O repórter boleiro: Fernando Fernandes conta como consegue extrair grandes histórias dos jogadores - Revista Esquinas

O repórter boleiro: Fernando Fernandes conta como consegue extrair grandes histórias dos jogadores

Por Carlos Lirio, Gerson Nichollas e Gustavo Vasco : janeiro 28, 2022

Fernandinho apresentando seu programa "Esporte Total".

Em entrevista exclusiva, Fernandinho fala sobre a carreira de repórter e o programa que o consagrou como um dos grandes nomes do jornalismo esportivo

A trajetória de Fernando Fernandes é curiosa. Ironicamente, um dos maiores repórteres da televisão brasileira queria ser médico, achava chato escutar futebol no rádio e, depois de terminar a faculdade, passou dois anos “pegando onda e vendendo cerveja” no Rio de Janeiro. A impressão que fica é que, por mais que tudo conspirasse contra, era o destino do menino criado na Mooca se transformar em um dos grandes jornalistas esportivos do país.

O primeiro contato com o jornalismo esportivo se deu em meados de 1988, quando Fernandinho entrou para a Rádio Gazeta para trabalhar na equipe de Osmar Santos. “Eu dei muita sorte na minha carreira, trabalhei com muita gente boa”, afirma Fernandes. A sorte somada à competência, que sempre demonstrou, era a receita perfeita para o sucesso.

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Fernandinho como repórter em Portugal, 1992.
Acervo Pessoal

O resultado disso é um currículo repleto de grandes feitos — cobriu nove Copas do Mundo (sete in loco), cinco Olimpíadas, 30 finais de Campeonato Brasileiro, além de cobrir a Fórmula 1 na época de Ayrton Senna e se tornar o primeiro repórter brasileiro a trabalhar na TV portuguesa.

“Peguei uma época muito legal quando estava na Europa. Vi Romário no PSV e o Casagrande no Torino”, comenta.

Papo de Boleiro

O Papo de Boleiro foi um dos primeiros quadros esportivos a propor um bate-papo de maneira mais irreverente com os atletas. O programa tem um nome auto-explicativo e consiste em uma entrevista protagonizada por um jogador para Fernando Fernandes. Por isso, falar a linguagem da boleiragem é um fator fundamental para conseguir uma aproximação com os atletas. Fator este que Fernandinho domina de um jeito tão natural que chega a soar como um ex-jogador.

Dessa maneira, o repórter boleiro explica que o “Papo” foi uma consequência de toda a bagagem adquirida ao longo desses 36 anos de profissão. “O programa é a soma de toda essa experiência que eu tive ao longo da minha formação profissional, somado ao meu jeito de ser, sempre muito transparente, acho que isso ficou marcado para as pessoas”, diz com convicção.

“O primeiro episódio foi com o Luís Fabiano e eu consegui entender o espírito do quadro, além de dar sorte com os câmeras. Foram eles que construíram a linguagem do programa”, relembra o jornalista. “Eu não queria microfone, porque isso inibe o entrevistado, então as gravações basicamente se resumiam em duas câmeras soltas e um boom”, de tal maneira que a pessoa nem percebe que está sendo entrevistada”.

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Quando perguntado sobre a fama em ter proximidade com os jogadores, além da facilidade em falar a língua dos boleiros, a resposta foi “alá” Fernando Fernandes — sem rodeios.

“Eu sou eu, não sou um personagem. O mundo do futebol é leve, é mais suave, a linguagem é mais descontraída, e isso combina com a forma que eu levo as coisas. Não sou agressivo e nem violento com ninguém, mas não deixo de fazer o meu trabalho”, afirma o jornalista.

“Muitos acham que eu tenho o telefone de todo mundo, que eu saio pra jantar com os caras, o que não é verdade. A questão é que eu nunca esqueci que embaixo da camisa tem gente e, a partir do momento que eu respeito os caras, eles me respeitam também. Por isso, mesmo quando eu tenho que fazer uma pergunta mais dura, eu posso fazê-la sorrindo”, conclui.

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Fernandinho apresentando seu programa “Esporte Total”.
Reprodução: Band

Gustavo Furtado, colega de trabalho, é prova viva do sucesso do companheiro de Bandeirantes. “O Fernando tem a linguagem do boleiro. Os jogadores gostam muito dele, atendem ele sempre muito bem, porque ele também é cordial, claro, não foge da pergunta quando tem que perguntar, mas é um cara que é amigo, parceiro. Ele tem essa facilidade”, afirma.

Por outro lado, Fernando Fernandes faz questão de frisar que o “Papo de Boleiro” deu certo porque enfatizou o personagem e não o repórter, além de pouco se preocupar com o nome do entrevistado.

“Eu lembro uma vez que estava na Espanha e eu entrevistei o Cléber Santana. Foi uma das entrevistas mais legais que eu já fiz na vida, um cara muito espontâneo, divertido. O papo de boleiro é humanizar o atleta, não importa onde ele joga, o que vale mesmo é a história de vida que ele tem pra contar. É isso que a gente quer ouvir e é isso que o cara gosta de falar”, conta o repórter.

Por fim, o ex-jogador e ídolo do São Paulo, Souza, atualmente comentarista da TV Bandeirantes, explica que essa humanização feita por Fernandinho contribui para uma melhor relação com os jogadores.

“O Fernandinho sempre foi muito bem visto no meio do futebol. Para mim, a grande diferença dele é que sempre foi muito humilde, conversava com todo mundo, diferente de muitos repórteres, que acham que tem o rei na barriga”, finaliza o comentarista.

Editado por Anna Casiraghi

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