Quando a sala de aula vira debate político - Revista Esquinas

Quando a sala de aula vira debate político

Por Marina Lourenço : junho 2, 2018

Organizações acadêmicas se juntam para realizar uma conversa com futuros candidatos a deputado estadual de São Paulo

As várias poltronas laranjas do auditório da Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram ocupadas na noite da última terça-feira, 29 de maio, por estudantes buscando informação, participação política e análise crítica. Em meio ao atual cenário político brasileiro, marcado pela complexidade e polarização de opiniões, entidades discentes paulistanas organizaram a segunda edição do projeto Universidade vai às Urnas, em que pré-candidatos governamentais de São Paulo que irão disputar as eleições de outubro de 2018 debatem entre si.

O programa foi criado por onze grupos acadêmicos em 2016, a fim de aproximar o ambiente universitário do mundo político brasileiro. Na época, foi realizada uma discussão, aberta aos alunos de cursos superiores paulistas, entre os interessados em concorrer ao cargo de prefeito da cidade. O jornalista Guilherme Venaglia, de 23 anos, foi um dos criadores desse projeto. Ele atuava como vice-presidente do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, que representa os cursos da Faculdade Cásper Líbero. Ele conta que a meta era fazer com que essas faculdades fossem parte da vanguarda que buscava a volta do protagonismo do movimento estudantil na vida pública.

Universidade vai às urnas foi criado por onze grupos acadêmicos, na tentativa de aproximar a universidade do mundo político brasileiro
Giulia Tartarotti

As entidades estudantis que integram o Universidade vai às Urnas Agora planejam quatro eventos ao longo do ano. Dois deles já foram realizados em 2018: os debates entre os pré-candidatos a deputado federal e estadual. Os próximos ocorrerão no segundo semestre, sendo que a discussão entre os candidatos à senador ainda não tem data marcada, mas o de governador acontecerá no dia 08 de agosto. Neste ano, o programa contém treze grupos discentes de instituições privadas e públicas, que são: o Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Faculdade Cásper Líbero; o Centro Acadêmico 4 de Dezembro e o Diretório Acadêmico Guerreiro Ramos, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); o Centro Acadêmico Getúlio Vargas e o Diretório Acadêmico Getúlio Vargas, da FGV; o Diretório Acadêmico Insper, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper); os Centros Acadêmicos 22 de Agosto e Leão XIII, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); os Centros Acadêmicos 11 de Agosto, Oswaldo Cruz e Visconde de Cairu e o Grêmio Politécnico, da Universidade de São Paulo (USP); e o Centro Acadêmico João Mendes Júnior, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Essas organizações querem colocar políticos frente à frente diante dos universitários. “Temos a preocupação de expor pensamentos divergentes para fazer com que cada estudante possa formar a própria opinião”, diz com entusiasmo João Revoredo, vice-presidente do Centro Acadêmico Leão XVIII. Seguindo essa lógica de raciocínio, a FGV recebeu candidatos ao cargo de deputado estadual paulista. Nilza Camillo (REDE), Isa Penna (PSOL), Gabriel Cassiano (PDT), Daniel José (NOVO), Diogo Soares (PSDB), Carina Vitral (PCdoB), José Américo (PT) e Rafael Auad (PSD) foram ao evento estruturado na terça-feira pelas entidades acadêmicas.

O evento recebeu oito candidatos ao cargo de deputado estadual paulista
Giulia Tartarotti

“A gente está dando uma oportunidade para os alunos questionarem essas pessoas [os candidatos]. Estamos levando a política às universidades como uma tentativa de renovação”, explica Pedro Rabelo, membro e Diretor de Projetos do Grêmio Politécnico.

Julia Duailibi, atual apresentadora do programa Café com Jornal, da Rede Bandeirantes, e colunista de Política da BandNews TV, foi quem mediou o acirrado debate. Os assuntos levantados foram sugeridos pelos organizadores discentes e, por meio de uma plataforma online, pelo próprio público que assistia à mesa-redonda. Investimentos a pesquisas, desemprego, reforma da Previdência, mobilidade urbana, a greve dos caminhoneiros de dez dias no final do mês de maio e cota racial, social e de gênero foram algumas das propostas discutidas naquela noite. Entretanto, por mais sérios fossem as temáticas daquela edição do Universidade vai às Urnas, a mediadora, que é formada por dois dos cursos e faculdades que fazem parte da comissão organizadora do evento – Jornalismo, pela Cásper Líbero, e Administração Pública, pela FGV – não deixou que as polêmicas afetassem a leveza e o bom-humor do debate.

Para Ana Clara Agostinetti, membra e Diretora de Cultura do Diretório Acadêmico Getúlio Vargas, um ponto a ser destacado é a pluralidade de perfis dos estudantes que frequentam o evento. Isso acontece por causa das diferenças entre as faculdades e cursos que participam do Universidade.

Mesmo abordando temas áridos, a mediação não permitiu que o debate perdesse o bom humor
Giulia Tartarotti

De acordo com uma pesquisa realizada em 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a respeito das eleições do Poder Legislativo em 2010, 44% do pleito nacional não se lembra em quem votou para deputado federal, 43% para deputado estadual e 38% para senador. Esses dados demonstram a falta de engajamento político por parte da sociedade brasileira, mas servem como fonte de inspiração para a realização de eventos como o Universidade vai às Urnas. Essa é a visão de Venaglia quanto ao futuro do projeto. “Seria otimista demais dizer que em 2018 esses debates influenciarão os resultados das eleições, mas acredito que esse prestígio será crescente com a realização desses eventos nos próximos anos, transformando o impacto da nossa iniciativa”, comenta o jornalista.