São Paulo e a força coletiva LGBT - Revista Esquinas

São Paulo e a força coletiva LGBT

Por Bárbara Correa, Dayana Natale, Felipe Grutter e Laís Martins : junho 5, 2018

Com poucos eventos que os representem no interior do estado, LGBTs se deslocam para a capital paulista para serem eles mesmos e celebrarem a diversidade

A 22ª Parada do Orgulho LGBT, que aconteceu nesse domingo (3), reuniu pessoas do País inteiro para celebrar a diversidade das causas de orientação sexual e identidade de gênero. Com o tema Eleições 2018, o evento tem como slogan a participação desse grupo na política nacional: “Poder para LGBTI+, nosso voto, nossa voz”. A festa contou com a presença de artistas como Anitta, Pabllo Vittar, Gloria Groove, entre outros. Ao todo, foram 18 trios elétricos que percorreram o trajeto entre a avenida e o Vale do Anhangabaú. Era um dia cinza, com tempo chuvoso, mas isso não impediu que a multidão trouxesse cor à Paulista com bandeiras, balões e muito glitter.

A maioria das cidades que não estão localizadas em grandes centros quase nunca promove eventos em apoio a essa diversidade. No início deste ano, o Governo de São Paulo lançou um edital, com o nome “Programa +Orgulho”, para dar suporte a Paradas pelo interior e pelo litoral paulistas, mas até agora só alguns eventos realmente saíram do papel.

Pela falta de eventos voltado ao público LGBT no restante do estado, o da capital recebeu diversos turistas de longe. Alguns chegaram a comentar sobre a representatividade e a importância da Parada do Orgulho LGBT nesse cenário. “Igual a São Paulo não vai existir. Aqui você consegue andar de mãos dadas, consegue ser livre”, relata Suelen Maranhão, de 28 anos, que mora em Brasília.

 

Suelen Maranhão, moradora de Brasília, afirma que a cidade de São Paulo é um ambiente onde as pessoas LGBT podem ser livres.
Laís Martins

Entretanto, Larissa Costa, jovem de 19 anos que já morou em Sorocaba, conta que prefere o tratamento do interior à recepção da capital. “O povo lá é muito acolhedor. Na cidade pequena, todo mundo se conhece”, comenta.

Larissa Costa prefere o ambiente do interior.
Bárbara Correa

De acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), a segurança para essa comunidade é, de fato, um problema. O estudo realizado pela organização registrou um aumento de 30% nos homicídios de LGBTs entre 2016 e 2017 no Brasil. Analisando regionalmente os índices de morte, a Região Norte está acima da média nacional, com 3,23 mortes por um milhão de pessoas, enquanto a Região Sudeste apresenta uma média de 1,7 morte para cada milhão de habitantes, se mostrando o mais tolerante às minorias. Ainda nessa região, o estado de São Paulo apresenta a média de mortes por milhão de habitantes mais baixa de 1,31.

Mesmo apresentando o menor índice de homicídios, a capital paulista lidera o ranking com um total de 59 mortes. Ela apresenta índices assustadores. Um mapa da homofobia em São Paulo, desenvolvido pelo portal de notícias G1 em 2017, ressalta que 465 vítimas em dez anos – uma a cada semana, em média – procuraram ou foram encaminhadas à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para registrar queixa de crime motivado por homofobia na cidade. “Aqui não dá para falar de aceitação, dá para falar de tolerância. Tolerância é de quem vê de cima, enquanto aceitação é de quem vê de igual para igual. Isso não acontece em lugar nenhum”, afirma Vinícius de Moraes, de 18 anos, que foi à Parada no domingo. Ele compara suas experiências no interior e na capital. Nascido em Itatiba, Moraes atualmente estuda Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para o jovem, a repressão da representatividade é mais recorrente na sua cidade natal e é na capital onde ele se considera mais seguro para ser ele mesmo. “Aqui tem a força do coletivo, então a gente se sente mais protegido. Lá é você por você”, diz.

Tanto Maranhão quanto Moraes já sofreram agressões e ameaças em São Paulo e nas suas antigas cidades. Ele afirma que perseguições motivadas pelo preconceito são recorrentes independentemente do lugar. A diferença, para o garoto, é que na metrópole ele se dá mais escondido, às escuras.

Vinícius de Moraes afirma que “Aqui não dá para falar de aceitação, dá para falar de tolerância. Tolerância é de quem vê de cima, enquanto aceitação é de quem vê de igual para igual. Isso não acontece em lugar nenhum”.
Bárbara Correa

Apesar disso, a Grande São Paulo continua sendo conhecida pela sua representatividade: há diversos eventos, baladas, rotas culturais, festivais e espaços voltados à população LGBT. Esse é mais um motivo pelo qual os moradores de fora se deslocam para a capital. Lucas André, de 22 anos, compara as casas noturnas da terra da garoa e as de Santos, sua cidade de origem. Ele revela que as festas da capital ganham. “Sinto uma diferença, mas acho que grande parte disso é porque eu só me assumi depois que saí de casa”, explica André. “Antes eu não tinha tanto contato com a comunidade [em Santos], mas depois fui em alguns eventos, baladas e essas coisas. Nada se compara a São Paulo”.

A falta de bares, boates e festas ou ainda de eventos como a 22ª Parada do Orgulho LGBTI+ é um reflexo direto da invisibilidade sofrida por essa comunidade, seja em grandes centros urbanos ou não. A marcha é essencial para legitimar o discurso desse público, tornando-o visível e garantindo seu direito de simplesmente existir.

Lucas André, de 22 anos, compara as casas noturnas da terra da garoa e as de Santos, sua cidade de origem e afirma preferir as festas da capital.
Laís Martins