#RespeitaAsMinas: a campanha corintiana que foi por água abaixo
Diante de tantos casos recentes de violência e abuso sexual contra o corpo feminino e aproveitando o Dia Internacional da Mulher deste ano, o Sport Club Corinthians Paulista lançou, no dia 7 de março, uma campanha em suas redes sociais defendendo o fim dessa situação. A hashtag #RespeitaAsMinas foi uma das mais comentadas na época. A ação não se limitou à internet. A frase também foi estampada em camisetas de jogo dos atletas. Segundo o clube, o objetivo era sensibilizar a sociedade para o combate ao assédio sexual e à violência contra a mulher. Mas não foi o que se viu.
Cinco meses depois do lançamento da campanha, o Corinthians contratou o atacante Juninho, de 19 anos, então jogador do Sport de Recife. Contudo, o atleta respondia a um processo por agressão, ameaça e injúria contra a ex-namorada, o que motivou a ira de torcedores nas redes sociais, que passaram a postar #JuninhoNoCorinthiansNão. Ironicamente, poucas horas antes do anúncio oficial, o clube fez uma publicação em seu Instagram comemorando os 12 anos da Lei Maria da Penha e promovendo denúncias aos agressores. Após a imensa mobilização da torcida no Twitter, o alvinegro desistiu da contratação. “A diretoria agiu certo, mas só agiu porque a gente fez muito protesto na internet. Se fosse por eles, eles contratariam. Tanto faz, só pensam em dinheiro”, critica a torcedora corintiana Suelen, de 23 anos.
Poucos dias depois, o meia Clayson, após ser insultado durante partida contra a Chapecoense, espirrou jatos d’água sobre um torcedor da arquibancada e atingiu a esposa e filho ao lado. Após o embate, o jogador, em entrevista ao GloboEsporte.com, pediu desculpas. “Acabei errando, ele estava ali com a família, quero mais pedir desculpas pelo ato, eu estava de cabeça quente. Mas uma coisa não justifica a outra”, disse Clayson.
Esses dois casos protagonizados por atletas do “Timão” revelam que a campanha #RespeitaAsMinas foi por água abaixo. O time recebeu milhares de críticas na internet por parte da torcida, especialmente feminina. A diretoria do Corinthians entrou numa saia justa devido ao caso. Segundo o ex-diretor de futebol profissional do clube, Sergio Janikian, “qualquer tipo de violência deve ser repudiada veementemente. Não são aceitos casos de violência doméstica, principalmente quando ocorrem contra uma mulher. O Corinthians tem como meta se manter dentro dos princípios éticos e morais neste caso”.
Mas fica o questionamento: e se Juninho, sendo promissor, tivesse um bom desempenho no clube, seria ele absolvido da agressão contra a ex-namorada? “O foco são sempre as características técnicas do jogador. Mas é claro que são levados em conta os aspectos pessoais de cada um, como histórico de disciplina, comportamento e atitudes dentro e fora dos campos”, responde Janikian.
Para os torcedores, os casos caíram como uma bomba. Ainda mais em tempos nos quais o tema do feminismo está em voga na sociedade, cobrindo, inclusive, o meio do esporte. A torcedora alvinegra Lara, de 30 anos, vislumbra um futuro para as mulheres dentro do mundo esportivo e na direção de seu “clube de coração”. Porém, ela ainda enxerga dificuldades enfrentadas pelas mulheres, como ocupar cargos mais altos dentro da diretoria.
Os casos de Juninho e Clayson afetaram a imagem do Corinthians em relação às mulheres brasileiras. A participação crítica da torcida nas redes sociais foi decisiva para a conclusão dos episódios, levando a crer que é possível combater a violência e o assédio contra as mulheres por meio da mobilização coletiva. Dessa forma Pedro, de 26 anos, outro fanático corintiano, apoia o movimento. “A atitude da torcida foi certa, porque o Juninho estava debochando de nós torcedores e de todas as mulheres. O que move o Corinthians é, antes de tudo, a nossa torcida, o décimo segundo jogador”.