“Na rua, a pandemia é um tapa na cara”, diz casperiano que distribuiu kits de higiene - Revista Esquinas

“Na rua, a pandemia é um tapa na cara”, diz casperiano que distribuiu kits de higiene

Por Gabriel Benzi : junho 4, 2020

Gabriel Benzi, do 3° ano de jornalismo, participou e documentou ação que distribuiu kits de higiene a 60 pessoas em situação de rua durante pandemia

“Privilégio” é uma palavra que a pandemia do novo coronavírus colocou, definitivamente, em evidência. Ela descreve, por exemplo, a situação de quem pode ficar em casa sem se expôr ao vírus. Uma vivência diferente de quem precisa sair para trabalhar – ou, caso ainda mais grave, de quem não tem casa. O que privilegiados como eu podemos fazer para ajudar quem não pode praticar isolamento social?

A resposta que ajudei a construir junto com dois amigos — Isabella Silva (19) e Daniel Meneses (20), estudantes de publicidade na Universidade Presbiteriana Mackenzie — foi o projeto #UmaSóMão. Ambos mobilizaram suas redes para arrecadar doações. O dinheiro se transformou em mais de 60 kits de higiene básica, comida e cobertores para serem doados a pessoas em situação de rua, em São Paulo. Tive a oportunidade de dirigir um dos carros para levar as entregas e registrar toda a ação.

Saímos todos às 8h da manhã para preparar os kits e encher os carros. Foram mais de 60 kits de higiene, comida e mais de 60 cobertores. Após duas horas de montagem, seguimos em direção à zona sul de São Paulo, na região das estações Praça da Árvore e Saúde do metrô. A área é composta de várias praças e nelas há aglomerados de barracas com moradores de rua.

Entre 2015 e 2019, o número de crianças em situação de rua na capital paulista cresceu 31% segundo pesquisa encomendada pela prefeitura
Gabriel Benzi

Rodamos cerca de 50 quilômetros. Pelo caminho, paramos incontáveis vezes para entregar kits e cobertores. Enquanto estávamos de máscara, luvas e constantemente nos higienizando com álcool em gel, o choque de realidade ficava claro. Se deparar com o fato de que existem pessoas que simplesmente não têm como se proteger é sempre um tapa na nossa cara.

Um detalhe me confortou. No momento em que estávamos entregando o material, encontramos, pelo menos, outros 2 grupos diferentes distribuindo marmitas e alimentos para as pessoas.

A frustração é que nosso esforço tocou apenas 60 pessoas. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, em 2019 São Paulo tinha 24 mil moradores de rua. O nome do nosso movimento é uma referência ao fato de que não serão ações únicas que farão a diferença. O que pode realmente mudar a situação é a combinação de fatores – algo que pude presenciar. Várias ações com o mesmo fim são como várias mãos unidas e estendidas para ajudar.