Líderes na corrida pelo governo de SP não comparecem e esquerda protagoniza primeiro debate presencial da UVAU - Revista Esquinas

Líderes na corrida pelo governo de SP não comparecem e esquerda protagoniza primeiro debate presencial da UVAU

Por Carolina Galimberti, João Nakamura, Nicholas Zaponi e Victor de Godoy : setembro 14, 2022

Estudantes se reúnem para assistir ao debate com os candidatos ao governo de SP. Foto: Maria Clara Matos

Marcado por ausências relevantes, discursos ácidos e claque, UVAU organizou debate entre candidaturas ao governo de SP na FEA-USP nesta segunda-feira (12)

Na última segunda-feira (12), ocorreu o primeiro debate do projeto Universidade Vai às Urnas (UVAU), iniciativa dos centros acadêmicos de 16 universidades paulistas. O evento promoveu uma roda de discussão entre representantes e candidatos ao governo do estado de São Paulo e foi sediado na vivência da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). O confronto entre as candidaturas contou também com transmissão ao vivo pelas redes do UVAU. 

“A proposta da UVAU é democratizar o debate político nas universidades”, introduz a mediadora Giulia Araujo Castro, estudante de Ciências Atuárias da FEA, no discurso inicial. Todos os candidatos foram chamados para debater – no entanto, apenas três concorrentes, sendo todos nomes da esquerda, estiveram presentes: Carol Vigliar (UP), Gabriel Colombo (PCB) e Altino Júnior (PSTU). 

Enquanto isso, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia (PSDB) e Vinicius Poit (Novo) enviaram representantes ao debate. O candidato apoiado por Jair Bolsonaro, Tarcísio, foi representado pelo vice na chapa, Felicio Ramuth; o candidato do PT enviou Emídio de Souza, candidato a deputado estadual; o atual governador e Poit delegaram o debate a seus coordenadores de campanha, Bruno Caetano e Xico Graziano, respectivamente. A candidatura do PDT, de Elvis Cezar, não enviou representante. 

Felício Ramuth (PSD) e Bruno Caetano (PSDB), respectivamente.
Maria Clara Matos

Recepção variada 

A recepção das candidaturas oscilou entre vaias a longas palmas. Xico Graziano contou com algumas palmas tímidas. Bruno Caetano foi recebido com uma celebração contida e alguns uivos negativos contra o legado tucano no estado. Emídio, por sua vez, foi celebrado de modo mais moderado. 

Ao encerrar seu discurso inicial, Felício Ramuth foi hostilizado com vaias, xingamentos e gritos de “Fora Bolsonaro”. Por outro lado, os candidatos de extrema-esquerda foram ovacionados. Altino Júnior, Carol Vigliar e Gabriel Colombo receberam aplausos duradouros e cantos de apoio. 

uvau

Gabriel Colombo (PCB) foi um dos únicos candidatos ao governo de São Paulo a comparecer ao debate.
Maria Clara Matos

Entre os estudantes que estiveram na vivência da FEA para prestigiar o debate, a disputa ao Palácio dos Bandeirantes parecia reservada ao setor da extrema-esquerda. Contudo, de acordo com a pesquisa TV Cultura/Ipespe, realizada entre os dias 5 e 7 de setembro, os três candidatos que marcaram presença e foram aclamados calorosamente pelos universitários pontuam apenas 1% nas intenções de voto cada. 

As maiores tensões do evento foram dispendidas pelos discursos inflamados das candidaturas da UP, PCB e PSTU. Não tão acalorados, os outros candidatos mantiveram uma postura mais tênue ao longo do debate. Bruno Caetano, representante do PSDB, ensaiou críticas mais enfáticas ao direcionar farpas contra o PT e Jair Bolsonaro. 

Engajamento da juventude 

Mesmo com o baixo engajamento da maior parte das candidaturas, o debate foi positivo e proveitoso na visão dos participantes, principalmente pelos candidatos preteridos pelos espaços midiáticos tradicionais. É o caso de Gabriel Colombo (PCB), o candidato mais jovem na disputa para o governo, com 32 anos. “Esse é um tipo de debate que eles não gostam, porque eles iam ser confrontados se eles aparecessem, o que teria muita repercussão”, afirmou Colombo sobre a ausência dos candidatos com melhor pontuação nas pesquisas de opinião  

Ao se apresentar, Gabriel afirmou participar do debate por estar engajado na luta da juventude. Ao longo do debate, a candidata da UP e o candidato do PSTU também se solidarizaram com a dita “revolução da juventude”.  

O representante do PT reconhece a importância do engajamento nesses debates porque “a juventude brasileira precisa saber muito o que está em disputa”. O coordenador da campanha declarou que Haddad estava se preparando para o debate da TV Cultura e, em razão disso, não pôde cumprir o compromisso com o embate promovido pela UVAU. Emídio vê a importância dos debates na universidade por ser “um setor que pensa na sociedade e no futuro”. 

E, ao longo do debate, não faltou participação e engajamento por parte dos jovens. Durante e após os discursos, a plateia se mobilizou sobre os assuntos que lhes eram pertinentes. “Fora Bolsonaro”, “Falta água no CRUSP” e cantos partidários em prol de seus candidatos marcaram presença. Para candidatos como o Altino, o clima do debate “foi bom e proveitoso”, mas outros representantes se queixaram de quebra do raciocínio em momentos pontuais. 

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Democratização do debate 

Para Caio Mello, presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog (CAVH), da Faculdade Cásper Líbero, uma das importâncias do projeto está no fato de que “o debate da UVAU chamou todas as candidaturas, o que por si só já nos diferenciou da grande mídia. Isso foi ressaltado até pelas candidaturas maiores: o quanto foi importante ouvir todos”. 

A política interna das grandes emissoras para os debates se baseia na Lei 9.504 de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições. No artigo 46 do código, é estabelecido que é obrigatória a participação de candidatos cujos partidos tenham representação de pelo menos 5 parlamentares no Congresso Nacional e que o debate seja realizado com a participação de no mínimo ⅔ dos candidatos.  

Algumas emissoras aplicam critérios de intenção de votos. Contudo, de acordo com a pesquisa TV Cultura/Ipespe, Vinícius Poit possui os mesmos 1% de eleitores que Altino Júnior, Carol Vigliar e Gabriel Colombo. Nenhum dos três últimos foi convocado para o debate da TV Cultura que ocorreu ontem, 13 de setembro, enquanto o candidato do Novo já tem sua presença confirmada. 

Gabriel Colombo se queixa do “boicote da grande mídia” e espera que “não seja sempre assim, como estão sendo promovidos os debates até agora e o que a legislação eleitoral exige como mínimo”. Carol Vigliar ainda questiona a legitimidade da democracia brasileira por entender que “no nosso país, não há democracia na eleição. Defendemos que todos os candidatos deveriam ter o mesmo tempo, mas não é o que acontece”.  

“Achei um descaso os outros candidatos não terem vindo, como se apenas eles fossem ocupados e a gente não” (Carol Vigliar, candidata da UP)  

Conheça a UVAU 

A iniciativa estudantil Universidade Vai Às Urnas preza pela aproximação dos movimentos estudantis e da política institucional. Criada em 2016, a UVAU trabalha promovendo debates entre os candidatos aos cargos executivos e legislativos do governo, possibilitando um debate mais democrático e com mais representantes de campanha do que apenas os grandes nomes presentes nas mídias.  


O projeto segue realizando debates ao longo do mês de setembro. No dia 19, será realizado um embate entre de candidatos a deputado estadual; no dia 21, candidatos a deputados federais se enfrentarão e, no dia 23, haverá um debate entre candidatos a senador. Para ter acesso aos eventos, basta se inscrever por meio de um link divulgado nas redes sociais do UVAU (@universidadevaiasurnas). 

Editado por Juliano Galisi

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