Arborização em São Paulo: 120 mil árvores plantadas como parte da meta climática - Revista Esquinas

Arborização em São Paulo: 120 mil árvores plantadas como parte da meta climática

Por Ana Lara Ventura, Dora Arai, Giovanna Rodrigues, Larissa Buzon e Larissa Prado : dezembro 15, 2025

A ampliação de áreas verdes é uma medida ambiental capaz de reduzir temperaturas, melhorar a permeabilidade do solo e mitigar enchentes. Foto: briangarrityphoto/Pixabay

São Paulo conclui plantio de 120 mil árvores e amplia arborização em bairros com maior vulnerabilidade ambiental

No ano de 1992, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) foi formalmente adotada na sede da ONU, em Nova York. O tratado, aberto para assinatura durante a Rio-92, até então a maior conferência ambiental já realizada no Brasil, marcou o primeiro esforço global de conscientização sobre os limites ambientais do planeta e reuniu países que assumiram publicamente a necessidade de enfrentar a crise climática. Até junho de 1993, 166 nações já haviam aderido ao acordo, criando a percepção de que a comunidade internacional estava, enfim, se mobilizando.

Hoje, mais de três décadas após a constituição da UNFCCC, o planeta continua aquecendo, apesar da meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Para muitos observadores, as reuniões diplomáticas da Conferência das Partes (COP) seguem avançando lentamente. A dificuldade de conciliar interesses entre os países complexifica o enfrentamento das mudanças climáticas e evidencia que, além de compromissos formais, o cenário atual depende de ações concretas — especialmente nos grandes centros urbanos, onde os impactos são mais visíveis.

Calor e vulnerabilidade em São Paulo

Na América Latina, um estudo da Cross Dependency Initiative (XDI), empresa especializada na análise de riscos climáticos físicos, aponta que as áreas mais vulneráveis estão no Brasil, com São Paulo entre as regiões de maior exposição aos impactos das mudanças climáticas.

Diante da intensificação de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de São Paulo, em 2025, a Prefeitura apresentou a meta de plantar mais de 100 mil árvores na cidade. A iniciativa esteve alinhada à Agenda 2030 — plano global adotado pelos países para promover o desenvolvimento sustentável — e em consonância com o ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e o ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima). A ação integrou o projeto São Paulo + Verde, da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), voltado à ampliação da arborização urbana e ao incentivo ao plantio de espécies nativas em todas as regiões da cidade.

A ampliação de áreas verdes é uma medida ambiental capaz de reduzir temperaturas, melhorar a permeabilidade do solo e mitigar enchentes — problemas que historicamente atingem com mais frequência bairros à margem da sociedade. De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), que realizou um mapeamento socioeconômico e coletou dados climáticos em diferentes distritos, as periferias concentram as temperaturas mais altas da cidade. Os resultados indicaram uma diferença de até 8,8°C entre as áreas analisadas, evidenciando que a desigualdade social também se manifesta de forma ambiental.

A meta de plantar 120 mil mudas, anunciada como compromisso até a realização da COP30, em Belém, em novembro de 2025, foi estabelecida em um momento em que a capital paulista enfrentava os efeitos diretos da urbanização acelerada e das ondas de calor cada vez mais intensas. Segundo Priscilla Cerqueira, diretora da Divisão de Arborização Urbana (DAU) da SVMA, a secretaria utilizou mapeamento por imagens aéreas para identificar áreas prioritárias.

“Com base nesse estudo, distribuímos os projetos para ampliar a cobertura arbórea nas áreas mais deficitárias. Onde a arborização já é densa, os projetos são voltados à manutenção e ao manejo”.

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Número de plantios executados pela DAU e pela DGPU entre janeiro de 2024 e 2025, destacando o esforço contínuo de plantio tanto nas vias urbanas quanto dentro dos parques. (Fonte: SVMA)

O processo de arborização urbana envolve uma série de desafios. Em uma cidade da dimensão de São Paulo, a identificação de áreas adequadas ao plantio é um dos principais entraves. “O desafio não é apenas encontrar espaço, mas garantir qualidade de solo para o desenvolvimento das raízes”, afirmou Cerqueira. Segundo ela, o subsolo urbano costuma estar comprometido por redes de infraestrutura, como água, esgoto, eletricidade e telecomunicações.

Outro fator relevante é o manejo das árvores ao longo do tempo. Espécies próximas ao fim do ciclo de vida exigem planejamento, monitoramento e, em alguns casos, substituição. Além dos aspectos técnicos, a secretaria aponta a necessidade de engajar a população.

“É fundamental mostrar que a árvore não é um problema, mas uma solução para melhorar a qualidade de vida”.

Para Rodrigo Ashiuchi, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, a arborização impacta diretamente o cotidiano da população. “Além de sombra e ambientes mais agradáveis, parques mais arborizados funcionam como refúgios para a fauna e para as famílias que frequentam esses espaços”.

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Do poder público à participação popular

Para a gestão municipal, o envolvimento da população foi decisivo para o alcance da meta. Embora o plantio em larga escala tenha sido conduzido pelo poder público, a sobrevivência das mudas depende da manutenção cotidiana, sobretudo nos primeiros meses após o plantio, quando as espécies são mais vulneráveis ao calor extremo, à estiagem e a atos de vandalismo.

Serviços como podas, remoção de galhos, avaliação de risco e retirada de árvores caídas seguem sob responsabilidade da Prefeitura, por meio do Serviço 156, canal oficial para solicitações relacionadas à arborização urbana.

Mesmo com a atuação do poder público, iniciativas individuais também ganharam destaque. Hélio da Silva, morador da Zona Leste de São Paulo, tornou-se conhecido pelo plantio autônomo de mudas no Parque Tiquatira. Aos 74 anos, ele contabiliza mais de 42 mil árvores plantadas no local. A iniciativa surgiu diante da degradação da área, que passou por um processo de abandono ao longo dos anos.

Durante a restauração da vegetação do parque, Hélio enfrentou resistência de comerciantes e preocupações da própria família, devido à insegurança da região. Ainda assim, persistiu. “Eu não me conformava com o rumo que aquilo estava tomando. Resolvi mudar, ninguém me falou nada”.

Com o tempo, o trabalho individual despertou a curiosidade de moradores e frequentadores. A presença constante, regando mudas, limpando o entorno e replantando espécies arrancadas, transformou o espaço em um corredor verde, atraindo a atenção da Subprefeitura e da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

O plantio voluntário exige autorização e acompanhamento técnico da Prefeitura, responsável por avaliar a adequação das espécies ao solo e à dinâmica urbana. Ainda assim, o trabalho de Hélio foi reconhecido.

“Ao redor do parque, nos bairros Cangaíba, Engenheiro Goulart, Penha, Artur Alvim e parte do Tatuapé, moram cerca de um milhão de pessoas. Esse parque proporciona bem-estar para toda essa população”.

Hélio destaca que seu trabalho é independente do poder público. Ele compra as mudas em viveiros de Limeira e Piracicaba, priorizando espécies da Mata Atlântica, bioma ao qual o parque pertence. A cada doze mudas plantadas, uma é frutífera, com o objetivo de atrair aves e fortalecer a fauna local. Goiabeiras, araçás, jabuticabeiras e cerejeiras-do-rio-grande estão entre as espécies introduzidas, contribuindo para o retorno da vida silvestre ao território.

Para além da COP30: como São Paulo projeta um “futuro mais verde”?

Casos como o de Hélio evidenciam o potencial da participação cidadã em grandes cidades, especialmente onde o poder público enfrenta limitações estruturais para cobrir todo o território. Dados recentes indicam que São Paulo possui cobertura vegetal em 54,13% de seu território, concentrada majoritariamente em áreas de preservação nos extremos sul e norte. A distribuição, no entanto, é desigual, e a Zona Leste permanece como uma das regiões com menor presença de áreas verdes.

Segundo o secretário da SVMA, a meta de plantio ganhou visibilidade com a realização da COP30, mas os esforços se mantêm por meio da implementação do Inventário de Arborização Urbana — um sistema de alta precisão, resultado de um investimento de R$ 18,8 milhões. O inventário passou a permitir o mapeamento e a catalogação das árvores da cidade, além da identificação de áreas prioritárias para novos plantios, seguindo as diretrizes do Manual Técnico de Arborização Urbana.

A ferramenta integra o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU) e prevê o mapeamento de aproximadamente 650 mil árvores ao longo dos próximos três anos, com o uso de tecnologia de Mapeamento Móvel (MMS) e sensores LIDAR, capazes de captar informações detalhadas da vegetação. Elaborado entre 2019 e 2020, o PMAU contou com a participação de técnicos de diferentes secretarias e da população, reforçando o compromisso com uma gestão ambiental inclusiva e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente os ODS 11, 13 e 15.

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Plantio coletivo de mudas no Piscinão Guaraú, em Cachoeirinha. O envolvimento e sensibilização da população local são fundamentais para a longevidade das ações de arborização pública. Fotos tiradas pelo grupo durante o evento em celebração ao “Dia da Árvore”.

Em 5 de novembro, a SVMA anunciou ter alcançado a meta estabelecida para a COP30, com o registro do plantio da árvore de número 120 mil. Para Assucena Tupiassú, bióloga e especialista em Saúde Pública e Controle Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP, o marco é relevante, mas exige cautela. “Um, dez ou cem mil são apenas números. Sem envolvimento da população, escolha adequada das espécies, preparo do solo e manutenção contínua, muitas dessas árvores não completam um ano”.

Segundo a especialista, o debate não deve se restringir às metas quantitativas. “Estamos falando de seres vivos, que exigem cuidados. Não adianta fazer plantios grandiosos sem condições mínimas para o desenvolvimento das mudas. Se queremos cidades mais saudáveis, precisamos tratar cada árvore como o que ela é: vida, patrimônio e política de saúde pública”.

Editado por Enzo Cipriano

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