Os bilhões da Copa: quanto dinheiro gira em torno do maior evento de futebol do mundo? - Revista Esquinas

Os bilhões da Copa: quanto dinheiro gira em torno do maior evento de futebol do mundo?

Por Carolina Azevedo, Felipe Parlato, Giulia Lozano, Leonardo Caparroz, Lívia dos Santos, Silvio Júnior e Vinicius Silvestre : novembro 30, 2022

Visita ao estádio Lusail, no Qatar. Foto: Isac Nóbrega/PR

A competição esportiva mais famosa do mundo movimenta não só uma quantidade massiva de fãs, mas também de bilhões em dinheiro

A cada quatro anos, seleções de diversas partes do mundo se reúnem em um país sede para disputar partidas em busca da glória e um lugar na história do futebol – além de US$42 milhões.

A vigésima segunda edição do torneio acontece num pequeno país na costa nordeste da península arábica com uma situação econômica, no mínimo, favorável: devido às exportações de petróleo e gás, o Catar é um dos países mais ricos do mundo. Apesar de ser a primeira nação árabe a sediar o evento, sua escolha não foi poupada de polêmicas.

Inaptidão e despreparo para abrigar o evento, ausência de cultura futebolística, problemas com direitos humanos e liberdades, e acusações de corrupção entre o Comitê de Candidatura do Catar e membros e executivos da FIFA colocaram a candidatura, e a decisão, em dúvida.

Com sete estádios – e uma cidade inteira – construídos para a Copa, é evidente o investimento estratosférico na competição – e não é só por parte do Catar, a FIFA também desembolsa uma bolada para custear seu evento mais lucrativo.

Os donos da bola

A Fédération Internationale de Football Association, ou FIFA, é uma organização internacional que dirige o esporte mais popular do mundo, o futebol. Fundada em 1904 em Paris, ela tem, atualmente, sede em Zürich, na Suíça. São 211 entidades esportivas associadas, que representam o esporte em países ou territórios e se dividem em seis confederações regionais: África (CAF); Ásia (AFC); Europa (UEFA); América do Norte, América Central e Caribe (CONCACAF); Oceania (OCF) e América do Sul (CONMEBOL).

Ela também é responsável por diversos eventos, como o Mundial de Clubes, a Copa das Confederações, o torneio Olímpico de futebol masculino e feminino e, é claro, a Copa do Mundo. Todas as competições da FIFA são importantes, mas a principal fonte de lucro é o torneio mundial de seleções.

Os relatórios da organização são pensados em períodos de quatro em quatro anos que, justamente, acompanham os ciclos de Copa do Mundo. Sendo assim, 2022 marca o fim do ciclo catari para a FIFA, e a partir do ano novo terá início o ciclo do torneio de 2026, sediado por México, Canadá e Estados Unidos.

A FIFA passa os três primeiros anos do ciclo no vermelho. Desavisados podem estranhar o prejuízo que a organização sofre nos anos sem torneio, mas é sempre assim. As competições que acontecem nesse período, como o Mundial de Clubes e a Copa do Mundo Feminina, não geram receita suficiente para cobrir as despesas da entidade.

A galinha dos ovos de ouro da federação é a Copa do Mundo Masculina. Se ela passa os três primeiros anos do ciclo no negativo, ela compensa todo o gasto no ano final com o dinheiro que entra de patrocínios, direitos de transmissão, marketing e vendas de ingresso. Ela não só arca com as despesas acumuladas, como ainda consegue lucrar.

“A FIFA normalmente fecha com lucro, e é por causa da Copa do Mundo Masculina”, afirma Marcel Rizzo, colunista de esportes do UOL. “A FIFA previu, para esse ciclo de 2022, uma receita de US$6,4 bilhões, sendo US$4,2 bilhões só com a Copa do Mundo. E desses US$4,2 bilhões, US$2,4 bilhões são de direitos de transmissão, que é a maior fatia que a FIFA recebe na Copa. Depois vem marketing, vendas de ingressos, que são valores inferiores.”

Mais especificamente, cerca de 11% da receita da Copa corresponde às vendas de ingressos; enquanto 29% vem de patrocinadores. Adidas, Coca Cola, Visa e Qatar Airways são alguns dos parceiros da FIFA; já empresas como McDonald’s e Budweiser patrocinam a competição em si.

Muito dinheiro também sai do bolso da organização nesse período. Segundo relatórios oficiais da FIFA, o valor investido no torneio deste ano foi de US$1,7 bilhões – um decréscimo se comparado aos US$1,8 bilhões para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Desse valor, 15% são para operações de TV, 19% para outros gastos operacionais, como tecnologias esportivas, comunicações e transportes do evento. A maior parcela de gastos é, na verdade, o dinheiro de premiação. Ao todo, US$440 milhões são destinados às seleções participantes.

Bilhões

Fonte: FIFA Publications- Annual Report 2020 (2022 budget | FIFA Publications)
FIFA

Qual o retorno para as seleções?

Além de uma estrela no emblema, a oportunidade de levantar a taça e o reconhecimento como a melhor seleção do mundo, o campeão da Copa leva o valor de US$42 milhões. O segundo lugar também não sai com os bolsos vazios, faturando US$30 milhões. Para os medalhistas de bronze, o prêmio é de US$27 milhões.

Dentre os primeiros fora do pódio, a seleção em quarto lugar leva US$25 milhões. Quem for eliminado nas quartas ganha US$17 milhões; nas oitavas, US$13 milhões. Os times que não passaram da fase de grupos voltam para casa com “singelos” US$9 milhões.

E não é só isso, cada seleção classificada para o torneio recebe um adiantamento de US$1,5 milhão para despesas preparatórias para a competição. “É uma espécie de antecipação financeira que a FIFA dá para essas seleções, para elas poderem resolver o período pré-Copa”, relata Rizzo. “A FIFA, inclusive, cobra uma prestação de contas desse dinheiro. Não pode cair ali US$1,5 milhão na conta da federação e ela usar, por exemplo, para pagar contas, salários atrasados ou para algum fim que não seja realmente ligado à preparação para a Copa do Mundo”.

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Além dos bilhões, outros investimentos

O Catar é um dos países com maior PIB per capita do mundo. Menor do que o Sergipe, o menor estado do Brasil, o país tem o petróleo e o gás natural como bases de sua economia.

Se o investimento que o Brasil fez para sediar a Copa em 2014 já foi considerado exorbitante e motivo de revolta, comparado ao valor gasto pelo Catar, ele não passa de troco de pão. Enquanto o torneio custou US$15 bilhões para nós, o país árabe vai investir 220 bilhões na Copa do Mundo mais cara já vista.

bilhões

Este gráfico mostra os custos totais de sediar os torneios da Copa do Mundo da Fifa, em bilhões de dólares.
Statista

Inclusos nas despesas cataris estão a construção de sete dos oito estádios que serão usados na Copa, uma rede metroviária, hotéis, aeroportos e uma cidade inteira.

Lusail é uma cidade situada na costa norte do Catar, a 24 km de Doha. Ela tem cerca de 35 km² (o bairro Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, tem 37 km²) e deve ser capaz de abrigar uma população de 450 mil. A construção foi iniciada quatro anos antes de 2010, ano em que a FIFA confirmou o país como futura sede da Copa. Em 2018, 80% da infraestrutura da cidade já estava concluída.

Lusail é parte de um plano de desenvolvimento do Catar e o maior desenvolvimento sustentável do país, de acordo com o Conselho Nacional de Turismo. A cidade concentra 22 hotéis e um parque temático – além do Estádio Icônico de Lusail, de 80 mil lugares e será o palco da final da Copa do Mundo.

O investimento do Catar é pensado a longo prazo. Uma das justificativas da FIFA e do governo que vai sediar o evento é de que, após a competição, o investimento fica para o país. “A gente tem que lembrar que o Catar é um país com muito dinheiro, que tem um um modelo de governo monárquico”, relembra Rizzo. “É diferente do Brasil ou até mesmo da Rússia. Teoricamente, para eles, que foram as últimas duas sedes antes do Catar, você tem que prestar contas. No Catar não, lá eles decidem”.

Desde que ganharam a disputa para sediar o torneio em 2010, eles tiveram 12 anos para trabalhar a entrada do país no mundo do futebol. A Qatar Airways, companhia aérea do país, hoje patrocina a Libertadores, o torneio internacional de clubes sul-americanos. Em 2011, a Qatar Sports Investments comprou o Paris Saint-Germain – hoje um dos maiores clubes do mundo justamente por conta desse dinheiro.

Eles usaram o fato de terem ganho a sede da Copa do Mundo para, neste tempo, trabalhar a imagem em outros países e fazer investimentos. “Tudo isso foi trabalhado para o evento no Catar”, defende Rizzo. “Então essa diferença entre valor investido e o que, de fato, eles vão ganhar, tem que ser diluída nesses 12 anos e o que eles faturaram com a entrada no mundo do futebol.”

Ganhos e gastos milionários no país do futebol

Nas terras do penta, quem comanda o esporte é a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ela se apoia, principalmente, em seus patrocinadores para se autossustentar e gerar lucro. Em 2017, véspera da Copa do Mundo na Rússia, a organização arrecadou cerca de R$ 353 milhões somente com patrocínios, o que representou 60% de seu lucro total de R$ 545 milhões.

Além disso, a transmissão de disputas da Seleção Brasileira também é crucial para a movimentação monetária da entidade nacional máxima de futebol, já que os direitos de transmissão das partidas pertencem a ela. Na Copa do Mundo de 2018, quase R$ 156 milhões vieram deste segmento, segundo dados fornecidos pelo próprio site da Confederação.

Além dos pilares mencionados para a movimentação de dinheiro, a CBF conta com arrecadação em bilheteria, receitas eventuais, programas de desenvolvimento e premiações. Neste ano, espera-se que, além do hexa, a seleção nacional embolse cerca de R$ 216 milhões com a Copa do Mundo no Catar.

E para onde esse dinheiro vai? Segundo informações oficiais divulgadas pela CBF, grande parte do valor – pouco mais de 34% da arrecadação – é direcionada à própria organização e seu administrativo. A Seleção Brasileira demanda 18% do valor; o que inclui as viagens da equipe, hospedagens e os demais custos enquanto competem.

De 2015 a 2018, período do qual se têm as últimas informações de recebimentos e gastos da Confederação, a comissão técnica, a seleção e a Granja Comary – centro de treinamento da seleção – requisitaram a quantia de R$ 388,51 milhões dos cofres da CBF, algo em torno de R$ 97,1 milhões por ano.

Rizzo afirma que a distribuição do prêmio é previamente acordada pela CBF, por uma questão de praticidade. “Normalmente, a CBF combina com os caras que, em caso de título, todo o valor é distribuído entre jogadores, funcionários, comissão técnica; enfim, todo mundo que participa da campanha.” Em 2018, ano em que o Brasil foi eliminado nas quartas de final após confronto com a Bélgica, a seleção deixou a Rússia com US$16 milhões de dólares.

Quando a bola está rolando, também gira a economia das entidades envolvidas e a paixão do torcedor. Nessa Copa do Mundo, todos os bilhões aplicados estarão à serviço dos apaixonados pelo futebol arte e pela magia da competição.

Editado por Nathalia Jesus

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