Frequentadores da marcha comentam sobre a atenção dada ao ativismo que faz com que nem todas as siglas do movimento sejam visíveis
O Movimento LGBT enfrenta, desde sua criação, dificuldades para fazer com que suas reivindicações sejam atendidas pela mídia e pelo governo. Os impasses são tamanhos que levantaram uma problemática dentro da luta: a questão GGGG.
O nome foi dado ironicamente para se referir à imensa representatividade que, muitas vezes, apenas a parte G do movimento realmente recebe. O L, o B e o T do acrônimo são ignorados. De tão enraizado na sociedade que o problema é, até mesmo a Parada do Orgulho LGBTI+, que aconteceu no último dia 3, é conhecida popularmente como Parada Gay e foi noticiada com esse por grandes veículos midiáticos, como o jornal Folha de São Paulo e o portal de notícias Uol.
“Tudo é Parada Gay, Parada Gay, Parada Gay”, reclama Kendra McCartney, de 23 anos. A moça vê pessoas que discriminam as outras letras da sigla até dentro do movimento. Janaína, de 16 anos, relatou que mesmo os casos de aversão contra LGBTs são direcionados apenas aos gays, já que quando ela vê comentarem sobre as violências contra a minoria, o enfoque é somente na homofobia, ignorando a lesbofobia e a bifobia, por exemplo. Por esse motivo Janaína se vê ainda mais anulada na sociedade.
Breno de Andrade, que é bissexual, acredita que essa invisibilidade da maior parte da sigla acontece especialmente nos veículos midiáticos. “Para eles, não existe bi e trans, é sempre lésbica ou gay. Morre aí. Acho que somos muito pouco representados”, comenta Andrade.
Esse fato incomoda até os gays que não concordam com essa forma de representação. O jovem de 23 anos Jefferson Moraes enxerga a questão GGGG como um fator excludente não somente do L, do B e do T, mas de todos os LGBTs que não se enquadram em um estereótipo padrão. “Essa classificação considera apenas os homens gays, brancos e heteronormativos [que seguem uma norma da sociedade baseada na heterossexualidade]”, aponta Moraes. Um corpo considerado perfeito, para ele, também é um fator que segrega não só as outras letras do LGBT, mas os próprios gays. “Os gays negros, os ‘afeminados’ ou mesmo os brancos que são gordos não estão enquadrados no padrão GGGG”, diz.
Nas redes sociais, a crítica sobre a evidência da letra G já chegou a ser acusada de gayfobia, mas não é disso que se trata. O intuito das reclamações não é excluir o homem gay e acabar com todo o espaço conquistado por ele, mas sim dar a mesma visibilidade às outras siglas que lutam pela mesma causa.