Ubiratan Leal: conheça o jornalista esportivo apelidado de "o Livro" - Revista Esquinas

Ubiratan Leal: conheça o jornalista esportivo apelidado de “o Livro”

Por Enzo Damo, Enzo Marcus, Lucas Biondi, Luigi Tocchet, Tiago Loiola e Victor Oossawa : agosto 24, 2023

É possível observar que Ubira é um profissional bem realizado. “Eu gosto da minha vida.”/Foto: Reprodução, Twitter

Ubiratan Leal, o “Livro”, é um jornalista esportivo, comentarista, apresentador e escritor, formado pela PUC-SP

Nascido em  São Paulo, no dia 6 de junho de 1978 e formado pela PUC-SP em 2000, é conhecido popularmente entre os torcedores, dada a extensão de seu trabalho sobre distintas modalidades esportivas. Além do clássico futebol,  Ubiratan também domina um amplo conhecimento sobre automobilismo, beisebol, basquete, surf, nacional e internacional.

Bira conseguiu unir sua característica de nerd clássico com sua paixão obsessiva por esportes, o que favoreceu muito sua carreira, possibilitando-o ser um profissional acima da média. Desde antes de ingressar no jornalismo, estudava e acompanhava esportes distintos, sempre com muita curiosidade e sede de conhecimento. Nunca se limitou a um nicho específico, amava o esporte como um todo, e quanto mais pudesse absorver daquilo melhor. 

A esposa de Ubiratan, Juliana Nakamura, que  conheceu no curso de jornalismo, descreve a relação do marido com o esporte como “paixão”. Algo que já está fortemente enraizado no cotidiano familiar, as datas da vida a dois são sempre associadas a acontecimentos históricos do futebol. O filho do casal, Guilherme, de 12 anos, herdou a mesma paixão do pai, junto da curiosidade por aprender sobre esporte e conhecimentos gerais.

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Bira e seu filho, Guilherme, durante uma partida da Portuguesa.
Foto: Reprodução/Instagram

Conquistou a atenção de torcedores variados em todo o Brasil por fugir do óbvio. Sempre gostou de comentar sobre times menores ou mais periféricos e modalidades esportivas com pouca mídia e visibilidade no Brasil, justamente para se distinguir do convencional. Trazendo representatividade e análises extremamente coesas, conseguiu atrair seguidores diversificados. Não buscava tanto o público mainstream, mas sim disseminar uma informação de menor demanda apenas pelo compromisso com o jornalismo de qualidade e amor ao que faz.

A qualidade de seu trabalho permitiu que tomasse um rumo muito diferente do que esperava. Bira iniciou no jornalismo como uma pessoa tímida e fechada, com aptidão por escrita e estudos, o que o fazia procurar um trabalho em alguma redação como escritor. No entanto, seu carisma e talento proporcionaram uma reviravolta em sua vida profissional. Foi se sobressaindo entre colegas no ambiente de trabalho que chegou até a televisão ao vivo. Fugindo do padrão esperado para as telas, Ubira conquistou seu espaço apenas com seu próprio mérito de ser um jornalista diferenciado.

É possível observar que Ubira é um profissional bem realizado. Conseguiu unir sua maior paixão e aptidão com o trabalho dos sonhos. Resume esse sentimento na frase:

“Eu gosto da minha vida.”

Esportes e infância

Ubiratan Leal parece ter nascido com o esporte incorporado em seu sangue, ou melhor, em seu coração. Desde pequeno sempre foi fascinado pelo assunto e se engana quem acha que era apenas o futebol. Bira, como é conhecido pelos íntimos, teve como primeira paixão esportiva em sua infância o automobilismo. Fanático pela Fórmula 1 em um período que antecede até mesmo a ascensão da modalidade no Brasil, fazia questão de acordar cedo no domingo todo final de semana para acompanhar as corridas ainda no período pré Ayrton Senna, onde não havia tanto apelo popular por parte dos brasileiros. 

Inclusive, foi em uma dessas manhãs acordando cedo a fim de assistir a corrida que, por desconhecimento de que no dia não haveria Fórmula 1, encontrou outro grande amor, o futebol italiano. O público sabe que Ubiratan torce pelo Hellas Verona, time que hoje não disputa grandes títulos ou qualquer jogo de grande exposição mundial, pelo contrário, luta ano após ano para escapar do rebaixamento, mas o que muitos não sabem é que o time foi campeão italiano da temporada 1984-1985, justamente o ano que Bira começou a acompanhar o torneio.

Ubiratan lembra daquela época com brilho nos olhos, dizendo com sua linguagem corporal o motivo de ter escolhido o futebol para amar. No ano de 1984, o campeonato italiano era referência mundial quando o assunto era liga esportiva. Os principais craques do planeta futebolístico estavam reunidos no país, espalhados por diversos times. Bira relata que escolheu o Hellas Verona por ser o vencedor do primeiro jogo a que assistiu, bem naquele domingo em que acordou esperando ver automobilismo, e até hoje acompanha a equipe. 

Hoje é conhecido por seus comentários nas transmissões de beisebol, esporte do qual a paixão também surgiu na adolescência. Bira conta com certa nostalgia a sua memória, quando frequentava as bancas de jornais toda terça de manhã na esperança de dar a sorte de conseguir um exemplar da Folha de S.Paulo, o único jornal na época que trazia atualizações da modalidade esportiva. Vale lembrar que os principais jogos do beisebol aconteciam aos domingos, mas pelo fato da rodada acabar durante a madrugada aqui no Brasil, as redações não conseguiam reportar a tempo para a edição de segunda-feira, o que ocasionava um vácuo de um dia entre o jogo e a notícia.

Ainda sobre o beisebol, Bira torce para o Toronto Blue Jays, e revela que ao ter contato com o esporte a vera, achou fascinante e ao mesmo tempo corajoso e desafiador existir um único time do Canadá em uma liga quase totalmente estadunidense. Novamente, Ubiratan mostra a sorte que teve. Em seu primeiro ano acompanhando o time, os Blues Jays conquistaram a World Series, o título da liga. Sobre essa conquista, Bira revela uma história engraçada que compõe uma de suas memórias mais marcantes dentro do esporte. Como as finais acontecem de domingo e o Brasil não transmitia a modalidade na época, a única forma de ficar sabendo o resultado do jogo era esperar de fato a edição da Folha de S.Paulo na terça-feira. Imagina a ansiedade? Ansiedade essa compensada pela felicidade sentida ao ver  resultado nos tablóides e finalmente o reinado estadunidense caindo.

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Ubiratan durante a infância, na década de 80.
Foto: Reprodução/Instagram

Ainda criança, Ubiratan criou uma superstição junto com sua mãe que duraria até os dias atuais. Sempre que viajavam para algum lugar, principalmente fora do país, era quase uma obrigação conseguir alguma camiseta de um time do local. Isso revolucionou o conhecimento esportivo de Bira. Uma das histórias contadas por ele, revela algo digno de provar sua paixão pelo diferente. Aos 14 anos, em uma viagem com sua mãe para a Venezuela, fez questão de comprar uma camisa de beisebol do time mais popular do país, Navegantes de Magalhães. Também foi a primeira vez que se sentiu parte de uma torcida, ao ser cumprimentado na rua pelas pessoas apenas por simpatizar pela equipe.

Uma figura de grande importância nessas histórias esportivas da infância e juventude de Ubiratan, é seu amigo Rodrigo Leme. Amigo de escola, amigo de bairro, amigo de viagem, mas acima de tudo amigo do esporte. Eternos rivais, os dois ignoravam sua discordância de times de futebol para viver momentos juntos dentro dele. Assistiam a jogos um do time do outro apenas para viver o momento. O passatempo favorito da dupla, segundo Leme, era produzir, em papel almaço, guias sobre diversos assuntos relacionados ao futebol, principalmente em período de Copa do Mundo.

O amigo de infância ainda revela que desde sempre Ubiratan teve tendências jornalísticas e Rodrigo acompanhou muito desses impulsos. Um projeto feito pelos amigos inseparáveis foi uma caravana realizada junto com o time Juventus da Mooca rumo a Santo André, para um jogo contra o Fluminense em partida válida pela segunda divisão do campeonato brasileiro de 1998. Além da viagem e da experiência em si, esse feito representou o começo da jornada de Ubiratan escrevendo sobre o que ama. A dupla produziu um artigo sobre a jornada e conseguiu até que ele fosse publicado pelo Portal da Mooca, veículo da região. E o que dois recém jovens de 20 anos faziam em uma caravana para Santo André acompanhar Juventus-SP e Fluminense-RJ sem nem mesmo torcer para nenhum dos times? A resposta é dedicação, como o próprio Rodrigo define a relação do Ubiratan com o esporte:  uma dedicação ao que ama.

Agência Placar, revista Trivela e revista ESPN: o começo de Ubiratan no jornalismo esportivo

Apesar de apaixonado por esportes desde sua infância, Ubiratan demorou alguns anos para unificar sua paixão e sua vida profissional. Formado em jornalismo pela PUC – SP em 2000, ficou quatro anos trabalhando como jornalista em uma revista voltada para assuntos de urbanismo e engenharia. Nessa época chegou a fazer freelas relacionados ao esporte, como a elaboração de um guia dos Jogos Olímpicos de 2004 para o Yahoo. E esse trabalho lhe rendeu um ótimo reconhecimento por parte da empresa contratante, que chegou inclusive a pagar uma remuneração superior à previamente combinada após seu guia ser traduzido para o espanhol e publicado no Yahoo México, Argentina e Estados Unidos. Já tinha criado também um blog sobre futebol e o alimentava regularmente. O “Balípodo” teve um bom alcance na época e, através dele, Ubiratan teve seu primeiro contato com alguns grandes nomes do jornalismo esportivo brasileiro, como Mauro Beting e Mauro Cezar Pereira.

Mas só em 2005 ele seria de fato contratado pela Agência Placar para escrever sobre o que ama. Inicialmente ele cuidaria de outros esportes, não futebol. Como sempre acompanhou uma porção de modalidades pelo mundo, ele seria responsável pelas notícias esportivas ao redor do globo. Depois de um tempo passou a cuidar também de futebol, quando virou setorista do Palmeiras, ainda pela Placar.

No início do ano seguinte, um site chamado Trivela, criado inicialmente por estudantes de jornalismo, receberia um investimento para se tornar revista e cobrir, a princípio, só a Copa do Mundo de 2006, mas na realidade as edições continuariam a ser produzidas por muito mais tempo. Como Ubiratan sempre preferiu a revista ao jornal, pois gostava de se aprofundar nos temas e escrever matérias mais complexas, a Trivela seria o lugar propício que estava à espera de suas habilidades.

“O Ubiratan foi uma das primeiras pessoas que a gente contratou. Ele na época tinha um blog chamado Balípodo, que era espetacular. Um dos meus sócios conhecia o Balípodo e indicou o Ubiratan. A gente acabou contratando” – Caio Maia, ex-chefe e amigo de Ubiratan.

Seu período trabalhando na Trivela seria essencial para se tornar o jornalista que é hoje. Lá ele acumulou uma ótima bagagem, principalmente como editor, cargo que exerceu por cerca de nove anos e só  deixou para passar o bastão a uma nova geração de talentos que, na visão de Ubiratan, mostraram seu valor.

Quando ainda era repórter, no final de 2006, trouxe para Trivela seu amigo e atual companheiro de ESPN Leonardo Bertozzi. Na ocasião acabavam de receber um novo investimento que possibilitava a ampliação da equipe. Ubiratan já conhecia o Bertozzi pelo MSN e a partir do ano seguinte passaram a trabalhar juntos como repórteres. Não tardaria para que o talento dos dois fosse reconhecido, depois de um tempo passaram a ser editores, Ubiratan da revista e Bertozzi do site Trivela.

“Ele entrou primeiro como redator, mas logo virou editor porque de fato era um cara com um conhecimento muito acima da média” – Caio Maia

Depois de alguns anos como editor, a Trivela passaria por novas mudanças na equipe. A editora Spring, que já contava com o sucesso da Rolling Stone Brasil, resolveu criar uma nova revista focada em esportes. Tiveram então a ideia de lançar a revista ESPN. A edição já existia nos Estados Unidos e pensaram em lançar uma versão no Brasil. A Spring, portanto, resolveu aproveitar uma equipe que já estava formada e trabalhando em sintonia, fizeram uma sociedade com a Trivela e no final de 2009, nas próprias palavras de Ubiratan, “a revista Trivela meio que virou a revista ESPN”.

Essa mudança acarretaria no surgimento de diversas novas oportunidades profissionais. Uma vez por mês havia uma reunião dos editores dos programas da emissora ESPN. Ubiratan passou a fazer parte dessas reuniões e conheceu muita gente de dentro da empresa assim.

Em meados de 2012 a revista ESPN parou de ser publicada. A Trivela, no entanto, continuava com seu site e, como Leonardo Bertozzi já tinha deixado o cargo de editor para trabalhar na emissora ESPN, precisavam de alguém para seu lugar. Ubiratan nesse ano passou a ser editor do site Trivela e mais dois outros sites da mesma dona: o Tazio, focado em automobilismo, e o Extra Time, que noticiava esportes americanos.

Durante quatro anos ele exerceu esses cargos, nesse meio tempo viu muitos estagiários serem efetivados e muitos jovens repórteres mostrarem serviço. A equipe, porém, ainda era pequena. Promover esses jovens significaria, necessariamente, alçá-los ao cargo de editor, que já era ocupado por Ubiratan. 

“Fiquei quatro anos como editor do site Trivela, nesse meio tempo eu via estagiários que foram efetivados e repórteres novos que assim, os moleques eram bons, estavam mostrando serviço e estavam ganhando mal pra c*. Então eu falei lá pro Caio: (chefe dele) ‘olha se tiver outra função que vocês quiserem me colocar, me coloquem, podem me tirar do Trivela, porque tem uns moleques aqui que estão pedindo passagem, estão querendo ser promovidos e estão merecendo, só não conseguem porque eu estou aqui’. Como era uma empresa pequena também não tinha muitos cargos pra ficar promovendo muita gente.” – Ubiratan

Por volta de 2015, a empresa dona do Trivela decidiria lançar uma nova revista de urbanismo em São Paulo, Ubiratan tinha trabalhado anos nessa área e já tinha deixado claro sua vontade de dar espaço a algum dos jovens jornalistas com quem trabalhava. Nesse ano passou a ser então o editor da revista Outra Cidade, de urbanismo, e continuou com o Extra Time.

ESPN

Figura carimbada na programação, hoje é comum ver o Ubiratan aparecendo na tela da ESPN. Mas nem sempre foi assim. Tudo começou em 2009 com uma chamada para fazer um teste como comentarista de beisebol. No dia da audição, Ubiratan acordou gripado e sem voz, mas não teve problema. Duas semanas depois ele voltou e fez o teste que consistia em comentar uma partida de beisebol enquanto Ari Aguiar narrava. Bira jamais esqueceu desse dia, mas por outro motivo: 

“Foi um dia importante e essa foi a parte menos importante do dia, porque foi o dia em que eu cheguei a noite em casa e eu descobri que minha mulher estava grávida.”- Ubiratan

Quando começou nas transmissões, Ubiratan era o último na hierarquia e trabalhava como freelancer: ele só era chamado quando precisavam dele. Por muitos anos ele comentou poucos jogos, já que Paulo Antunes, o comentarista titular, dava conta de todos os jogos. 

“Pelo jeito esse negócio é muito mais esporádico do que pensava.”- Ubiratan

Em uma das raras oportunidades em que foi chamado, Bira estava em Nova York a mando da revista em que trabalhava na época. O conflito de agendas impossibilitou ele de participar da transmissão, o que fez com que pensasse que tinha jogado fora sua chance. Durante a Copa do Mundo de 2010, com a grande mobilização de funcionários que a competição exige, Ubiratan acabou ganhando mais oportunidades e participou de mais jogos da Major League Baseball durante o mundial.

No seu começo na televisão acabou trabalhando apenas com o beisebol. Na TV era conhecido por esse esporte, mesmo que durante toda a sua vida tivesse trabalhado com o esporte bretão. Por isso se colocou à disposição para comentar jogos de futebol quando fosse necessário.

E a oportunidade apareceu. Num sábado à tarde, enquanto almoçava com sua esposa, recebeu uma ligação que dizia que o colega que iria trabalhar em um Napoli x Genoa pelo campeonato italiano teve uma emergência pessoal e coube a Ubiratan suprir sua ausência. Ele teve duas horas de preparação, mas correspondeu a tarefa.  

Mesmo assim, sua participação na ESPN continuava como freelancer e um complemento de renda para ele e sua família. Nesse período ele fazia em média um jogo de beisebol por semana e um de futebol a cada quinze dias. Seu trabalho na revista ESPN e depois como editor da Trivela continuava sendo seu principal ganha pão. 

Com algumas mudanças na grade da ESPN, a emissora deixou de transmitir campeonatos que eram menos atrativos para o público, como o campeonato russo e o japonês. Essa mudança impactou a participação dele em jogos de futebol, já que era para esses jogos que ele era mais chamado para comentar. 

“Eu era o comentarista titular do campeonato japonês”- Ubiratan  

A maioria das transmissões que o Ubiratan participa no beisebol, são de noite/madrugada o que dificulta sua esposa Juliana de acompanhar o marido nos jogos, ainda mais depois do nascimento do filho do casal. Apesar disso, Juliana destaca que é um “desperdício de texto” ver o Ubiratan na televisão, já que para ela, ele escreve muito bem e ainda era um excelente editor de revista. 

Em 2016 o Outra Cidade também foi fechado. Ubiratan então se tornou editor de um site voltado para educação pública. Sua vaga era apenas provisória, teria duração de seis meses e acabou sendo renovado por mais seis. 

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Desimpedidos

Sabendo que o fim do seu trabalho no site de educação estava próximo, Bira começou a se preocupar com o futuro da sua carreira e de sua vida financeira, mas em seu antepenúltimo dia de trabalho recebeu uma ligação de Marcelo Duarte, dono da editora Panda Books e ex-participante do programa Loucos por Futebol, da ESPN.

Na ligação, Marcelo compartilhou que estava à frente do projeto para fazer um almanaque do Desimpedidos, o maior canal brasileiro do Youtube relacionado a futebol, e perguntou se Ubiratan tinha interesse em escrever o livro na função de “Ghost Writer” – profissional que não recebe créditos de autoria pelo texto que escreve – alegando que ele era criativo e utilizava de uma linguagem diferente. Após a proposta, Bira foi atrás de conhecer mais sobre o Desimpedidos. Pesquisou informações do canal, assistiu alguns vídeos e por fim aceitou a oferta. 

Bira começou a frequentar o escritório do Desimpedidos quase diariamente para acompanhar a rotina e entrevistar os membros e responsáveis do canal.

“Era uma casa com 3 andares, no piso térreo ficava a redação e no andar debaixo o estúdio onde os vídeos eram gravados.”- Ubiratan

E foi ali no estúdio, durante a gravação do programa Olha a Picada, que Ubiratan Leal recebeu o apelido que o faz ser reconhecido até hoje, principalmente pelo público mais jovem, o “Livro”.

“Tem uma hora que o Chico fala pro Creke “e aí, Creke, como é que pinta essas coisas na sua cabeça?” e ele respondeu que falava o que vinha na cabeça e o que ele estava vendo “eu vejo as coisas e vou falando. Agora eu estou vendo o pessoal sentado ali: o fulano, o beltrano, o ciclano… o Livro”.- Ubiratan 

Bira começou a participar com mais frequência das gravações e interagir durante os programas, sempre mostrando o seu vasto conhecimento sobre futebol. Relembrava jogos, gols, times marcantes… ele sabia de tudo e todas as informações pareciam estar guardadas na sua cabeça. A partir desse momento Ubiratan passou a ser conhecido como Livro, pelo pessoal do Desimpedidos, pois além de estar fazendo o livro do canal ele sabia tudo do esporte. 

O sucesso e a recepção do público foi tão grande que após o almanaque ser escrito Ubiratan se manteve como um personagem do Desimpedidos, e sendo pago pelos vídeos que tivessem alguma ação comercial envolvida. 

“Eu não tenho o que reclamar deles, sempre foram muito justos comigo, sempre fizeram direitinho, mesmo que eu não participasse da ação”. – Ubiratan 

Em 2018, com o início da Copa do Mundo, Livro foi convidado para participar das lives e no segundo semestre passou a ser integrante do Debate e Assopra, um quadro semanal do canal, formando trio com Bolívia e Rudy Landucci. 

A visibilidade e o público mais jovem que Ubiratan acabou conquistando em sua passagem pelo Desimpedidos e seu canal no YouTube, chamou a atenção da ESPN. Com o objetivo de atrair essa nova audiência, ele ganhou mais espaço e participou pela primeira vez de um programa esportivo, o Bate Bola. 

“O pessoal acabou gostando.”- Ubiratan

Finalmente ele começou a ganhar mais visibilidade e mais portas foram abertas para ele na emissora para trabalhar com futebol. Bira começou a aparecer em mais programas e a comentar em mais jogos, tanto de beisebol como de futebol. Em 2020 ele foi contratado em definitivo pela ESPN. Devido ao contrato de exclusividade ele teve que se desligar de outros projetos que tocava, como seu canal de YouTube e um podcast da revista Trivela que ele ainda colaborava. 

“A estabilidade de você ter um contrato fixo falou mais alto e era o que eu queria.”- Ubiratan

Mas ele deixou claro uma coisa: queria continuar atendendo esse novo público que ele encontrou no YouTube. Então, começou a fazer parte do podcast Futebol no Mundo, no qual, junto com Alex Tseng, Leonardo Bertozzi e Gustavo Hofman, ele falava sobre futebol internacional. Ubiratan ganhou também um quadro pessoal no canal da ESPN no YouTube para falar sobre futebol nacional na mesma pegada que ele fazia com seu antigo canal. E o beisebol ficou para o seu blog pessoal. As três áreas que ele queria. E enquanto isso na televisão ele fazia o que era chamado para fazer.

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Gravação de um dos episódios do podcast “Futebol No Mundo”.
Foto: Reprodução/Instagram

Fernando Nardini chegou na ESPN em 2012 como narrador, atividade que ele exerce até hoje. No início de sua trajetória na emissora, Bira ainda trabalhava esporadicamente como freelancer lá, então o contato dos dois era reduzido. Quando Ubiratan passou a comentar com mais frequência, eles trabalharam juntos em transmissões de futebol, já que beisebol não é a praia de Fernando. O amor pela culinária também serviu para aproximar os dois fora do ambiente de trabalho.

“É um cara que tem muito conhecimento, então você pára para ouvir […] era o cara certo pro lugar certo”- Fernando 

Recentemente uma nova conquista. Ubiratan foi chamado para comentar seus primeiros jogos de times nacionais. Ele foi escalado para trabalhar em Libertad x Athletico Paranaense pela Libertadores, mas por conta de um erro na escala no dia do jogo ele estava de folga para viajar e ver seu filho num torneio de xadrez. Quando mais uma vez parecia que ele iria perder sua oportunidade, tudo deu certo. Goiás 1 x 0 Universitario-BOL pela Copa Sul-Americana, ele admitiu um certo nervosismo, afinal a pressão de trabalhar com um clube brasileiro na televisão é muito maior do que nos jogos que ele tinha trabalhado até o momento, mas no final deu tudo certo.  

“Quando eu falo que fiz o primeiro jogo de futebol nacional, é um sinal de prestígio, de que eu estou prestigiado.”- Ubiratan  

Rodrigo Leme é fã de Hóquei no gelo e da NHL, influências que ele adquiriu no tempo em que morou no Canadá. Hoje, de volta no Brasil, ele ainda acompanha o esporte, mas manteve o costume de assistir com áudio original da transmissão norte-americana. No dia 21 de maio, Rodrigo teve uma surpresa: seu amigo de infância, Ubiratan, iria participar da transmissão de uma partida de hóquei pela primeira vez. O fato fez com que Rodrigo deixasse de mudar o idioma durante o jogo e prestigiou o amigo, ele teve a experiência de acompanhar o esporte que ele gosta com uma pessoa que ele gosta. 

“É muito bacana, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade de você sacanear o cara várias vezes, durante a transmissão ele falou que o cara chutou a bola, aí eu falei pra ele: ‘Porra! Bola? Você tá de sacanagem.”- Rodrigo    

Ubiratan nunca forçou a barra para conquistar seu espaço ou passou por cima de alguém, ele nunca buscou um status ou um glamour qualquer. Sempre dedicado e apaixonado pelo o que fazia, foi assim que ele cresceu. 

“O fato de eu ser japonês, baixinho, gordinho, de óculos e com voz engraçada e estar trabalhando em televisão eu acho uma put@ conquista, porque eu sei que tem lugar que me vetaria por causa da forma.”- Ubiratan

Editado por Mariana Ribeiro

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