"Notícia não cessa conflito, mas mobiliza", diz Yan Boechat sobre guerras 'apagadas' pela mídia - Revista Esquinas

“Notícia não cessa conflito, mas mobiliza”, diz Yan Boechat sobre guerras ‘apagadas’ pela mídia

Por Enzo Cipriano, Lucas Souza, Pedro Cheque e Gabriel Alvarenga : setembro 20, 2024

"A notícia, mesmo quando intensa, não tem o poder de cessar conflitos ou prevenir crimes contra a humanidade", completa o jornalista. Foto: Clarissa Olivia/ESQUINAS

Sudão e Armênia vivem conflitos periféricos, mas cobertura internacional “ignora” com maior filtro valor-notícia

O atual globo enfrenta oito conflitos por todo seu território, com intensa cobertura da mídia apenas sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, hoje, nem tanto. Mas se voltássemos para fevereiro de 2022, o que estamparia a primeira página de jornais como Folha de S.Paulo, Estadão e O Globo seria semelhante a este título: “Rússia ataca Ucrânia e faz ameaça ao mundo”.

De folhetins que reportam o noticiário internacional até a voz de Willian Bonner, âncora do Jornal Nacional: “Vladimir Putin ordena a invasão militar da Ucrânia”, o Jornalismo atua em mais um dia de sua rotina, adotando o “porteiro” da redação. Esse conhecido como o gatekeeper, filtra notícias com base em critérios como valor-notícia e linha editorial do veículo.

Além do famigerado Rússia versus Ucrânia, Sudão e Armênia também vivem conflitos periféricos, que frequentemente são ignorados pela cobertura midiática que, em escala, deve mobilizar a opinião pública perante à barbárie humana, mas não é sempre que acontece.

“A notícia, mesmo quando intensa, não tem o poder de cessar conflitos ou prevenir crimes contra a humanidade; ela pode, no máximo, aumentar a pressão sobre os envolvidos, mas a ação concreta depende da mobilização internacional e das políticas de resposta”, afirma o jornalista Yan Boechat, que já cobriu 15 conflitos ao redor do mundo.

Sudão

No país, o conflito em Darfur, região oeste do Sudão, combina violência armada com campanhas sistemáticas de deslocamento forçado. Pela capital, em Khartum, a população sofre com a escassez de alimentos, a falta de acesso a serviços básicos e um sistema de saúde colapsado.

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Armênia Conflitos

Em Nagorno-Karabakh, região historicamente representada pelo conflito entre Armênia e Azerbaijão, os locais sofrem com uma guerra que já se estende por quase um século.

“Não há cobertura, é algo extremamente deficiente”, declara Leandro Kherlakian, descendente de armênios. Kherlakian, que já esteve no país, acredita faltar um reconhecimento e atenção para com o conflito, além de entender que há um desrespeito contínuo ao povo armênio.

“É difícil me abalar com outras guerras quando lembro que o mundo ignorou por completo o que aconteceu em Artsakh [também conhecido como Nagorno-Karabakh]”, lamenta Catherine Kachvartanian, também descendente de armênios, e voluntária em um programa de ajuda a Armênia.

conflitos

Mapa geopolítico do conflito entre Armênia e Azerbaijão durante 2018, antes da retomada Azeri.
Elnur Hajiyev/Wikimedia Commons

Conflito ou Guerra?

Na cobertura internacional, até a terminologia utilizada pela imprensa pode gerar um debate, como o uso das palavras “terrorista” e “genocida”, que para alguns é visto como termos “pesados”. Quanto a isso, Boechat evita relacionar os grupos presentes nos conflitos com as já citadas palavras “fortes”, algo que pode ser atrelado a linha editorial do veículo onde o jornalista atue.

“Se estou escrevendo no X [antigo Twitter], tenho total liberdade, mas quando escrevo para um veículo, preciso me adequar às normas estabelecidas.”

Editado por Clarissa Olivia e Ronaldo Saez

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