O cenário político de 2018 é desafiador e instigante. Mais de 140 milhões de eleitores devem ir às urnas em outubro deste ano. As estruturas que se mantém no poder irão se esforçar para iludir o brasileiro e criar armadilhas para continuarem a receber estes milhões de votos e, ao invés vez de deixar a política, permanecerem nela para defender somente interesses próprios e privados. Neste ano, o trabalho dos eleitores começa muito antes do momento de pressionar a tecla confirma na urna eletrônica – com os pré-candidatos definidos, cabe a ele pesquisar sobre os candidatos mais íntegros e com propostas mais alinhadas às necessidades do país, levando as informações para outros eleitores, efetivamente transformando o processo eleitoral em uma cadeia de troca de informações sobre nomes dignos de receber votos.
Do lado da imprensa, a cobertura muitas vezes fica restrita às frases de impacto de pré-candidatos e polêmicas relacionadas a declarações sobre costumes e comportamento. É necessária a inclusão das discussões a respeito das reformas que o Brasil precisa: tributária, previdenciária, de segurança urbana e do fim de privilégios. Pode não ser uma pauta atrativa, mas ela é essencial. Tenha certeza: quem foge dela não está preocupado com o Brasil. A não realização destas reformas, aliada à corrupção, definitivamente representam passivos estruturais que têm impacto direto no desenvolvimento econômico e social do país – e o tempo para a solução de muitos destes problemas está ficando escasso.
O desafio não é fácil. Com volumes recordes de dinheiro público para bancar as atividades partidárias e as campanhas políticas – a previsão é de mais de R$ 3 bilhões -, quem está lá vai ter faca e queijo para se reeleger ou eleger cupinchas, deixando a taxa de renovação efetiva de nosso legislativo bem abaixo daquilo que gostaríamos. Em poucas palavras: o recurso que faz falta na segurança, na saúde, e na educação será usado justamente para manter quem o desvia no poder – mesmo que esses não representem o povo.
A estrutura política brasileira e parte das mais altas cortes do judiciário nacional se esforçam para manter na política quem já está há décadas nela. Exemplo disso é a bastante complexa e engessada legislação eleitoral – quem só beneficia quem já está lá. O eleitorado deve ter consciência do quão importante é o voto, assim como a necessidade de pesquisar bem os candidatos para não dar a um réu ou condenado por corrupção uma espécie de “anistia” com o “benefício” do foro privilegiado – mais restrito, mas ainda um indulto para saqueadores dos recursos da população.
Partidos envolvidos em casos escandalosos de corrupção, siglas que formaram quadrilhas em coligações para lesar em mais de R$ 6 bilhões a Petrobrás, como bem apurou a Lava Jato, serão os mais beneficiados pelo Fundo Eleitoral.
O dinheiro será usado de forma panfletária para contar histórias e narrativas de uma perspectiva corrupta, iludindo os cidadãos. As maiores bancadas de Brasília (DF) serão as mais beneficiadas. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) do presidente Michel Temer, que assumiu a presidência após se eleger na chapa dos Partidos dos Trabalhadores (PT) da ex-presidente Dilma Rousseff, partido de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e preso por corrupção, sigla de Sérgio Cabral, ex-governador detido em um presídio de segurança máxima, deve receber a bagatela de R$ 234,2 milhões – cerca de 9% do orçamento do recém-criado Ministério da Segurança Pública!
Em segundo lugar aparece o Partido dos Trabalhadores que, hoje, tem seus principais nomes presos: Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu e Antônio Palocci. O PT de Lula condenado por receber um triplex de propina no país com um alto déficit habitacional vai ganhar da União R$ 212,2 milhões. Já o Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB) do preso Eduardo Azeredo, do investigado e grampeado pela Política Federal Aécio Neves, o partido das investigações relacionadas a formação de cartéis no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), terá à disposição R$ 118,8 milhões para usar no período eleitoral. Os dados do Fundo Eleitoral citados pelo Vem Pra Rua são previsões do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido pelo ministro Luiz Fux.
Ou seja, os partidos mais implicados na Lava Jato e em outros casos de corrupção espalhados de forma sistêmica no Legislativo, nas empresas públicas como a Petrobrás, nas Olimpíadas e em outras ocasiões, são os que mais vão receber dinheiro da população brasileira, que trabalha 156 dias por ano para pagar os impostos que mantém o inflado Estado brasileiro, os benefícios, os penduricalhos e os privilégios dos poderosos – e o Fundo Partidário.
Com tanto recurso público para fazer publicidade, ações de marketing, impulsionamento de informações duvidosas em redes sociais, o eleitor, mais do que nunca, terá que fazer a diferença e buscar informações seguras relativas aos candidatos em que pretende votar.
Uma pesquisa de intenções de votos realizada pela XP Investimentos no mês de maio de 2018 mostra o que o eleitor espera do próximo presidente. A corrupção é considerada um dos maiores problemas para 27% dos entrevistados, seguido por saúde pública (21%), educação (17%), segurança pública (14%) e desemprego (10%). E a necessidade de mudança também é revelada na pesquisa feita pela empresa. Cerca de 48% dos entrevistados têm preferência por um novo presidente, sem histórico político. No entanto, é importante lembrar que o Brasil não permite candidaturas independentes e, mais uma vez, novas formas de fazer política a partir de candidatos da renovação devem ficar distantes no futuro próximo, já que o Fundo Eleitoral privilegia quem já tem mandato e está há anos na política.
O que o Vem Pra Rua espera para o ano de 2018 é uma discussão mais eficiente sobre problemas relevantes que precisam ser resolvidos para que o Brasil possa chegar ao seu potencial, e deixar de ser o país do amanhã – para ser o país do presente. A luta que começou nas ruas em 2015, quando diversas infelicidades eclodiram entre a população já resultaram no impeachment de uma presidente, na prisão de corruptos, na valorização das manifestações pacíficas, na prisão de um ex-presidente da República e, agora, deve colocar o Brasil no rumo do progresso e de melhoras na estrutura Democrática e econômica. E estas mudanças tem um protagonista: você.
* Adelaide Oliveira é líder nacional e porta-voz do movimento político Vem Pra Rua
Este artigo não reflete o posicionamento de ESQUINAS ou da Fundação Cásper Líbero