O torneio acontece de forma anual e promove a mensagem de acabar com a situação de moradores de rua no mundo todo, por meio do futebol
A Copa do Mundo é o maior e mais conhecido evento de futebol atualmente. A cada edição, centenas de pessoas acompanham o torneio, para apoiar a sua nação em busca da tão sonhada taça.
Apesar da importância que a Copa tradicional possui, existem outros torneios futebolísticos pelo mundo, e muitos deles buscam promover transformações sociais por meio do esporte, como é o caso do Homeless World Cup (Copa do Mundo dos Sem Teto). O evento anual reúne diversas nações e os times são formados inteiramente por pessoas em situação de vulnerabilidade social, aí está o diferencial da competição.
O torneio
A ideia surgiu a partir de uma conversa entre dois amigos em um bar na cidade austríaca de Graz, em 2001. Mel Young e Herald Schmied discutiam formas de como mudar o mundo, após um evento anual da INSP (International Network of Street Papers), uma organização sem fins lucrativos dedicada a combater a pobreza e a falta de moradia por meio de jornais que ajam de forma local. Ambos queriam mostrar o que pessoas nessa situação estavam vivenciando, e assim surgiu uma ideia: a utilização do futebol como linguagem universal.
18 meses depois, nascia a primeira edição do Homeless World Cup, em Graz. A competição aconteceu entre os dias seis e doze de julho de 2003 e contou com 100 jogos. O torneio uniu 18 países e 144 jogadores, formando times mistos.
A grande campeã da Copa do Mundo dos Sem Teto foi a anfitriã Áustria, que, na final, venceu da Inglaterra por 2 a 1. O Brasil também participou do novo torneio e terminou em quarto lugar.
Em 2010, o Brasil sediou a Copa, que ocorreu no Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi introduzida a categoria feminina. Os times brasileiros, feminino e masculino, venceram a disputa.
A respeito do critério de seleção dos jogadores, devem ser selecionados até oito jogadores, com grupos mistos. A seleção deve mudar a cada ano e não poderá contar com jogadores que já tenham participado antes. Os atletas devem se encaixar na faixa etária de 16 a 20 anos, com preferência para jovens de comunidades, no caso do Brasil.
O evento realizou recentemente sua 18ª edição, sediada em Sacramento, nos Estados Unidos, após uma uma paralisação de três anos, causada pela pandemia de covid-19.
Atualmente, a competição conta com mais de 70 países, que são associadas a outras organizações e projetos sociais.
O futebol transformador no Brasil
ESQUINAS conversou com Pupo Fernandes, 49, organizador e co-fundador do Projeto Futebol Social Pupo Fernandes, 49. Ele conta que o projeto nasceu de fato em 2004, um ano depois da primeira edição de um torneio futebolístico organizado pelo Criança Esperança. Fernandes criou o Futebol Social junto de seu amigo, Guilherme Araújo.
A ideia do projeto é tirar meninos do mundo do crime e das drogas por meio do futebol, como explica Fernandes:
“Fazemos com que esses garotos acreditem no seu potencial, que eles são visíveis à sociedade.”
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O futebol mudando vidas
O projeto do Homeless World Cup já abriu novos caminhos para diversos jovens. Além de formar atletas, a iniciativa cria novos rumos para as pessoas. Alguns se tornaram cozinheiros, escritores e até mesmo empresários.
Michele Carioca, 33, atacante do clube América Mineiro, participou da Homeless em 2007 e explica que, para ela, a experiência foi transformadora:
“Foi uma coisa única. Através da Homeless Cup surgiram oportunidades dentro do futebol para mim.”
Além disso, a atleta ressalta a importância de projetos como esses para os jovens, mudando a história deles dentro da comunidade.
Já o estudante de fisioterapia Gabriel Poeira, 26, participou do torneio em 2016. Nascido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, ele participou das seletivas para a competição e teve seu primeiro contato com o torneio em 2013, aos 16 anos. Para Poeira, a experiência foi gratificante, pois, graças ao projeto, ele viajou de avião pela primeira vez e para fora do país, podendo experienciar e conhecer novas culturas mundo afora.
Hoje, além de cursar fisioterapia, Gabriel participa também de outro projeto que procura trazer os jovens do Complexo do Alemão para o futebol. Alguns dos jovens da ONG têm a oportunidade de disputar a Taça das Favelas.