Canal fechado: como Veneza pretende se proteger de superlotação? - Revista Esquinas

Canal fechado: como Veneza pretende se proteger de superlotação?

Por Ligia Moraes : fevereiro 8, 2024

A prefeitura começará a cobrar uma taxa de 5 euros (cerca de 26 reais) pela entrada de turistas que visitam a cidade por apenas um dia. Foto: Nextvoyage/Pexels

As soluções para Veneza visam criar um maior equilíbrio entre turistas, residentes e operadores econômicos

Ande no lado direito das ruas, não bloqueie pontes para tirar fotos (elas são frequentemente gargalos) e se estiver caminhando lentamente, tente andar em linha única. Essas são algumas dicas que podem facilitar a circulação por Veneza, conhecida por fazer turistas se desorientarem em suas inúmeras vielas. Dizem que se perder nas ruas da Sereníssima faz parte do charme de conhecê-la. Mas ter que disputar espaço com multidões provavelmente não está incluído no pacote de experiências agradáveis. 

Veneza tem enfrentado um problema de superlotação e, buscando uma solução, a prefeitura anunciou que, a partir de 1° de junho, será reduzido para 25 pessoas o número máximo de membros em um grupo turístico em Veneza – ou seja, metade dos passageiros de um ônibus turístico. Foi a resolução da Câmara Municipal relativa à alteração do Regulamento de Polícia e Segurança Urbana. A medida faz parte de uma série de modificações que visam controlar o fluxo de visitantes interessados em conhecer a Sereníssima.

Além disso, a prefeitura começará a cobrar uma taxa de 5 euros (cerca de 26 reais) pela entrada de turistas que visitam a cidade por apenas um dia. Também será proibido dificultar o fluxo em ruas estreitas, pontes ou locais de passagem. Para amenizar a poluição sonora, não será mais permitido utilizar  megafones nas ruas venezianas. Dessa forma, os guias deverão contar as curiosidade da cidade em voz alta ou através de um fone de ouvido.

O objetivo da resolução seria dar um primeiro passo para elevar o padrão da experiência oferecida e tornar o turismo veneziano mais adequado aos residentes e à “fragilidade do local”. Assim, auxiliando na proteção contra a superlotação do centro histórico e das ilhas de Murano, Burano e Torcello.

Em comunicado da prefeitura, a autoridade municipal de Segurança, Elisabetta Pesce, afirma que é “uma medida importante para melhorar a gestão de grupos organizados no centro histórico e nas ilhas, promovendo o turismo sustentável e garantindo a proteção e segurança da cidade”.

A assessora também promete um novo artigo no regulamento de Polícia e segurança urbana dedicado “a regular as modalidades de condução de visitas para grupos acompanhados, com especial atenção às necessidades de proteção dos residentes e à promoção da mobilidade pedestre”. De acordo com Elisabetta, a resolução aprovada é o resultado de diversas consultas e debates com categorias e operadores do setor. 

Entre os pressupostos da resolução está o claro repúdio aos guias turísticos não autorizados mencionados pelo assessor de comércio Sebastiano Costalonga. De acordo com ele, essa prática não será mais tolerada em Veneza. “Regulamentar os grupos que visitam a cidade também servirá, acima de tudo, para garantir a certificação dos guias que os acompanham”, declara no mesmo comunicado.

Por enquanto, para os administradores da cidade, a nova decisão parece ser uma boa alternativa para balancear o número de turistas, residentes e operadores econômicos de Veneza. E segundo as autoridades locais, a taxa cobrada aos turistas não geraria lucros ao governo, apenas seria o suficiente para compensar os custos da aplicação e a perda de arrecadação. 

Por sinal, esta não é a primeira vez que a pasta reúne esforços para aplicar uma tarifa regulatória. Em 2019, o Conselho aprovou a mudança, mas a chegada da pandemia de Covid-19, em 2020, impediu a entrada de turistas, impossibilitando que os planos do governo fossem colocados em prática. Porém, com o término das restrições, o fluxo de viajantes retornou a todo vapor e Veneza alcançou a marca dos 50 mil no centro da cidade. 

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Tendo em vista os desafios enfrentados pela cidade, em julho de 2023 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) recomendou que Veneza fosse adicionada à lista de Patrimônio Mundial em Perigo. De acordo com os especialistas, a ação é necessária porque a Itália não faz o suficiente para proteger a cidade do turismo em massa e das mudanças climáticas – que estão fazendo com que a Sereníssima afunde pouco a pouco. 

Dessa maneira, as medidas visam, justamente, otimizar  a gestão de turismo da cidade. Para Simone Venturini, conselheiro de Turismo de Veneza, as intervenções “garantem maior equilíbrio entre as necessidades daqueles que vivem na cidade, seja como residentes ou trabalhadores, e aqueles que vêm visitar a cidade”. 

Esse “equílibrio”, por consequência, implica um menor número de turistas sendo atendidos de uma vez, o que pode fazer o passeio sair mais caro. Contudo, o serviço, supostamente, terá uma qualidade mais elevada (pelo menos é o que dizem os defensores da medida). Resta esperar se essa possível maior elitização valerá a pena para os visitantes e operadores.

Editado por Mariana Ribeiro

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