Diante do cenário atual de eleições e fake news, o jornalismo é colocado à prova e se mostra uma arma de combate
2018 promete. Ano eleitoral com Copa do Mundo na polêmica Rússia de Vladimir Putin. Muitos comparam o cenário político-eleitoral atual com o ano de 1989 pela abundância de candidatos e pela imprevisibilidade das pesquisas de intenção de voto. Mas as similaridades param por aí. O Brasil de hoje é muito mais tecnológico e os partidos políticos já não dependem tão somente da televisão e do rádio para realizar suas propagandas eleitorais. Em tempos de cibercultura, as redes sociais e grupos de WhatsApp se transformam em poderosos meios de comunicação para estruturar campanhas e sacudir a corrida eleitoral.
“Faremos tudo para garantir a integridade das eleições no Brasil”, afirmou o fundador do Facebook Mark Zuckerberg. A maior rede social do planeta, assolada em crises de vazamento de dados e divulgação de notícias falsas, alterou no início deste ano seus algoritmos para privilegiar conteúdos de interação pessoal em detrimento dos gerados por empresas. A decisão fez com que a Folha de S. Paulo, criticando a diminuição da visibilidade do jornalismo profissional na rede social, deixasse de publicar notícias no Facebook. Essa postura da empresa de Zuckerberg reforça a ideia de que algoritmos precisos selecionam assuntos personalizados para cada grupo social, segundo suas opiniões e ideologias, mergulhando os usuários em uma verdadeira câmara de eco.
Se, por um lado, a internet democratizou a informação e possibilitou que candidatos à Presidência com tempo de TV inferior a quinze segundos liderassem as pesquisas de intenção de voto, por outro, tornou-se um caldeirão de notícias falsas, veiculadas sem compromisso com a apuração e checagem dos fatos. O jornalista do século XXI, assim, se vê sofregamente concorrendo com conteúdos compartilhados em redes sociais, grupos de conversas instantâneas e digital influencers. Não é difícil que ele perca essa batalha ingrata.
Em 2016, de acordo com o site de notícias Buzzfeed Brasil e com base em dados de interação do Facebook, as dez notícias de maior engajamento sobre a Operação Lava Jato eram falsas, superando em compartilhamento seus dez pares de notícias verdadeiras correspondentes. Tudo parece indicar que o grande desafio dos profissionais da comunicação para este ano seja o debate sobre a importância da alfabetização midiática. A profusão de informações ao alcance de um clique que a internet propicia exige que o indivíduo desenvolva um olhar crítico sobre o que é veiculado. É preciso conceder aos cidadãos conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para engajar a mídia tradicional com as novas tecnologias, capacitando o leitor comum a um pensamento reflexivo e questionador.
Empresas como Apple e Google vêm detectando esses movimentos e, sem perda de tempo, já lançam seus serviços de assinatura de notícias online. Isso reflete uma preocupação concreta dos grandes monopólios da internet e tecnologia em assegurar sua fatia nesse crescente mercado. Com isso, agora na contramão da web, os gigantes digitais passam a monetizar a informação fundada em conteúdo de qualidade, que atenda aos critérios de noticiabilidade normalmente esperados da redação jornalística tradicional. Notícias e reportagens apuradas com o rigor da verdade, objetividade e transparência podem não mais nascer da ação jornalística per se.
Novos horizontes se avizinham para o jornalismo e, talvez, o grande desafio para 2018 não seja mesmo nem a Copa e nem as eleições.