Em clima diferente do usual, confira um relato sobre as emoções do domingo de eleições na avenida Paulista
2 de outubro de 2022. A despeito da semana chuvosa, o domingo de eleições amanheceu ensolarado na Avenida Paulista. Aos domingos, a faixa é fechada para os pedestres, que podem desfrutar da via para passear.
Na ocasião do dia em que o Brasil escolheria seus representantes para os próximos 4 anos, o clima na avenida estava diferente. Os transeuntes, afinal, tornaram-se também eleitores. Nossa equipe esteve na rua para captar um pouco desse misto de emoções.
Faz o “L”
Eleitores do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passavam uns pelos outros e acenavam fazendo o “L”, inclusive dentro dos carros na avenida e na frente dos cartórios. Blusas vermelhas, amarelas e verdes preencheram as calçadas e, mesmo aqueles que não desfilavam com cores tipificadas pelos principais candidatos, manifestaram-se com adesivos e bandeiras. Haviam famílias inteiras, incluindo crianças e animais de estimação, caracterizadas com as identidades visuais dos candidatos.
Quem passava pela avenida ao longo da semana era disputado pelos entregadores de santinhos, colinhas eleitorais e cartazes. Já neste domingo, os estandartes e colagens se faziam mais discretos nas barraquinhas de artesanatos e no corpo dos eleitores. Algumas manifestações mostravam-se mais enfáticas, como os gritos de vendedores de “Vai dar PT, vai dar” e “A picanha e o churrasco vão voltar!”.
Vestes e receio
Os olhares de identificação se cruzavam e a manifestação se fazia coletiva. Bianca Moratelli estava a caminho de sua zona eleitoral, usando acessórios vermelhos e vestindo camiseta do MST, e relatou que teve receio de se expressar devido aos episódios recentes de violência política. “Mas decidi que não quero ter medo, quero me manifestar. Já vi mais gente de vermelho hoje e não estou achando o clima muito tenso, está me animando”, conta Moratelli.
O medo ao usar as vestimentas vermelhas se deve às recentes ocorrências contra eleitores do PT, como o caso do militante Marcelo Arruda, morto por policial bolsonarista. Guilherme Henrique Neles Silva, conhecido nas redes como “Garçom Reaça”, não crê que os apoiadores do atual presidente incentivem a violência. “Essa violência é imputada por parte dos apoiadores do Lula que, em grande parte, partem com pedaço de pau e agridem pessoas”, comenta. Guilherme já foi denunciado por ataques transfóbicos à candidata à deputada federal Erika Hilton (PSOL). Na Paulista, não foi notificada ocorrência de violência ao longo do domingo.
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Em frente ao MASP, a candidata à deputada federal Sonia Guajajara (PSOL), que havia acabado de votar, se deteve para tirar fotos e ouvir declarações dos seus votantes. Em entrevista, ela afirma que sentiu o clima animado e confiante, inclusive para a sua própria eleição. “É a primeira vez que a gente se articulou para eleger uma bancada do cocá, das mulheres indígenas, então para nós é um dia histórico. É um dia de vencer o facismo, o ódio e aldear a política”.
Pelo olhar de quem frequenta
Assim como em outras eleições, o programa “Ruas Abertas”, iniciativa que fecha as ruas para uso da população, foi suspenso para garantir o acesso fácil dos eleitores a seus locais de votação. Todo domingo a Avenida Paulista fica repleta de barraquinhas de artesanato, comidas, roupas e livros, visitadas por quem caminha só ou com companhia.
Em dia de eleições, os vendedores da Feira de Antiguidades Paulista continuam por lá, mas comentam que o fluxo foi diferente. Hesio Orsati (63), comerciante no vão do MASP há mais de um ano, percebeu uma mudança no perfil do público. “Hoje está um pouco mais calmo, mas é um público diferente, mais turistas”, afirma.
Zonas Eleitorais
A Avenida Paulista concentrou a 1ª Zona Eleitoral. Segundo o TRE-SP , a primeira e a terceira zonas eleitorais (Bela Vista e Santa Ifigênia) , localizadas na Zona Central, possuem juntas 231.058 eleitores. ESQUINAS presenciou espera de 3 horas para votar na Universidade Anhembi Morumbi.
Os eleitores demonstraram insatisfação com a organização, mas não desistiram de votar e esperaram na fila para exercer seus direitos como cidadãos. Na Escola Estadual Rodrigues Alves, as reclamações sobre desorganização se repetiram – no entanto, os eleitores relataram espera de no máximo 30 minutos.