Futebol e política: uma relação histórica - Revista Esquinas

Futebol e política: uma relação histórica

Por Camille Magri, Felipe de Paula, João Luiz Freire, Lívia Volpe, Pedro Damiati e Pietro Ferrete : dezembro 15, 2021

Foto: Mídia Ninja

Pesquisadores explicam a importância da fusão entre a discussão política e o futebol para a sociedade atual

Você já parou para pensar na grande influência que o futebol exerce no Brasil? Ou já se perguntou por que até discussões políticas já influenciaram e foram influenciadas por essa prática esportiva? É muito comum vermos pessoas vibrando pelo seu time, se emocionando diante de uma grande vitória ou até mesmo mudando os seus planos do dia para não deixar de assistir a um jogo imperdível.

No entanto, as raízes deste esporte na sociedade brasileira são mais profundas do que aparentam. Por conta disso, o futebol se entrelaça com outras grandes questões da sociedade brasileira, como a política.

O futebol carrega vários elementos que dialogam com a cultura brasileira e, por isso, é parte integrante da nossa sociedade. Esse esporte tornou-se popular no Brasil e no mundo no século XX e, desde a sua origem, já esteve relacionado com uma série de pautas socioculturais e políticas.

Segundo o professor de ciências sociais, especializado em futebol, Bernardo Borges Buarque de Holanda, não é possível pensar o futebol e a sociedade como polos distantes: “Na verdade, o que nós temos é uma interpenetração dessas duas coisas. O futebol espelha a sociedade ao mesmo tempo que ele é constitutivo dela. A gente consegue entender essa força do futebol pela forma com que ele se enraíza na sociedade”.

Um exemplo da influência do futebol na sociedade e na política do Brasil é o Museu do Futebol, localizado na cidade de São Paulo, um dos locais preferidos de torcedores fanáticos e engajados politicamente. Essa relação entre esporte e política fica evidente nas diversas sessões que o museu possui sobre os principais acontecimentos da história do futebol brasileiro.

Conforme afirma Ademir Takara, bibliotecário do Centro de Referência do Futebol Brasileiro, o museu aborda a política em vários momentos, principalmente através das imagens: “Citando a Sala das Copas, por exemplo, uma das imagens sobre a conquista do tricampeonato mundial, em 1970, mostra o capitão da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Torres, erguendo a Taça Jules Rimet junto com o general-presidente Garrastazu Médici, exatamente para ressaltar todo o envolvimento da ditadura militar na preparação do selecionado e o uso da vitória como peça de propaganda do regime’’.

O museu cumpre uma função social importante relacionada à conscientização política, visto que a compreensão sociocultural e democrática começa com o direito à informação, um dos principais motivos da existência do museu.

Takara comenta que “O museu é uma rede em permanente expansão que busca conectar as pessoas que têm ânsia em saber mais sobre as múltiplas faces do futebol, dentro e fora das quatro linhas, sejam elas da academia ou pessoas que têm curiosidade. Embora muitas dessas pessoas sequer percebam, a política está permanentemente ligada à existência do museu, pelo simples fato deste não fechar as portas para nenhuma das práticas inerentes ao futebol’’.

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Atletas que se posicionam

A sociedade, de forma geral, espera que os atletas se manifestem politicamente em defesa dos direitos de minorias e em prol de uma realidade mais justa e menos desigual? Para o doutor em Ciências da Comunicação, José Carlos Marques, isso não ocorre em função da grande hierarquização que existe no esporte, com o peso e a pressão dos dirigentes, patrocinadores, torcedores e entidades.

Contudo, ele destaca que já tivemos alguns personagens que assumiram esse papel recentemente, como os jogadores da seleção brasileira Richarlison, Paulinho, e até mesmo a rainha do futebol, Marta. O pesquisador acrescenta que a função desse posicionamento dos atletas não seria o de influenciar a visão política das pessoas: “Acho que a contribuição, neste caso, tem a ver com a visibilidade e a repercussão que o esporte pode dar a questões e temas para além do próprio esporte e que são de interesse social.”

Para além do futebol e observando a perspectiva histórica, ocorreram muitos momentos em que as práticas esportivas foram diretamente influenciadas pelos contextos políticos locais. Tanto competidores, quanto integrantes das torcidas já se utilizaram da visibilidade dos jogos para carregar mensagens políticas: os atletas ajoelhados antes do início dos jogos da NBA e das provas de Fórmula 1, em alusão ao movimento “Black Lives Matter”, em 2020; ou durante os Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, quando atletas ergueram os punhos na cerimônia do pódio, em referência ao movimento racial norte-americano.

Um dos principais exemplos de manifestação política dentro do cenário do futebol brasileiro foi a Democracia Corinthiana. O movimento era liderado pelo elenco com a diretoria do Corinthians e lutava pela volta da democracia no Brasil nos anos 80. A iniciativa teve início dentro do próprio clube, aplicando a democracia nas mais diferentes decisões do dia a dia, como contratações, reformas no clube social e aumento de salários.

Assim, frases como “Diretas Já” e “Quero votar para presidente” eram constantemente adicionadas aos uniformes utilizados pelos jogadores do Timão. O ato mais simbólico do movimento foi a entrada em campo dos jogadores, antes da final do Paulistão de 1983, com uma faixa com os dizeres “ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.

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