No último domingo, manifestantes se dividiram em São Paulo e protestaram pela segunda semana seguida
No último domingo (7), manifestações se espalharam por São Paulo. Na Avenida Paulista, estavam concentrados apoiadores do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). No Largo da Batata, manifestantes contrários a Bolsonaro, ao racismo e favoráveis à democracia. A divisão dos protestantes ocorreu por conta de uma ação judicial deliberada pelo juiz Rodrigo Galvão Medina, que tentou barrar o ato. Os protestos na capital paulista ocorrem desde o último domingo de maio, data em que bolsonaristas e antifascistas foram, ambos, à Avenida Paulista.
As manifestações em Pinheiros, no Largo da Batata, zona oeste de São Paulo, foram impulsionadas pelas recentes mortes de João Pedro, 14, no Rio de Janeiro, e de Miguel, 5, em Recife. Além disso, seguem a onda dos protestos estadunidenses que iniciaram após a morte de George Floyd. Katia Passos, uma das fundadoras da rede Jornalistas Livres, cobriu os protestos do Largo da Batata in loco e estima que 80% dos manifestantes presentes eram negros. Segundo ela, “era muito nítido que [o protesto] era antirracista”.
O jornalista e documentarista Pedro Santi esteve nas manifestações e incentiva a população branca a participar: “A gente que é branco e não é do grupo de risco tem que ir mesmo. A população preta e pobre já está pegando trem lotado na Luz para ir trabalhar e, ainda, ir pras ruas pra lutar”.
Marcados principalmente por meio de redes sociais, os protestos contaram com a presença de movimentos negros, estudantis, torcidas organizadas e partidos políticos. Mesmo durante a crise sanitária, cerca de 3 mil pessoas estavam presentes no ato, segundo dados da Polícia Militar. Katia especula que “se não estivéssemos em tempo de pandemia, talvez pudéssemos ter presenciado um dos maiores atos que já aconteceram” no país.
Ainda assim, ela diz ter sentido medo em cobrir os protestos, principalmente por conta dos confrontos ideológicos: “Um dos maiores medos que senti na minha vida”.
Ficar em casa ou ir às ruas?
O jornalista Álvaro Magalhães também presenciou os protestos antifascistas. Segundo ele, o medo de contrair o vírus “existia sim. Por isso usamos máscara e procuramos manter certa distância”. Álvaro ressalta que, na entrada do ato, movimentos distribuíam máscaras para os presentes e destaca que havia “pouquíssimos camelôs. Passei por um de pipoca que parecia não estar vendendo bem, pois as pessoas não abaixavam as máscaras. As poucas pessoas que vi abaixando as máscaras eram fumantes”.
“Sempre existe o medo de contágio”, confessa Pedro, que diz estar se arriscando no cenário pandêmico. “A gente vê as notícias, mas eu sou jornalista e documentarista, e meu trampo geralmente é com uma população vulnerável que ficou cada vez mais desamparada nessa pandemia. Então, não teve quarentena pra mim, estou tendo que me arriscar desde o início [da pandemia] por estar atuando nessas frentes”, conta.
Na sexta-feira, 5, o rapper Emicida justificou, em seu Instagram, que não participaria do ato por conta da pandemia e foi aplaudido por muitos nas redes. Katia, no entanto, classifica como “infeliz” a fala do cantor. Para ela, “desqualificar [quem foi à manifestação] é um problema”. Ainda assim, completa: “Acredito muito no espaço democrático. Respeito quem não foi”.
Guerra e Paz
Majoritariamente pacíficas, as manifestações não contaram com grandes imprevistos. Álvaro caracteriza o ato no Largo da Batata como “muito bonito” e conta que, “além das pessoas que estavam lá, muita gente passava de carro com faixas brancas e buzinando”.
Depois do encerramento em Pinheiros, houve confusão por parte de grupos que insistiram em protestar no local, e 17 pessoas foram detidas. Em parceria com a OAB, advogados tentaram evitar a escalada da violência. Em nota, a organização disse que “a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP em parceria com o Sindicato dos Advogados de SP (SASP) e a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), juntos fizeram um Plantão Jurídico em que Advogados e Advogadas acompanharam os atos como ‘Observadores Institucionais’, atuando com mediadores entres as partes, manifestantes e autoridades”.
Em seu twitter, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se pronunciou: “Nosso governo convidou representantes do Ministério Público e da OAB para acompanhar do Centro de Operações da Polícia Militar a ação da PM nas manifestações que acontecem hoje na Capital. Compromisso com a transparência no trabalho da Polícia Militar de SP”. Em seguida finalizou: “Mais de quatro mil homens foram escalados para fazer a segurança nos locais. Respeitando o direito a manifestações, mas sem agressões”.
Pedro conta que um grupo de aproximadamente dez policiais impediu que ele colasse cartazes em um banco público, antes do início do ato. Segundo ele, “a quantidade de policiais militares era intimidadora por si só”.