Vadão, o técnico da seleção brasileira, comenta sobre a Copa do Mundo da França e o cenário do esporte no País
Era 2016, ano dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Oswaldo Fumeiro Alvarez, mais conhecido como Vadão, aceitou o convite de liderar a seleção brasileira de futebol feminino. O resultado agradou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mesmo com o quarto lugar. Voltou ao cargo após o término do contrato, agora para comandar a equipe na Copa do Mundo da França três anos depois. As expectativas eram altas para os jogos da Copa, porém a equipe foi eliminada no último domingo (23) pelo time do país-sede.
Encarregado do comando de 18 equipes em 28 anos de carreira, Vadão ganhou notoriedade no meio futebolístico logo de início: montou no Mogi Mirim Esporte Clube um time super-ofensivo, que na época ganhou o apelido de “Carrossel Caipira”. À frente da seleção brasileira feminina, venceu 35 partidas, empatou 5 e perdeu 16 – destas, 75% foram de um ano para cá. Após a derrota contra as francesas, o técnico espera permanecer no cargo diante de uma possível demissão por parte da CBF na próxima semana.
ESQUINAS Foram postados diversos comentários sobre sua atuação como técnico da seleção feminina de futebol, em especial após a derrota contra a França no último domingo. Como você lida com essas críticas por ser um homem no comando de um time de mulheres? Isso trouxe uma pressão maior para a Copa?
Não, eu não vejo dessa forma, até porque já é a minha segunda passagem. Se eu voltei, é porque alguma coisa de bom eu fiz para ganhar novamente a confiança da diretoria da CBF. As críticas fazem parte da minha profissão. Trabalhei tanto tempo no masculino, minha carreira inteirinha foi feita no masculino, em que a pressão é muito grande, então essas coisas não me incomodam de maneira alguma. E outra, tudo o que a gente veio passando também é em virtude de alguns resultados que não foram bons antes da Copa do Mundo, é absolutamente normal que a gente tenha que lidar com esse tipo de crítica, de comentário.
ESQUINAS Como técnico, o que você procurou fazer diferente para obter novos resultados em relação às outras Copas, uma vez que o Brasil nunca foi campeão?
Nós temos duas formas definidas de jogo, que é o 4-4-2 e o 4-3-3, mas treinamos algumas alternativas para situações de emergência, tanto a parte mais defensiva quanto a mais ofensiva. Acho que os resultados que tivemos também foram em virtude de desfalques, contusões, como a gente só se encontrava para jogar. Tinha que montar um time a cada jogo, a cada viagem. Colocamos muitas jogadoras jovens, que nunca tinham entrado em campo pela seleção. Só que no Brasil isso não serve de desculpa, por mais que esteja desfalcado, você tem que vencer, vencer e vencer. Esse foi o grau de dificuldade que tivemos nos últimos jogos.
ESQUINAS Você acha que houve uma pressão maior para o Brasil levar a Copa com o trio veterano Marta, Formiga e Cristiane jogando pela última vez?
Acho que a pressão é normal, independente de tudo isso. Todos disseram que era a última vez, mas nós temos Olímpiadas ano que vem e as três tem condições de jogar tranquilamente, só que não é um mundial, né? A pressão tem aumentado porque agora você tem uma cobertura maior da mídia, é a Copa do Mundo com a maior cobertura, principalmente no Brasil, muito grande da Rede Globo, SporTV e outros canais. É um contato maior com o público, logicamente, o que leva a essa pressão maior. Mas é absolutamente normal e tranquilo. Acho que essas três atletas que você citou independente de ganhar ou não já deram uma enorme colaboração para o futebol brasileiro e mundial. A Marta, seis vezes a melhor do mundo, deu uma colaboração mundial sendo a melhor jogadora disparada do mundo, assim como tivemos Pelé no masculino. Independentemente de qualquer coisa, a pressão é normal e faz parte de uma competição importante como a Copa.
ESQUINAS Esse maior contato que a Copa Feminina está tendo com o público pela cobertura da TV aberta, além do fato de que também é a primeira vez que as jogadoras terão uniformes exclusivos, dá a visibilidade que o futebol feminino merece?
Acredito que sim. Já tivemos uma melhora muito grande no campeonato interno, o Campeonato Brasileiro. São 36 equipes que já estão na segunda fase, na série A2 do Brasileirão, e 16 na A1, então houve um número considerável de atletas participando de campeonatos importantes. Até então a gente tinha muitos poucos clubes [com times femininos], agora não, com a obrigação que a CBF impôs, temos um número maior de atletas mulheres em atividade no Brasil. Isso já é um avanço. Com tudo o que está acontecendo nessa Copa, acreditamos que o futebol feminino vai finalmente dar uma arrancada com um pouco mais de velocidade, um pouco mais de rapidez e eficiência.
ESQUINAS O que faltava para o futebol feminino ganhar essa visibilidade toda?
Falta uma maior colaboração dos clubes, do governo. Se você pegar o desenvolvimento do futebol feminino em outros países, ele começa já nas universidades, nas escolas. As crianças começam a jogar muito cedo, então isso é o que dá essa credibilidade toda. Quando as meninas chegam na idade adulta, já estão com uma formação técnica, um lastro físico muito grande. O que está faltando é realmente que todo mundo se empenhe para desenvolver a modalidade, e eu acho que agora me parece que as coisas estão entrando nos seus devidos lugares.