Debate tem 21 pedidos de direito de resposta, oito aceitos; Boulos se distancia dos embates e, junto com Tabata, expõe propostas
O debate realizado pela TV Gazeta e o portal My News, na Fundação Cásper Líbero, ontem à noite (1º), foi marcado por troca de farpas, fake news, e poucas propostas entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. Participaram da sessão os cinco melhores colocados nas pesquisas eleitorais: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB).
Pré-debate
Em entrevistas prévias ao debate, o prefeito Ricardo Nunes reafirmou o tom apaziguador de sua campanha.
“Minha expectativa é muito positiva, com a possibilidade de discutir a cidade, falar das propostas sem agressão e debater nosso passado, presente e futuro. Nós não somos inimigos, somos concorrentes.”
Guilherme Boulos elogiou o papel da imprensa ao desmentir as acusações de Marçal sobre uso de drogas por parte do candidato psolista.
“Foi um trabalho jornalístico bem feito, quero parabenizá-los. Marçal ficou 15 dias fazendo acusações mentirosas a meu respeito. Eu desafiei ele. O que a investigação mostrou? O método da fake news. Me chamo Guilherme Castro Boulos e existe um cidadão chamado Guilherme Barduil Boulos. Coincidentemente, ele é candidato a vereador na chapa do meu adversário, Ricardo Nunes.”
Tabata Amaral enfatizou a estratégia combativa adotada pela sua campanha.
“Estamos aqui mais uma vez para apresentar nosso time e nossas propostas, mas também, sempre que necessário, enfrentar com coragem a ameaça que a gente tem de ver o crime tomando conta da prefeitura de São Paulo.”
Datena, por sua vez, se mostrou tranquilo quanto ao debate e desejando civilidade entre os candidatos.
“Espero que fique dentro dos limites da democracia e não palhaçada como houve no primeiro debate. Primeiramente, quem deve ser respeitado é o eleitor que está do outro lado da televisão.”
O candidato do PRTB, Pablo Marçal, foi o único que não concedeu entrevista prévia.
Os jornalistas presentes foram impedidos de entrar no auditório da TV Gazeta, em razão de um acordo estabelecido entre os assessores e representantes das campanhas dos candidatos presentes. Mediado pela jornalista Denise Campos de Toledo, o evento começou às 18h, e contou com a seguinte organização.
Primeiro bloco: perguntas entre candidatos, nesta ordem: Marçal, Nunes, Tabata, Boulos e Datena.
Segundo bloco: perguntas feitas por jornalistas
Terceiro bloco: perguntas sobre os temas: mobilidade, educação, saúde, meio ambiente e economia. Candidato escolhe adversário para comentar a resposta.
Quarto bloco: perguntas do público que foram encaminhadas pelas redes sociais e selecionadas pela organização do debate
Quinto bloco: considerações finais
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Debate
Ricardo Nunes, candidato que assumiu o cargo em 2021 e concorre à reeleição para prefeito de São Paulo, iniciou o debate questionando a condenação criminal do adversário Pablo Marçal por desvio de dinheiro de contas bancárias e sua possível conexão com o grupo criminoso PCC. Em contrapartida, recebeu duras críticas quanto ao suposto envolvimento com lavagem de dinheiro na chamada “Máfia das Creches”.
A investigação, ainda em andamento na Polícia Federal, encontrou irregularidades em 112 dos 152 estabelecimentos investigados. Apesar da saia justa diante dos eleitores, o candidato contornou a situação e alegou que, em 30 anos de política, nunca foi condenado pela justiça em nenhum processo.
Ao ser questionado pela candidata Tabata Amaral (PSB) sobre o nível crítico da educação pública da cidade, rebateu informando que São Paulo está acima da média nacional. Foi confrontado com a informação de que, pela primeira vez em dez anos, a cidade está fora da lista das melhores capitais, ocupando o 14º lugar nos anos iniciais e 11º lugar nos anos finais.
O atual prefeito citou a distribuição de 506 mil tablets adquiridos pela Secretaria Municipal de Educação, inúmeras vagas disponíveis em creches para crianças de até 3 anos de idade, a diminuição da evasão escolar e o projeto Mãe Guardiã – iniciativa que une a geração de renda, capacitação profissional e o fortalecimento de vínculos dessas mulheres com seus filhos e a comunidade escolar.
No evento, ele reafirmou o compromisso de entregar sete mil obras relacionadas à infraestrutura da cidade nos próximos quatro anos. Quanto à segurança pública, enfatizou a criação da plataforma Smart Sampa. “É um grande sistema de monitoramento com inteligência artificial. Temos 15 mil câmeras instaladas pela cidade e, até o fim do ano, vamos ter 20 mil”, afirmou. “Se um celular for furtado, seremos capazes de fazer o monitoramento a partir de um sistema de reconhecimento facial.” Além disso, disse que continuará trabalhando junto ao governador do Estado para que as melhorias sejam permanentes.
Durante o debate, o candidato Marçal voltou a adotar um tom acusativo e difamatório contra os outros candidatos, principalmente em relação a Guilherme Boulos, a respeito do ocorrido durante um comício do candidato realizado no sábado (24). Na ocasião, a intérprete de uma empresa contratada pela campanha do psolista cantou o Hino Nacional em linguagem neutra. Boulos se desviou das perguntas e provocações de Marçal, enfatizando as condenações do candidato do PRTB na Justiça.
Datena, quando designado para responder ao candidato Boulos, irrompeu em acusações e ofensas contra Ricardo Nunes: “Falo na sua cara. Você é um picareta”. O candidato do PSDB ainda associou a figura de Pablo Marçal ao crime organizado, o que foi respaldado por Tabata Amaral, em sequência. “Estou entrando nesse momento com uma representação legal contra os crimes cometidos nessa eleição. A grande pergunta agora é: a quem interessa a eleição do Pablo?”.
Quando questionado pelo jornalista da TV Gazeta e UOL, Josias de Souza, sobre declarações dadas no Flow Podcast, Pablo Marçal recorreu a seu apelo popular ante a formação do que ele considera se tratar de um “consórcio comunista” de políticos e imprensa contra sua campanha. “Quando alguém aqui resolve ofender na campanha, para vocês (jornalistas) é estratégia ou insinuação. Quando eu faço a mesma coisa, sou tachado.”
Ao ser questionado sobre privatizações, Guilherme Boulos relembrou que a maior parte dos paulistanos se posicionou contra a privatização da Sabesp em pesquisas, além de ter criticado a privatização de cemitérios. “As pessoas hoje pagam quatro vezes mais para enterrar um ente querido”. Nunes rebateu Boulos, que complementou: “Você de casa sabe o que a Enel fez na gestão do Nunes, agora querem fazer a Enel da água”, aludindo aos apagões de energia ocorridos na cidade em 2023.
Tabata e Marçal protagonizaram um embate a respeito do combate às drogas e do enfrentamento à Cracolândia. A candidata do PSB defendeu uma posição ativa e independente contra o tráfico na região: “Vamos atuar conjuntamente com a GCM e a Polícia Militar. Eu não tenho medo de bandido.” Ela ainda relembrou a suposta relação do círculo político de Marçal com o tráfico de cocaína. “Acabou de sair uma grande notícia mostrando que seu representante legal estava envolvido com uma quadrilha que transportou quase cinco toneladas de cocaína da Bolívia.”
Ao falar sobre mobilidade, Ricardo Nunes destacou a revitalização de obras feitas em sua gestão, além de citar um projeto de substituição de ônibus a gasolina por veículos elétricos. O tema rapidamente se desdobrou em uma discussão sobre loteamento clandestino entre Boulos e o prefeito, que rotulou o candidato do PSOL como “invasorzinho”.
Quando questionado sobre economia, Guilherme Boulos apresentou um projeto de descentralização dos polos de trabalho, baseado na distribuição das filiais de empresas em periferias para facilitar o deslocamento dos trabalhadores dessas regiões. Para tanto, disse que pretende estabelecer, se eleito, um fundo de crédito municipal. Tabata Amaral, por outro lado, defendeu um sistema econômico baseado na valorização dos pequenos empreendedores.
Em relação às propostas de governo apresentadas por Pablo Marçal, o candidato defendeu a criação de escolas olímpicas (radicadas no ensino esportivo) e a conversão de mais de 2 milhões de CNPJs em “braços de trabalho”, com empregos fixos. Marçal ainda criticou o uso da linguagem neutra nas escolas e propôs a criação de disciplinas como educação financeira e inteligência emocional.
Posteriormente, Datena revelou que Marçal teria ligado para ele dias antes do primeiro debate entre os prefeituráveis para formar um suposto conluio contra os candidatos Nunes e Boulos. A declaração culminou em reações inflamadas de ambos os lados, e Datena infringiu regra do debate ao deixar seu púlpito e se postar frente a frente com Marçal, trocando ofensas e insinuando agressões.
A assessoria de Pablo Marçal informou que o candidato teria se exaltado após ter um direito de resposta, previamente concedido, negado. Marçal, na volta do intervalo, rebateu: “candidato de TP”, fazendo referência ao equipamento chamado teleprompter, utilizado na TV para a leitura de textos já prontos por apresentadores ou repórteres.
Pós-debate
Em suas considerações finais, os candidatos puderam enfatizar a tônica de suas campanhas. José Luiz Datena relembrou a importância do combate ao crime organizado, enquanto Tabata se postou como uma candidata moderada diante de radicalismos políticos, ao citar seus feitos no mandato como deputada federal.
Boulos, por sua vez, enfatizou a luta contra a desigualdade social em São Paulo como bandeira de governo. Ricardo Nunes relembrou os feitos de seu governo e se posicionou como uma alternativa à dualidade Boulos/Marçal.
O candidato do PRTB, por fim, fez um apelo ao eleitor ao defender seu mandato como um governo de crianças, e usou o tempo restante para apresentar mais propostas voltadas à educação, além de desferir os últimos ataques e ofensas aos demais concorrentes.
Na saída do debate, os candidatos reafirmaram seus posicionamentos em novas entrevistas. Marçal protagonizou um desentendimento com jornalistas, acusando a imprensa de parcialidade na divulgação de notícias sobre as eleições. O candidato do PRTB criticou a falta de repercussão do apoio do cantor Gusttavo Lima a sua campanha e, ao ser questionado pela imprensa, respondeu com deboches e provocações.