“Vote com orgulho”: eleição pauta o retorno da Parada do Orgulho LGBT+ - Revista Esquinas

“Vote com orgulho”: eleição pauta o retorno da Parada do Orgulho LGBT+

Por Clarissa Palácio, Gabriel Coca e Luiza Lopes : junho 20, 2022

Foto: Clarissa Palacio/Revista Esquinas

Após paralização devido à pandemia, Parada do Orgulho LGBT+ volta a ocupar Avenida Paulista; políticos, artistas e influenciadores marcaram presença no evento

Após dois anos de edições virtuais, a Avenida Paulista recebeu a 26ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo. Na iminência das eleições, o tema “Vote Com Orgulho” levanta a discussão sobre a responsabilidade de votar e apoiar representantes da comunidade que estejam comprometidos com um Brasil mais justo, igualitário e combativo. 

Além das clássicas bandeiras arco-íris e específicas de cada identidade, marcaram presença cartazes com frases de ordem. “Fora Bolsonaro” e “Marielle Presente” foram dois dos lemas mais proclamados pela multidão que tomou os quase 3 quilômetros de extensão da avenida. “Tem bastante espaço para todo mundo. Eu acho que a importância é a gente conscientizar as pessoas de que a gente existe e a gente tá aqui lutando pelos nossos direitos, pela nossa visibilidade”, afirmou Isabel, historiadora de 26 anos. 

A expectativa para este ano era de 3 milhões de pessoas reunidas em festa na principal avenida da cidade. Matheus, estudante de Ciências Biológicas, contou que está em sua terceira Parada, tendo participado da primeira aos 22 anos. “É muito importante a gente ter esse tipo de movimento aqui na cidade porque mostra que a cidade tem bastante representatividade e precisa que o movimento LGBT crie força para chegar onde ele precisa chegar”, comentou.

Clarisse, administradora de 26 anos que acompanhava o estudante, complementou: “Eu acho que é importantíssimo todo mundo comparecer, todo mundo apoiar, e cada vez fazer o evento maior para que ele tenha cada vez mais visibilidade. É importante a gente mostrar o nosso tamanho”. 

O retorno em um ano de eleição faz com que a Parada do Orgulho de São Paulo ganhe uma potência ainda maior do que naturalmente já teria. Isabel relembrou a importância de votar de forma consciente, procurando candidatos que realmente representem uma sociedade diversa. “As eleições estão aí. A gente tem que votar em alguém que represente a gente e o que a gente é”, declarou a historiadora. 

A Parada também foi marcada pelos tradicionais shows. Sobre os dezenove trios-elétricos, o público pôde conferir diferentes números musicais de artistas brasileiros e membros da comunidade LGBT+ como Liniker, Ludmilla e Pabllo Vittar. Presenças ilustres também estiveram na avenida, como Inês Brasil, Pepita, Gil do Vigor e Mauro Takeda de Souza (filho do quadrinista Maurício de Souza).

lideranças políticas 

O evento contou com a presença de diversos políticos e atores do debate público, como Guilherme Boulos (PSOL), o deputado federal Orlando Silva (PCdoB – SP) e a Secretária Municipal de Relações Internacionais Marta Suplicy. Figuraram também representantes de movimentos sociais e suprapartidários. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), não compareceu ao evento.  

Em discurso, Boulos afirmou esperar que a edição de 2022 seja a última a ter um “presidente genocida, intolerante, LGBTfóbico e preconceituoso” no poder. Para o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), “aqui, nós estamos semeando uma sociedade onde todas as formas de amor e identidades de gênero sejam respeitadas e valorizadas”. 

Marta Suplicy reforçou o tom político da Parada LGBT+. “O voto consciente é para onde nós queremos que o Brasil perdure […] é um momento crucial do nosso país”, afirmou a ex-senadora e prefeita. “Nós estamos no retrocesso civilizatório”, completou Marta.  Já para Orlando Silva, “a Parada é o começo da caminhada que vai até outubro para derrotar Bolsonaro e eleger Lula presidente”.  

todas as ideologias 

Além de lideranças políticas, a Parada foi marcada pela presença de movimentos sociais e sindicatos, como o grupo LGBTQIA+ da CUT e do PT, que participam do evento desde as primeiras edições. O coordenador Marcos Freire, 56, conta que a central sindical nos últimos anos está mais afastada da direção, mas continua marcando presença nas atividades da Parada e da Feira da Diversidade.  

A central atua na promoção dos direitos trabalhistas da população LGBTQIA+, informando, por exemplo, sobre como agir em caso de discriminação no local de trabalho: “A gente distribui panfletos relacionados à questão do trabalho. Nos sindicatos que compõem o coletivo LGBT da CUT, cada um faz o seu material”.

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A edição de 2022 chamou a atenção de Freire pelo fato de que muitas pessoas estavam utilizando adesivos pedindo a volta de Lula à presidência ou o “Fora Bolsonaro”, assim como bandeiras do PT – mesmo de gente que não milita organizadamente dentro do partido ou de organizações de esquerda.  

Ainda que marcada majoritariamente por setores de esquerda, a Parada recebeu também forças de centro-direita e direita. Para o advogado João Ferreira, 25, os valores de liberdade estão acima de ideologias políticas e partidos. Ele estava na Parada representando um movimento suprapartidário formado pelos grupos Livres, UJL e Neoliberais Brasil.  

De acordo com o advogado, o movimento tem como valor a liberdade em suas diversas faces: de amar, de ser quem se é e de empreender. Além disso, Ferreira pontuou à reportagem que a liberdade deve ser um consenso e não só um valor associado à esquerda: “A gente vem não só fazendo várias manifestações e como também participando dos protestos que as pessoas consideram como de esquerda, mas que entendemos que devem ser consensuais, como a Marcha da Maconha e a própria Parada LGBT”.  

por uma religião inclusiva 

O evento contou ainda com diferentes organizações e lideranças religiosas – sobretudo cristãs – que convidam o público LGBT+ a fazer parte e ressignificar os ambientes religiosos. Em conversa com Dayanne Vogue, 36, drag queen e participante da Igreja da Comunidade Metropolitana, ela questionou: “Jesus acolhia todas as pessoas, ele jamais disse: ‘você não’. Por que algumas igrejas fazem isso?”.  

Com a peruca amarela de cabelos longos, adereços coloridos e o sorriso cativante, Dayanne convidava o público ao redor para dançar. “É muito maravilhoso nós estarmos aqui, porque esse é um espaço de luta, igualdade e celebração da diversidade”, disse à reportagem. Vogue reforçou a importância de instituições religiosas no acolhimento à comunidade: “Esse papel da Igreja da Comunidade Metropolitana em São Paulo é algo que toda igreja deveria assumir: o de incluir. Todas as Igrejas deveriam receber, incluir, acolher e abraçar com amor a todos, indiscriminadamente”. 

Para Phillipi Assis da Silva, 32, pastor da Igreja Cristã Contemporânea, todas as igrejas utilizam a mesma Bíblia, mudando-se apenas a interpretações. “A gente entende que os versículos que são usados para acusar os homoafetivos partem de um erro de interpretação e uma defasagem teológica, histórica. Isso é usado por um sistema conservador para excluir pessoas”, afirmou o pastor.  

Josy Corazza, 39, também pastora da Igreja Contemporânea, contou à reportagem sua trajetória até a Igreja Cristã Contemporânea: “Eu já vinha de dez anos de uma igreja tradicional Evangélica, e nela eu ouvia muito que ‘o gay ia pro inferno’. Então eu tentei de várias formas ser liberta dentro daquele conceito que era imposto e desisti. Quando eu conheci a contemporânea, tinha desistido de mim, desistido da vida, mas eu não conseguia ficar sem Jesus. Já faz dez anos que eu pisei a primeira vez na contemporânea e eu não tenho palavras: ouvir que Jesus não te condena é muito emocionante”. 

A pastora mencionou também a “culpa cristã” que muitos devotos cristãos LGBT+ sentem em ambientes religiosos repressivos: “você fica o tempo todo achando que você está endemoniado dentro da igreja, que você é o demônio que foi plantado dentro da igreja apenas por querer ser quem deseja ser”. 

Enquanto os pastores davam a entrevista, um grupo de seguidores da Contemporânea se reuniu em volta. Elaine Muniz, 49, professora, aproveitou o espaço para expressar seu amor e orgulho pelo filho, que é LGBT+. “A gente sempre soube que meu filho era gay, porque isso não tem como esconder. Eu sempre tive e tenho muito orgulho da pessoa que ele é hoje, e estou aqui na Parada pela sua vida”, contou a professora. 

 

Editado por Juliano Galisi

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