"Nós não temos o direito de ficar quietos com a destruição desse país”, diz Lula em aula aberta na USP - Revista Esquinas

“Nós não temos o direito de ficar quietos com a destruição desse país”, diz Lula em aula aberta na USP

Por Luiza Lopes : agosto 16, 2022

Ex-presidente Lula (PT) comentou sobre os avanços do PT, a importância das universidades e desafiou Bolsonaro a vir debater com ele na USP.

Ao lado de Fernando Haddad (PT) e das professoras Adriana Alves, Ermínia Maricato e Marilena Chauí, Lula participa de evento aberto na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) nesta segunda-feira (15)

Na última semana, o vão livre do prédio da História e Geografia da USP começou a ser preparado. Pouco a pouco, grades e bancas montadas criavam o cenário que, dias depois, receberia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

Na aula aberta “Universidade Pública e Democracia”, ao lado das professoras Marilena Chauí, Ermínia Maricato e Adriana Alves, o local que, historicamente, já sediou várias manifestações e assembleias estudantis, mobilizou em peso os estudantes da cidade para ouvir o discurso do candidato à presidência. A iniciativa surgiu dos coletivos USP pela Democracia e USP com Lula, formados por estudantes, docentes e servidores da instituição.

Presenças marcantes

Na entrada, a fila apenas crescia. Antes de entrar, era necessário passar por uma revista, considerando o aumento dos casos de violência eleitoral. Beatriz Ruschioni, 19 anos, é estudante de História da USP e chegou cedo para acompanhar o evento. Ela conta que teve que esperar por quase uma hora na fila para a entrada, “mas foi compreensível, considerando o atual ambiente de violência política contra o PT”.

Fora o público, estavam presentes no evento figuras como o vereador Eduardo Suplicy (PT), a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL) e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e candidato à deputado federal, Guilherme Boulos (PSOL).

“É muito emocionante notar principalmente a juventude com tanto ânimo para fazer política. Isso me dá energia para continuar e seguir lutando”, afirma Suplicy em entrevista à ESQUINAS, logo depois de confessar a ansiedade em ver como os estudantes e funcionários da USP receberiam o candidato Lula.

O candidato do PSB ao Senado, o ex-governador Márcio França, também esteve presente, mas não com uma recepção tão calorosa. França, que concorre na coligação entre PT e PSB para as eleições deste ano, foi duas vezes vaiado pelos estudantes. A ausência de Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador e vice na chapa de Lula, também foi notada por estudantes e movimentos sociais presentes.

O caminho até Lula

O evento contou com a presença de três professoras do corpo docente da Universidade. “É preciso refazer o Brasil”, afirma Marilena Chauí, filósofa e escritora, na abertura da aula. “É preciso fazer com que a população compreenda que as coisas vão mudar, mas que o ritmo vai ser lento diante do que vai ser encontrado”, acrescenta.

Logo em seguida, Ermínia Maricato, urbanista e ativista pela reforma urbana no país, cobra dos políticos presentes a inserção da pauta na agenda política nacional: “Houve um processo avassalador de urbanização no Brasil. Mas, de que jeito essa população vive? A maior parte dos domicílios brasileiros é informal: sem Estado, sem mercado formal, sem esgoto. Essa cidade sem Estado é predatória socialmente e ambientalmente”.

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“Comparo a adoção tardia das cotas raciais nas universidades paulistas a tardança do Brasil em abolir a escravidão”, reitera a professora do Instituto de Geociências, Adriana Alves, trazendo para o debate as questões raciais. “Enquanto o mundo inteiro já falava do movimento abolicionista, nós demoramos 50 anos para abolir. Enquanto as universidades federais adotavam as cotas sociorraciais no início dos anos 2000, a USP e a Unicamp só fizeram isso próximo de 2020”.

A coordenadora do coletivo “USP com Lula e Haddad”, Ana Luisa Tibério, diz à ESQUINAS que está ansiosa para dar início a essa campanha eleitoral junto com estudantes, servidores e docentes da USP. “É um movimento histórico o que fazemos. Estamos diante de uma eleição crucial, mas, para além de derrotar o Bolsonaro nas urnas, precisamos derrotá-lo nas ruas.

Antes tarde do que nunca?

Fernando Haddad chega ao palco saudando o ex-presidente: “Como ministro da Educação durante 7 anos, torcia muito pela vinda do Lula à USP. Se por educador a gente entende não aquele apenas que entra na sala de aula para educar, mas aquele que oferece a oportunidade do encontro entre o educador e o educando, nós estamos na presença do maior educador do nosso país”.

“Um operário que não teve a oportunidade de ter educação formal, mas talvez por isso mesmo tenha sido o presidente que mais abriu vagas nas universidades públicas da história do País”, completa.

Lula

Ex-Ministro da Educação, Fernando Haddad (PT) teve uma fala breve sobre os desafios da inclusão na universidade, além de homenagear o ex-presidente Lula.
Luiza Lopes/Revista Esquinas

 

Com o início do discurso previsto para às 17:00, Lula foi encostar no microfone quase às 20h, ao som do coro uníssono de “Olê olê olê olá, Lula, Lula”. Para Beatriz Ruschioni, o ambiente era “uma verdadeira festa pela democracia, com um público muito animado e pessoas comprometidas com a luta política”.

Lula inicia a fala dizendo estar “ariado”, expressão nordestina utilizada pela sua mãe, e questiona o motivo da demora de visitar outra vez a USP, já que fazia 24 anos que o petista não voltava à instituição. Ele afirma que “não tem na história do país presidente que visitou tantas universidades como ele” e que, assim, “a demora não foi por sua causa”.

“É nossa responsabilidade dizer que país a gente quer”, apela ao público o ex-presidente. “Se a gente se omitir, se a gente resolver ficar quieto, o Brasil que vai ressurgir do processo eleitoral vai ser pior do que o Brasil que a gente reclama hoje que existe”, completa.

Lula enfatiza em seu discurso a importância da mobilização da sociedade civil e o engajamento nas eleições que ocorrerão em outubro. “Nós não temos o direito de ficar quietos com a destruição que está em marcha nesse país. Temos que gritar, protestar, e, no dia 2 de outubro, temos que votar. E o voto significa: tirar quem está aí.”

Lula

Ex-presidente Lula (PT) comentou sobre os avanços do PT, a importância das universidades e desafiou Bolsonaro a vir debater com ele na USP.
Luiza Lopes/Revista Esquinas

“Eu lembro que quando eu ia falar que nós tínhamos que fazer universidade, aparecia sempre um Ministro da Fazenda dizendo que não tínhamos dinheiro para gastar, e eu dizia que universidade não era gasto, e sim investimento”.  Ao mesmo tempo que pede para ser convidado mais vezes para visitar a universidade, Lula aproveita para provocar o candidato da oposição. “Bolsonaro poderia vir aqui fazer um debate das eleições. Ele não virá porque não gosta de estudante”, afirma.

Ainda sobre o atual presidente, o petista pontuou que “antes, esse país que era motivo de orgulho em todo continente, virou pário, porque ninguém quer receber o Presidente da República e ninguém quer vir aqui. Todo mundo sabe que tipo de gente está governando este país”.

Provocações a parte, Lula dedicou grande parte da sua fala em tecer comparações entre os indicadores socioeconômicos durante o seu governo (2003-2010) com os de Jair Bolsonaro (PL).

Editado por Anna Casiraghi

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