A partir de 2020, o gigante asiático promete monitorar os comportamentos de seus cidadãos em um sistema de pontos
Quem nunca jogou um lixo na rua quando ninguém estava vendo? Ou não esperou o sinal fechar para atravessar a rua porque estava com pressa? Para muitos, isso pode ser algo usual e uma atitude inofensiva, mas a população chinesa precisa ficar cada vez mais atenta com seus atos.
A partir de 2020, o governo asiático monitorará a população utilizando uma base nacional de dados que será alimentada com informações de conduta sobre cada cidadão. Ela será computadorizada em um programa que dará benefícios para os que se comportarem, como descontos em serviços. Já as punições para aqueles que acumularem uma pontuação baixa poderão ser bloqueios na compra de passagens de avião e trem e até dificuldades em matricular os filhos nas escolas.
O projeto de sistema de crédito foi proposto em 2007, mas, inicialmente, era dirigido às empresas. A ideia do governo chinês era utilizar o mecanismo como forma de tornar públicos dados de corrupção, crimes ambientais e danos à saúde realizados pelas instituições privadas. Hoje, o foco do projeto mudou, a lista – que também é fornecida publicamente – mostra o comportamento dos cidadãos. Em Junho de 2014, o Conselho de Estado Chinês, em documento oficial, afirmou que o objetivo do crédito social é “forjar um ambiente em que a confiança será valorizada, recompensando aqueles que denunciarem atos de abuso de confiança”.
Oito companhias chinesas foram as primeiras a experimentar o projeto nacional, emitindo suas próprias pontuações de crédito social. A plataforma de vendas online, Alibaba, é uma delas. Parceira do Estado, ela está utilizando o sistema Zhima Credit para classificar seus usuários de acordo com suas transações. Seu sistema de pagamento digital é responsável por 70% dos pagamentos móveis na China e está quase substituindo o dinheiro físico, o que fará com que a plataforma tenha uma maior capacidade de coletar dados.
O objetivo do governo chinês é de, até 2020, fazer com que o sistema esteja presente em todo o país. Desde a sua implementação em 2017, mais de 25 milhões de chineses foram proibidos de viajar livremente pelo país por terem baixa pontuação. O número quase quadruplicou de 2017 para 2018. No ano passado, 17 milhões de cidadãos foram proibidos de adquirir passagens aéreas e 5 milhões de comprar bilhetes de trem, de acordo com o National Post e o The Guardian. O jornalista Liu Hu, repórter do New Express, da cidade, foi acusado de “espalhar desinformação”, e, mesmo já quitando suas dívidas com a justiça, percebeu que seu nome estava como “desonesto” na lista negra do Zhima Credit, além de estar impossibilitado de viajar de avião e fazer reservas em hotéis. “Não houve nenhum aviso prévio, nenhum arquivo, nenhuma procuração. Eles só cortaram coisas das quais eu tinha direito”, conta.