Uma interrupção em um dia comum - Revista Esquinas

Uma interrupção em um dia comum

Por Giullia Chechia : março 19, 2019

Atentado em Suzano (SP) choca região; relembre outros casos no País

Parecia mais um dia comum. Céu nublado, dia frio na região metropolitana de São Paulo, estudantes indo à escola. Mas eles não sabiam que aquela quarta-feira (13) não seria assim normal. A escola estadual Raul Brasil derramou lágrimas e estampou inconformação por todo o município de Suzano, na Grande São Paulo. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, estavam munidos por um revólver calibre 38, arco e flecha, machadinha e uma besta. Mataram dez, deixaram nove feridos e chocaram o País.

A movimentação da Rua Otávio Miguel da Silva nunca foi tão grande. Jornalistas, alunos, familiares e curiosos tentavam ultrapassar a fita colocada pela polícia, responsável por isolar o acidente do resto do mundo, mas incapaz de conter seus ecos.

O acontecimento em Suzano trouxe grande movimentação no município paulista
Giullia Chechia

Primeiro, os jovens passaram na loja Jorginho Veículos, atiraram e mataram o proprietário, Jorge Antônio de Moraes, tio de Monteiro. Seguiram rumo ao colégio em que uma vez já estiveram matriculados. Por volta das 9h da manhã, os garotos entraram na escola pela porta da frente e foram recebidos pela coordenadora, Marilena Umeza, primeira vítima fatal dos disparos.

Neide de Paula, moradora de uma residência na rua paralela à escola, conta sobre o barulho ensurdecedor que ressoou na região. Os dois primeiros tiros, o da gritaria das crianças e a sequência de disparos que se sucedeu.

Estava dado o ponta pé inicial do atentado planejado por mais de um ano. De acordo com as investigações, Monteiro e Castro fizeram longas buscas na internet sobre massacres ocorridos nos Estados Unidos. A polícia investiga ainda a possibilidade de a dupla ter frequentado a deep web – uma parte internet “proibida e obscura”, alimentada de conteúdos que incitam o ódio e a intolerância normalmente.

Naquele dia 13, havia aproximadamente 460 alunos frequentando as aulas no período da manhã. Os estudantes estavam no intervalo de aulas. A movimentação nos corredores era intensa. O menino mais novo, carregando a pistola, matou outra funcionária e mais cinco alunos. O garoto mais velho os acertava com a machadinha. O pai de uma das alunas, Karen Milene Guerra Cardoso, que sobreviveu ao atentado, conta à reportagem de ESQUINAS os momentos de desespero que passou ao receber a ligação da filha em meio à ação dos garotos.

O acontecimento era inédito na região. Os moradores da cidade seguem estarrecidos, sem entender exatamente o que aconteceu. Juliana Romera, de 40 anos, relata que abriu sua própria casa, localizado em frente à escola, para abrigar algumas das crianças que fugiam dos criminosos durante o massacre.

Após cerca de dez minutos, os jovens se depararam com a força tática e, cumprindo um acordo acertado previamente à ação, se suicidaram. Dez mortos. O carro do IML deixou a escola carregado de vidas ceifadas. As sequelas ficam marcadas apenas na memória das famílias das vítimas, nos portais de notícias e postagens na internet – assim como ocorreu tantas vezes na história do Brasil.

28 de outubro de 2002, Salvador (BA)

Um estudante de 17 anos levou o revólver 38, que pertencia ao pai, para a escola particular Sigma, na orla de Salvador, na Bahia. O jovem disparou contra duas colegas que cursavam a oitava série: Vanessa Carvalho Batista, atingida no peito e morta na mesma hora, e Natasha Silva Ferreira, atingida por três disparos e morta a caminho do hospital.

De acordo com os colegas das vítimas, o atirador havia se revoltado com as meninas e prometido vingança por conta de uma gincana na qual elas teriam o avaliado com nota baixa.

27 de janeiro de 2003, Taiúva (SP)

Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou armado na escola que frequentou durante grande parte da vida no interior de São Paulo. O rapaz feriu oito pessoas a tiros, mas não chegou a deixar mortos. Após a ação, Freitas disparou contra o próprio ouvido, suicidando-se.

Ele cometeu todo o crime sem dizer nenhuma palavra e posteriormente, ocupou uma linha de elogios grafados na carta de Wellington Menezes de Oliveira, responsável pelo massacre de Realengo, no Rio de Janeiro [a seguir].

7 de abril de 2011, Realengo (RJ)

A Escola Municipal Tasso da Silveira despertou aos tiros. Onze crianças mortas e 13 feridas, todas em idades entre 12 e 14 anos. O responsável pela tragédia foi Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da instituição, que entrou no colégio portando duas armas, efetuou os disparos e se suicidou. Oliveira deixou uma carta com informações desconexas, mas que evidenciava a intenção do suicídio após a tragédia.

Ataque a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo
Shana Reis / Governo do Estado do Rio de Janeiro

13 de abril de 2011, Corrente (PI)

Alegando ter se inspirado no atirador de Realengo, um adolescente de 14 anos assassinou o colega de classe de 15 anos na Escola Municipal Joaquim de Oliveira. Os garotos esperavam o ônibus no pátio da instituição quando iniciaram uma discussão que terminou com a vítima morta devido à um corte de estilete na jugular. Em depoimento, o assassino argumentou que constantemente sofria bullying no ambiente escolar, o que o motivou a reagir.

22 de setembro de 2011, São Caetano do Sul (SP)

Carregando a arma do pai, guarda civil, David Mota Nogueira disparou contra sua professora e se matou em seguida aos 10 anos de idade. Aluno do quarto ano da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, Nogueira não matou a funcionária. Os depoimentos colhidos pela polícia relatam que pelo menos dois colegas estavam cientes do plano do jovem executar a professora, mas acreditaram que não passasse de uma brincadeira.

11 de abril de 2012, João Pessoa (PB)

Um aluno de 16 anos da Escola Estadual Santa Rita disparou com uma arma calibre 38 – comprada ilegalmente – contra três meninas que estudavam na instituição. De acordo com o próprio atirador, a intensão era acertar um rapaz de 15 anos com quem havia discutido duas vezes. As meninas foram socorridas e receberam alta. Não houve vítimas fatais.

21 de novembro de 2014, João Pessoa (PB)

Uma adolescente de 14 anos foi baleada pelo ex-namorado, de 15 anos, na Escola Municipal Violeta Formiga. A estudante foi socorrida e encaminhada ao hospital, mas morreu na mesa de cirurgia após três paradas cardiorrespiratórias.

20 de outubro de 2017, Goiânia (GO)

Inspirado nos massacres do Realengo e de Columbine, nos Estados Unidos, um adolescente de 14 anos passou dois meses planejando o crime que ocorreu na sala de aula do Colégio Goyases. Sacou uma arma e atirou contra os colegas, deixando dois mortos e quatro feridos. De acordo com a investigação, o garoto alegou ter cometido o crime por escolha própria em resposta ao bullying que sofria.

28 de setembro de 2018, Medianeira (PR)

Membros do Colégio Estadual João Manoel Mondrone, na zona oeste do Paraná, foram surpreendidos por um estudante de 15 anos que abriu fogo contra seus colegas de sala, deixando dois feridos. O garoto, que carregava um revólver calibre 22, munições e uma faca, foi encoberto por um colega. Ambos foram apreendidos e alegaram sofrer bullying na instituição.