Show flexibilizará os pagamentos para ajudar seus franqueados.
A Associação Paulistana de Supermercados projeta uma queda de 8,5% na venda de chocolates e ovos de Páscoa em comparação a 2019. Mas o setor de super e hipermercados acumula crescimento de 19,3% enquanto o de varejo teve queda de 24,9% desde o início de março, segundo uma pesquisa realizada pela Cielo. Grandes redes não sofrerão muito com essa situação. Lojistas independentes e pequenos comerciantes, que têm nas lojas sua principal fonte de renda, como Ana Paula e Sueli, serão os mais afetados.