"Cinco minutos para salvar quatro vidas”: como funciona a doação de sangue - Revista Esquinas

“Cinco minutos para salvar quatro vidas”: como funciona a doação de sangue

Por Leonardo Caparroz : novembro 25, 2021

A doação é rápida e segura. O sangue coletado é reposto naturalmente pelo organismo. Foto: Acacio Pinheiro/Agência Brasília

Processo ainda tem pouca adesão pela falta de informação sobre. Da entrada à saída do hemocentro, conheça as etapas da doação de sangue

Hoje, dia 25 de novembro, comemora-se o Dia Nacional do Doador de Sangue. A data foi criada para agradecer aos doadores e conscientizar a população acerca da importância da doação. Em todo o País, hemocentros e bancos de sangue realizam campanhas para arrecadar novos voluntários às vésperas dos feriados de fim de ano, época de declínio nos níveis de armazenamento.

Em decorrência da pandemia da covid-19 e o isolamento social, diversos bancos de sangue já passam por uma baixa nos estoques. Em boletim disponibilizado pela fundação Pró-Sangue, responsável por abastecer cerca de cem instituições públicas da rede de saúde do estado de São Paulo, no dia 24 de novembro, quatro dos oito tipos sanguíneos estava em nível crítico de armazenamento; incluindo o sangue O-, doador universal.

Para Paulo Pontes, responsável pelo setor de Captação de Doadores do Banco de Sangue de São José dos Campos, a ausência de informação sobre o assunto ainda é a principal barreira para o crescimento das doações.  Mas a perspectiva na cidade é otimista: “Com o trabalho contínuo de conscientização realizado pelo banco de sangue, focado no diálogo com o doador, na divulgação da doação como um gesto de responsabilidade social, nas palestras e no atendimento, temos conseguido quebrar barreiras”. Mesmo durante a pandemia, o banco da cidade do interior paulista registrou um aumento de 10% no número de doadores.

A doação é um procedimento seguro, em que parte do sangue de uma pessoa é coletado e armazenado para ajudar quem precise. Apesar do constante esforço da área da saúde em informar a respeito da doação, ela ainda é nebulosa para muitos cidadãos, que desconhecem as etapas e requisitos do processo e, por isso, acabam não doando. “Você demora cinco minutos para salvar quatro vidas”, comenta Solange, uma das funcionárias do Banco de Sangue.

Antes de doar

Para doar sangue, é preciso estar em boas condições de saúde. Os potenciais doadores devem ter entre 16 e 69 anos, desde que tenha doado antes dos 60 anos; caso seja menor de idade, deve estar acompanhado de um responsável legal. O candidato deve pesar mais de 50 kg, não estar em jejum e ter dormido por, no mínimo, seis horas no dia anterior. Doar sangue não vicia, não engorda nem emagrece, não provoca coceiras ou alergias e não altera de forma alguma o sangue do doador. Homens podem doar até quatro vezes por ano, com hiato de dois meses entre as doações; já mulheres podem três vezes por ano, com três meses de intervalo.

O processo completo pode demorar mais ou menos, dependendo do tempo com o lanche e do tamanho das filas; a média é de 40 minutos a uma hora. No início, é feito um cadastro com os dados do potencial doador. São registrados dados como o nome, endereço, estado civil e profissão. É importante levar um documento oficial com foto para confirmar sua identidade.

Triagem

Em seguida, conduzidos a uma sala reservada, os candidatos passam pela triagem. Lá, respondem perguntas sobre sua condição de saúde e seus hábitos, a fim de averiguar a segurança de seu sangue. O doador informa sua altura e peso e são feitos testes de anemia e pressão. Não é necessário saber o próprio tipo sanguíneo, pois o laboratório responsável fará a identificação.

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Consumo de bebida alcoólica nas últimas 12 horas, ter realizado transfusão de sangue, tatuagem ou piercing nos últimos doze meses são alguns dos impedimentos temporários a doação. Quem tomou qualquer dose das vacinas contra covid-19 da AstraZeneca/Fiocruz, Pfizer ou Janssen deve esperar uma semana para doar. Já os imunizados com a Coronavac podem aguardar por apenas 48 horas. As demais vacinas são analisadas caso a caso, mas a grande maioria impossibilita a doação por apenas quatro semanas. Medicamentos e outros antecedentes cirúrgicos também são avaliados de forma individual.

Caso o candidato já tenha feito uso de drogas injetáveis ilícitas, tenha alguma doença transmissível pelo sangue (como Aids, Doença de Chagas, Sífilis ou Malária), tenha sido vítima de câncer ou epilepsia ou se submetido a cirurgia cardíaca, neurológica ou bariátrica, ele está impedido de doar definitivamente, uma vez que seu sangue já não é mais seguro a um possível receptor.

Os potenciais doadores são encorajados a não omitirem e a serem honestos em suas respostas. Porém, caso tenham informado algo incorreto ao médico realizador da triagem, é conferida a eles uma chance de informar a qualidade de seu sangue. “O voto de autoexclusão é uma medida adicional de segurança, pois permite uma última oportunidade ao doador de definir confidencialmente na triagem se sua doação é adequada”, afirma Paulo. Independente da resposta do candidato, todos os exames exigidos serão realizados.

A Doação de Sangue

A coleta em si não demora mais de 15 minutos. O ideal é que o doador não vá em jejum, mas, se for o caso, lhe é servido um pequeno lanche. “É importante o candidato ingerir alimentos leves como bolacha de água e sal, torrada ou pão francês com mel ou geleia, frutas, café puro, chá ou suco antes da doação para evitar oscilações da pressão arterial e da frequência cardíaca. Alimentos gordurosos como leite, ovos, frituras e embutidos devem ser evitados até três horas antes da doação porque a gordura presente nesses alimentos pode alterar os exames realizados na doação de sangue”, explica Paulo.

São coletados 450ml de sangue em uma bolsa, além de alguns pequenos tubos para a realização dos exames obrigatórios; uma pessoa adulta tem, em média, cinco litros de sangue, ou seja, o volume coletado não representa nem 10% da quantidade presente no organismo. Todos os materiais utilizados são esterilizados e descartados após o processo.

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A doação é rápida e segura. O sangue coletado é reposto naturalmente pelo organismo. Foto: Acacio Pinheiro/Agência Brasília
Acacio Pinheiro/Agência Brasília

É comum que algumas pessoas passem mal após a doação, apresentando queda de pressão, tontura ou até desmaios. “Quando elas levantam, eu já sei que estão mal. Elas vão ficando pálidas”, conta Solange. Contudo, a probabilidade diminui com atenção às indicações. “Em sua grande maioria, as pessoas que passam mal são aquelas que não seguiram as recomendações”, relata Paulo.

Depois da doação do sangue

Depois da coleta, os doadores são encaminhados a uma sala onde é servido um lanche, a fim de repor as necessidades nutricionais imediatas. Além disso, Paulo reforça a importância da constante ingestão de água, que auxilia o organismo a repor o volume de sangue doado. Após o procedimento, o doador também não deve fumar por duas horas, nem realizar exercícios físicos intensos ou forçar o braço em que fez a punção.

Depois que a doação é feita chega a hora do laboratório realizar sua parte do processo. Eles averiguam o tipo sanguíneo (A, B, AB, O) e o fator Rh (positivo ou negativo), realizam os testes para doenças transmissíveis pelo sangue e separam o conteúdo da bolsa em hemácias, plaquetas, plasma e crioprecipitado. Depois de analisados, os componentes são armazenados de forma segura até que sejam requeridos.

Para quem vai o sangue?

O sangue é um componente essencial à vida, pois carrega as células que permitem a circulação de oxigênio entre os órgãos do corpo, a defesa contra infecções e a coagulação. Pessoas com doenças hematológicas crônicas têm complicações relacionadas a essas funções e dependem de transfusões para viver com mais qualidade. Além delas, os receptores também são pacientes submetidos a cirurgias complexas ou em estado de emergência, que necessitam dele para se manterem vivos. Doar sangue é um ato de solidariedade e é totalmente seguro. Consulte o hemocentro mais próximo e se torne um doador. Alguns minutos do seu dia podem salvar uma vida.

Editado por Julia Queiroz

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