Os 60 anos desde o início da produção no Brasil do Fusca, o carro mais querido dos brasileiros
Há 60 anos o Brasil iniciava a produção do seu maior xodó automobilístico: o Fusca. Os pequenos carros populares da Volkswagen não conquistaram apenas as ruas e estradas do Brasil, mas os corações e as garagens dos brasileiros.
O Fusca surgiu em 1938, a pedidos do ditador nazista Adolf Hitler. Ele queria um carro popular, acessível e de bom desempenho para o povo alemão, além de um ótimo carro para os militares. Felizmente, o carro não se eternizou por esse motivo, mas sim pelo amor que conquistou ao redor do globo. E o Brasil foi um dos lugares onde o carro fez mais sucesso.
Estima-se que foram feitos 3,3 milhões de fuscas no país, em uma produção que durou de 1959 até 1996, quando a fabricação do carro foi oficialmente encerrada. Isso porque em 1986 ela já havia acabado, mas, em 1993, o Presidente da República, Itamar Franco, solicitou a volta da produção que durou até a década de 90.
O automóvel mais popular do Brasil deixou de ser apenas um carro assim que pisou em terras tupiniquins. Todo brasileiro tem, ao menos, uma boa lembrança com Fuscas. Nas décadas de 1960 e 1970, o auge do modelo, era comum que as pessoas aprendessem a dirigir com os veículos da Volkswagen. O ex-mecânico Idelson Tomassetti, que cuidou de diversos fuscas em São Paulo por anos, lembra que aprendeu a dirigir em um fusquinha, propriedade do pai. De lá para cá diversos Fuscas passaram por suas mãos e por sua vida. A primeira lembrança dele foi com um Fusca 1953 que seu pai teve. Ele tinha uma autoescola no Jabaquara. “O carro que ele tinha era o 53 branco e também o 63, Oakley de cerâmica. A lembrança que tenho de fuscas é do que aprendi a dirigir com 14 anos.”
Para o ex-mecânico, o Fusca teve alguns segredinhos para entrar no coração do brasileiro: “Naquela época era muita rua de terra, não era asfaltado como hoje, asfalto era só nas avenidas principais. E o fusca era um carro que tinha suspensão traseira. A turma até chamava de tratorzinho. Ele subia nuns lugares no barro e ele aguentava muito, era um dos carros que mais aguentava tudo. O motor era atrás, motor e tração traseiros. Ele não usa água, ele é refrigerado a ar. Hoje não temos nenhum motor assim. O carro casou com o Brasil. Você podia cruzar o deserto com ele. ”
Com tantas características positivas, o carro se tornou xodó dos brasileiros e entrou para nossa cultura pop. Toda criança já brincou, com toda certeza, de Fusca Azul. E se você tem mais uns quilômetros de rodagem, certamente já ouviu a “sofrência” causada por um exemplar preto do Fusca na voz do Trio Parada Dura. Até personagem principal de filmes ele foi, com os 6 filmes que tinham o simpático Fusca branco, Herbie, como protagonista, originalmente lançado em 1968, sob o título de The Love Bug.
Das ruas, das brincadeiras, das músicas e do cinema. O queridinho do Brasil conquistou todos que tiveram contato com ele, e hoje, em 2019, 60 anos após o início de sua produção, o Fusca ainda é tema de debate e de paixão.
Grupos se reúnem para celebrar, discutir e admirar a obra-prima da Volkswagen. Mas e quando o Fusquinha se torna um membro da família? O entusiasta Douglas Grusca começou a se relacionar com o modelo aos 15 anos, dirigindo um modelo 1300L. Depois, aos 18 anos, Osório entrou na sua vida. Dos 18 aos 21, Osório e Douglas foram unha e carne.
Um estava na flor da idade, com cabelos pretos e a vida toda pela frente. O outro era potente, confiante e vermelho. O fusca 1969, teve de procurar um lar quando Douglas se casou, aos 21. Mas os Fuscas sempre ficaram no coração dele, que agora possui um 1976 azul, o Mazzaropi. “Meu Fusca é um membro da família e não me vejo sem ele. Tenho outro veículo mais novo e “modernão”, mas meu fusquinha é meu querido! ”, revela.
Para Douglas, “o Fusca tem alma e sentimentos”, apenas comprovando que, em 1959, a Volks começou a fabricar membros da família e não apenas carros.
Idelson, que por décadas cuidou de donos e de fuscas, assina embaixo e garante que os Fuscas nunca foram apenas carros: “Os fuscas eram amados pelos donos. Todo mundo era apaixonado. Era diferente de hoje. Hoje você gosta do carro, mas com o fusca era diferente. Hoje mesmo eu penso: se tivesse um lugar, espaço, uma garagem, eu teria um fusca. Me desfiz dos meus por falta de espaço. Sem dúvida foi o mais marcante do século passado, não tem outro para competir. Eu acho que já foi o carro do Brasil. Com tudo que ele tinha, ainda era mais barato. Ele era um carro mais acessível. Todo mundo podia ter.”
60 anos depois, os compactos, baratos, eficientes e amados fusquinhas ainda circulam pelo Brasil, arrancando suspiros e lembranças dos brasileiros. E nessa longa trajetória de amor, é quase impossível encontrar alguém que não se renda ao carismático fusquinha. Viva os Fuscas!